O Aquarius já tinha zarpado fazia quinze minutos, um alívio instalou-se por constatar que não fora apanhada e que podia safar-se, mas os seus pais... O que terá sido feito deles? Será que fugiram? Foram apanhados? Ou pior... Nem queria imaginar. Sem se aperceber uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto mas Fiona não a secou, cada fibra do seu ser contorcia-se em preocupação e angustia por não estar aqui com os seus pais.O que era feito deles era um mistério.
O céu noturno estava estrelado, pontos brilhantes espalhados pelo céu davam uma beleza indescritível à paisagem noturna. Uma brisa balançava os cabelos negros e cacheados de Fiona enquanto esta estava apoiada na grade do navio a fitar o mar mediterrâneo.
Estava distraída que nem percebeu quando alguém se aproximou da grade.
- Não estás com muita boa cara.
Fiona voltou-se para a pessoa ao seu lado e forçou um sorriso.
- Não é nada de mais.
Doug virou-se de frente para Fiona e olhou-a atentamente sem dizer nada.
- Não parece não ser nada. Queres falar?
Fiona fitou Doug e sorriu. Precisava de desabafar e a pessoa ideal era Doug.
- Sim, preciso mesmo de deitar tudo cá para fora. - suspirou procurando forças para falar - Bem... Então é assim... - começou fitando novamente o mar. - A minha família era pobre, os meus pais mesmo com bens escassos sempre se esforçaram para dar-me tudo o que eu precisava. Ainda nova, com doze anos, comecei a trabalhar como empregada de limpeza na casa dos ricos como costumo dizer, não pagavam muito mas era o suficiente para sobreviver se juntasse o ordenado do meu pai.
Doug fitava-a atentamente sem a interromper.
- As pessoas em Sevilha conheciam-nos muito bem, a mim em especial, eu era conhecida como la bella sevillana por adorar dançar as sevilhanas...
- Tu danças? - perguntou Doug curioso.
- Sim, é aquilo que mais adoro fazer. - disse Fiona sorrindo. - Mas nunca pude dedicar-me a isso pois tinha que trabalhar. Mas um dia tudo mudou.
Suspirou.
- Um dia o meu pai começou a atrasar-se no pagamento dos impostos ao rei, depois soubemos que eles estavam atrás de nós e fugimos de madrugada, ontem. Passamos a noite em casa da minha tia Mercedes e depois do almoço continuamos o caminho até que... Um quilómetro antes de chegar ao porto os homens que nos perseguiam começaram a aproximar-se, então o meu pai pediu para eu agarrar no cavalo e sair dali.
Parou para controlar os soluços do choro.
- Continua. Tu consegues. - disse Doug segurando carinhosamente nos braços de Fiona enquanto esta segurava as lágrimas. Fiona abraçou Doug e apertou-o com força.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Rainha Camponesa
Ficção HistóricaA revolução do coração já começou. O medo da morte e o desejo proteger a família valem qualquer risco. Era com este pensamento que Esteban Rodríguez decidiu que a melhor coisa a se fazer naquele momento crítico pelo qual passavam, era fugir...