79 - O Pedido de Matthew.

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- Agora não, Matthew. - Eu disse firme.

- Que história é essa dela estar grávida? O que o Ed tem na cabeça...

Matt continuou a falar, mesmo sem que eu respondesse.

- Isso parece provocação, você acabou de perder um filho, ele finge que não foi com ele e agora fala que a Cherry está grávida? A gente nem sabe que tipo de relação eles têm...

- Matt, por favor, eu não quero falar disso. - Eu disse com a voz embargada.

- Você está chorando, babe? - Matt veio até mim, e me virou para ele segurando meu rosto logo em seguida.

Matt me olhou por um instante. Seus olhos castanhos nos meus. A raiva estava esvanecendo do seu rosto aos poucos. Ele continuava a me olhar no fundo dos meus olhos.

- Olha, Júlia, eu sei que essa nem de longe é a melhor situação, eu sei disso. Mas aquele dia, aquele beijo...

- Matthew, para... por favor. Eu não quero falar disso agora, nem conversar, eu só quero ficar sozinha, você poderia sair, por favor?

- Eu não vou sair. - Matt afirmou com a voz grossa - Não é justo o que ele está fazendo com você, te ignorando, deixando você sozinha, o filho de vocês morreu Júlia, MORREU! - Matthew alterou ainda mais a voz.

- Eu sei que a minha filha morreu porque eu tenho meus braços vazios, meus seios doem por não ter um bebê que se alimente do meu leite, meu coração dói porque eu não tenho um bebê depois de sete meses de angústia, eu não preciso de você para me falar isso!

Ali eu desabei. Eu sentei na cama e comecei a chorar. Eu chorava, soluçava e mesmo que eu soubesse que meu choro estava alto, e que isso iria chamar a atenção, eu simplesmente não conseguia parar.

- Júlia, olha para mim - Matt me pediu - Jus, eu sei que dói, okay? Como eu vou te dizer que isso dói em mim também? Eu queria tanto, mais tanto esse bebê... Eu já sentia que ela era parte de mim também. Eu acho que queria esse bebê quase o mesmo tanto  que você queria.

Eu olhei para Matt assim que ele ficou com voz de quem prendia o choro, mas mesmo assim ele continuou:

- Eu não sei como o Ed foi capaz de fazer isso com você mas eu sou diferente dele, eu nunca te machucaria assim, nunca. Mas eu posso te tratar melhor, eu posso  ser melhor do que ele, Júlia, todo esse tempo que a gente passou junto, me fez ver a mulher maravilhosa que você é, me fez enxergar você... Você é forte, é decidida e mesmo quando você chorou, aquilo não foi por fraqueza, foi por ser forte, por aguentar tanta coisa por tempo demais. Você enfrentou tudo com bravura, você enfrentou de frente coisas que muito gente não aguentaria, você enfrentou coisas que o Ed não aguentaria.

Matt, limpou as lágrimas, limpou a garganta e continuou, dessa vez com a voz mais baixa, mais suave.

- Eu achava que amava a Amber. Mas quando a gente começou a passar aquele tempo juntos, não pense que eu não lutei contra meus sentimentos assim que eu percebi o que estava acontecendo, minha mãe me alertando o tempo todo sobre o que ela estava vendo acontecer bem embaixo dos seus olhos, sem poder fazer nada, porque ela me conhece, ela conhece meu coração, e ela via cada dia mais eu deixar você entrar...

- Matt, eu, eu não queria que isso acontecesse, eu nunca quis que você me visse assim...

- Mas eu vi, eu também pensava isso Júlia, que eu te amava mas de todos os outros jeitos, até aquela tarde na qual nós nos beijamos... Depois daquele beijo, depois daquele dia, eu desisti de resistir a você, a esse sentimento tão... Júlia, olha para mim, - Matt segurou as minhas mãos e instintivamente me fez olhar em seus olhos - Foge comigo, vamos embora daqui agora, foge comigo, a gente some por um ano ou dois, a gente vai ficar bem, eu tenho certeza que depois de um tempo, eles vão perdoar a gente...

- Matt, eu sinto muito, não era exatamente você que eu estava beijando, entende? Eu não queria ter beijado você... eu...

- Mas beijou! E se você me der uma chance, uma chance de restaurar tudo o que você tem sofrido, eu sei que a gente pode ser feliz juntos... O nosso beijo...

- Matt para! - Eu gritei, soltando suas mãos das minhas - Eu não queria ter beijado você Matthew, você é meu melhor amigo. Eu te amo, mas não é desse jeito.

Eu me levantei. Estava terminando de arrumar as coisas na bolsa. Queria sair dali a qualquer custo. Aquela casa estava me sufocando de uma maneira que nunca havia feito antes.

- Então, o nosso beijo não significou nada para você?

- Matt, eu estava confusa, eu amo o Ed, eu queria o Ed e...

- Eu sei que você quis aquele beijo, Júlia. Olha para mim - Ele se levantou e veio ao meu encontro, segurando meu rosto entre as suas mãos - olha para mim e me diz... Me diz que você não sentiu nada quando eu te beijei. Me fala!

- Matthew, que droga, esquece aquele beijo!

E foi então que quando Matt caiu, as mãos passando no rosto e subindo para os cabelos, sentando na cama, eu pude avistar o Ed, em pé, apoiado no batente da porta, nos olhando de braços cruzados. Ele me olhou com raiva. Piscou. Olhou para o Matt, que parecia não ter forças para retribuir o olhar, olhou para mim de volta, e saiu deixando a porta aberta.

- Ed! - Eu chamei - Ed volta, aqui, você entendeu errado.

Eu desci atrás do Ed mas ele não estava mais na casa. Cherry pegou as chaves do carro de Im e assim que me viu, pegou na minha mão, me puxando.

- O Ed saiu daqui como uma bala, a gente precisa ir atrás dele.

Imogem estava desesperada. Só conseguiu falar para sairmos logo e ir atrás do Ed, com medo de que acontecesse alguma coisa a ele na longa viagem que era até Londres.

Cherry fez o que ela pediu. Entramos logo no carro e tentamos seguir Ed. Ele estava cinco minutos a nossa frente, porém durante toda a viagem não conseguimos alcançá-lo.

Chegando na casa dele. Vimos ele parado na janela da sala, olhando para a rua, com o olhar distante. Subimos rápido. E então meu celular tocou.

- Tia? - Eu estranhei uma ligação aquela hora. Seria noite no Brasil.

- Oi filha, tudo bem com você? - A voz fina parecia esconder alguma coisa errada.

- É, eu estou e vocês?

- Nós não estamos muito bem não, filha. Eu sei que não é a melhor hora, mas é uma coisa que não tem como adiar. - Ela fez uma pausa.

Eu gelei. Continuei a subir as escadas da garagem que levavam para dentro da casa, mas meu ritmo diminuiu. Meu coração acelerou.

- A vovó, ela estava com uma dor na barriga há alguns dias, nós levamos ela ao médico, mas ela vinha ficando fraca, nenhum médico descobria o que ela tinha... Na terça ela foi internada, nós nos revezamos para ficar com ela, mas hoje acabou e ela desencarnou.

Meu mundo rodou, eu soltei a bolsa e subi praticamente me arrastando. Sentei no sofá, Ed continuava de costas para a janela.

- Ed, a minha avó morreu.



Photograph - Amores Imperfeitos [Ed Sheeran]Onde histórias criam vida. Descubra agora