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Ele encara por cima dos ombros e, quando se depara com o mesmo que eu, revira os olhos e se afasta para puxar a persiana branca.

— Pronto, não vai mais incomodar. — Com um sorriso torto, apoia a mão em minha coxa. — Onde estávamos?

O corpo seminu marcado de arranhões, o rosto tomado de rubor, o cabelo bagunçado, Pedro Loth é a imagem da perfeição, mas um fiapo de consciência não consegue se desligar da pessoa que estava nos observando do outro prédio.

— Que merda era aquilo lá fora? —insisto.

— Paparazzi. — Ele sacode os ombros. — Eu não sei como eles conseguem acesso aos prédios vizinhos pra fotografar meu apartamento.

Simples assim e a realidade me atinge com um golpe forte. Por mais surreal que esse momento pareça, não é um sonho, está acontecendo de verdade, e tem pessoas de verdade que vão se machucar de verdade se essas fotos vierem a público.

Droga! É hipócrita pensar no Thomas a essa altura, mas, por mais furiosa e magoada que eu possa estar com ele, eu jamais faria algo desse tipo para deliberadamente machucá-lo.

— Tá dizendo que esse tempo todo tinha um homem lá fora fotografando a gente? — Arregalo os olhos.

De repente Pedro está perto demais, quase sufocante, então eu o empurro e salto para fora do balcão. Distância segura, penso. Pedro é uma droga viciante. O ar que exala dos seus pulmões compromete e minha capacidade de raciocinar. Tudo o que aconteceu aqui só pode ter sido isso: fruto de uma desestabilidade mental momentânea.

— Não o tempo todo. Eu não sei há quanto tempo ele estava ali. — Caminho de um lado para o outro, irrequieta. — Relaxa! Não é como se a gente estivesse sem roupa lá fora.

Pedro se aproxima, tocando meu braço de um jeito que até tenta ser carinhoso, mas isso não está funcionando agora.

— Só me larga, Pedro!

Chacoalho o braço e sigo rapidamente para a escada, ouço os passos de Pedro seguindo no meu encalço, mas não me viro para encará-lo. Apenas atravesso a sala em passos rápidos, e aperto o botão prateado para chamar o elevador.

— Se acalma, tiete! Você não pode ir assim!

— Quem vai impedir? — Aperto o botão repetidas vezes como se isso fosse fazer o elevador subir mais rápido.

— Eu não vou te impedir, se quiser ir. — Nesse instante as portas de aço se abrem e eu salto pra dentro do amplo elevador panorâmico.

— Eu quero ir. — Aperto o "zero", mas Pedro se coloca no caminho da porta.

— Só me escuta, tá bom? — Eu o encaro sem disfarçar a impaciência estampada no olhar.

— Fala logo. — Cruzo os braços. — Eu não tenho todo tempo do mundo.

— Só olha lá fora... — diz, e eu olho. A pequena aglomeração na porta do prédio não estava ali quando eu cheguei. — Aquele paparazzo passou um rádio pros amigos dele, e agora eles estão em campana aí na porta para descobrir quem é a garota comigo no terraço. Se você quiser descer e encarar os urubus te fazendo um monte de perguntas e jogando flashes na sua cara, vai lá, mas não diga que eu não avisei.

— E o que você sugere? Passar a noite aqui com você?

— Não seria má ideia.

Reviro os olhos.

— Não vai rolar, Pedro. — Aperto o botão "zero" outra vez.

— Só tô brincando com você, tiete. — Ele sacode a cabeça, rindo. — Eu te tiro de carro pelo subsolo.

Antes que eu possa responder, Pedro salta para dentro e as portas se fecham, prendendo nós dois nesse espaço que não costumava me parecer tão pequeno. Eu cruzo os braços na frente do corpo e fico encarando as unhas, o que é, sem dúvida alguma, mais seguro do que olhar para o peito arranhado e o rosto bonito ainda marcado do meu batom.

— Eu acho que você tá brava comigo, mas eu não coloquei aquele paparazzo lá, Julie. Seja adulta e lide com as consequências dos próprios atos.

O sangue sobe para o meu rosto.

— Você quer que eu lide com as consequências dos meus atos, Pedro? — pergunto em tom de desafio e resolvo encará-lo. Ele assente em um sinal de cabeça. — Então comece lidando com as consequências dos seus e limpa essa cara que você está todo sujo de batom.

— Aqui? — ele pergunta esfregando o punho sobre o canto dos lábios.

Um riso curto escapa entre os meus lábios, e eu me aproximo.

— Deixa que eu faço isso. — Esfrego o polegar na bochecha, em seguida no pescoço, apagando as evidências dos beijos que eu deixei ali.

— Viu? — Ele abre um sorriso vitorioso. — Não é tão difícil assim ser legal comigo, ou é?

Não Pedro, pelo contrário, difícil é ficar longe de você, e é por isso que eu tenho que tentar com ainda mais garra. E eu juro que é exatamente o que eu estaria fazendo, se ele não agarrasse minha cintura e me puxasse para perto.

— Você não está tornando isso mais fácil

Com os rostos quase colados, seria praticamente impossível resistir a um beijo de Pedro, o que apenas atesta a minha teoria de que existe algum tipo de droga alucinógena no ar que ele expira, o mesmo ar que eu inspiro sem hesitar deliciando-me com o aroma inebriante de cigarro impregnado em seu hálito.

— A sua boca está dizendo uma coisa, mas o seu corpo está falando o contrário.

Sinto o nariz deslizar suavemente no meu pescoço, me fazendo estremecer. Antes que o corpo inteiro se renda, a porta de aço abre atrás de suas costas. Eu o empurro pra fora, bem a tempo de conseguir respirar.

Como alguém comentou no outro capítulo, e eu aqui reproduzo: o Thomas deve estar mugindo a essa altura

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Como alguém comentou no outro capítulo, e eu aqui reproduzo: o Thomas deve estar mugindo a essa altura. Enfim, verdades dolorosas. 

Vocês estão comemorando o beijo? Ou preocupadas que o chifre do Thomas machuque alguém sem querer?


Votem bastante pra eu trazer mais Pedrulie amanhã!

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora