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— Preparei um lanchinho pra viagem. — Minha mãe avisa quando Thomas e eu descemos as escadas. Ele está carregando as duas malas grandes para mim.

Ronan, o novo namorado dela, salta da cadeira e corre para ajudar Thomas com o peso. As mechas grisalhas no cabelo curto e as rugas nos cantos dos olhos denunciam que ele já está na casa dos cinquenta, o que são uns 10 anos a mais do que a minha mãe. Eu não tive a oportunidade de conhecê-lo tão bem quanto gostaria, mas sei que ele faz dona Elizabeth feliz e é prestativo, então respeito o cara.

— Valeu! — Thomas agradece, cedendo uma das malas para Ronan.

Minha mãe vem da cozinha em nossa direção.

— Esse é pra aniversariante. —Ela me entrega o primeiro embrulho metálico, e o segundo é um presente para o meu namorado. — E o seu é maior, porque a sua viagem é muito mais longa.

— Por isso eu amo minha sogra! — Thomas ri, aceitando o sanduíche de bom grado. — Obrigado, Liza.

Ela rejeita a gratidão com um gesto. A verdade é que minha mãe adora o Thomas demais, então é como se estivesse perdendo dois filhos de uma vez porque, logo depois de me deixar no alojamento em Los Angeles, Thomas vai pegar um voo para o lado oposto do país.

— Escuta... — Minha mãe me encara. — O seu pai ligou pra mim, acho que ele cansou de tentar falar com você.

— Mãe... — resmungo.

— Eu sei que você ainda está magoada, mas ele está tentando consertar as coisas. Você sabe que pode existir ex-marido, mas não existe ex-pai, Julie. Ele ainda é seu pai.

Solto uma lufada de ar, inflando as bochechas.

— Arruma um tempinho pra ligar pra ele —pede.

— Vou tentar. Não prometo.

Minha mãe ri e sacode a cabeça.

— Você é muito cabeça dura — ela fala. — Parece até com ele.

Okaaay... Agora precisamos ir. — Dou um beijo estalado na bochecha da minha mãe. — Não vou querer fazer o Thomas perder o voo.

— Tem razão, tem razão. Eu estou me estendendo demais. Vem cá. — Seu abraço apertado faz meu corpo sacudir de um lado para o outro, então ela me encara. — Boa viagem, filha! Ah! E lembre-se das regras: Nada de substituir refeições por macarrão instantâneo, nada de andar sozinha durante a noite e nada de passar a noite fora de casa.

— Só tem um problema com as suas regras mãe — observo, rindo um pouco. — Se eu estiver na rua e anoitecer... eu não posso voltar andando sozinha e nem passar a noite fora de casa, então faço o que?

— Não se faça de sonsa mocinha! — fala repreensiva e ergue o dedo indicador. — Você me entendeu! E tem mais: Nada de festas, nada de drogas, e nada de exagerar com as bebidas.

Começo a empurrar Thomas em direção a porta, enquanto minha mãe continua suas recomendações infinitas.

— Tome bastante água! — ela grita quando já estou do lado de fora. — Três litros por dia!

— Quem toma três litros de água por dia, mãe?

— É a recomendação da O.M.S! E use protetor solar!

— Tá bom! Tá bom! — Entro no carro e ligo o som antes que dona Elizabeth acrescente mais alguma recomendação absurda.

Sem ceder, ela fica parada na calçada, assistindo enquanto Thomas e Ronan carregam as malas no bagageiro. Depois que meu namorado senta no banco no motorista, ele buzina em despedida e nós partimos para pegar estrada. Eu rio comigo mesma, acho que eu vou sentir falta de ter alguém cuidando de mim desse jeito.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora