Ao ver a baía de Santa Mônica se aproximando, o meu estômago vira do avesso. Aquela desculpa da dor de barriga já não seria uma mentira total a essa altura.
Embarcações de luxo preenchem o corredor de oceano entre os prédios. Kyle estaciona a Mercedes junto ao meio-fio, e eu respiro fundo, sem coragem de saltar para fora. Quanto mais real esse momento se torna, mais eu me arrependo de ter concordado com essa ideia estúpida em primeiro plano.
— Você não vem? — Beatrice pergunta logo depois de descer.
Eu sugo o lado de dentro das bochechas, não tenho muita alternativa.
— Vamos acabar logo com isso — digo desprendendo o cinto de segurança.
O sol do meio dia arde na pele, mas uma brisa refrescante sopra do mar, trazendo um cheiro inconfundível de cigarro. É quando eu vejo ele, descendo do barco pela popa.
Pedro tem um sorriso nos lábios e um cigarro aceso entre os dentes. Chega a ser desonesto que esteja sem camisa, exibindo todas as novas tatuagens em seu corpo esguio. Os fios pretos estão molhados e despenteados.
Alguém devia apresentar esse cara a um pente, assim ele não passaria noventa por cento do tempo parecendo alguém que acabou de sair do quarto depois de uma transa.
Quer dizer... ele não acabou de transar com alguém de verdade. Ou acabou?
— Tiete! — Pedro lança uma piscadela com aquele sorriso petulante de vitória estampado do rosto, e então olha para o Kyle. — Eu disse que ela viria! Da próxima vez é melhor me dar um pouco mais de crédito. Me deve milzinho.
— MIL DÓLARES? — Engasgo.
— É o valor que apostamos na sua cabeça. — Kyle ri, sacando um maço gordo de dinheiro do bolso.
— Longe de mim querer te dar um preço — meu ex acrescenta, sacudindo as notas verdinhas que Kyle lhe estende. — Mas sabe como é, jogo é jogo.
Eu viro os olhos e encaro Kyle.
— Eu teria concordado em não aparecer por só metade disso.
Meu amigo ri.
— Tarde demais.
— Não sabia que você era tão trapaceira — Pedro me provoca.
— Quem fala — revido.
Ele ri e então joga o cigarro no chão e amassa sob a sola do tênis de marca.
— Bora lá. — Ele sinaliza com a cabeça. — Já tá todo mundo esperando.
Checo a estabilidade da plataforma antes de pisar. O iate é tão grande quanto à casa que eu morava em Santa Bárbara, ou maior, e muito mais sofisticada.
A sala de estar é ampla e clara, com um grande sofá cinza em forma de "L". Nada de roupas sujas e discos antigos espalhados pelo chão, agora ele tem uma tripulação inteira para manter as roupas lavadas e o assoalho brilhando como um espelho.
— Vocês podem deixar as coisas no quarto. — Pedro mostra o caminho e abre a porta para a suíte pequena com duas beliches. — Quando estiverem prontas, a festa é lá em cima.
Ele pisca e então nos deixa a sós. Essa piscada foi para mim, Pedro? Ou você está descaradamente flertando com a minha amiga na minha frente? Talvez só esteja atirando para todos os lados.
— Okay, eu primeiro! — Beatrice fecha a porta, em êxtase. — Esse lugar parece aquelas casas chiques de revista!
— Sério? Você reparou mesmo na decoração? — Sarah se surpreende.
— E você não? — Coloco a bolsa no beliche de baixo.
— Eu estava ocupada olhando o Kyle Molina! — Ela se abana. — Você viu os braços daquele homem? Acho que ele poderia levantar uma de mim em cada lado sem fazer esforço.
— Ele está bem gato — admito porque é verdade, e porque o Pedro achou a Sarah gata, então eu tenho todo direito do mundo de reparar nos dotes do melhor amigo dele.
— O Pedro também não é de se jogar fora.
Eu rio. "Não é de se jogar fora" é a última expressão do mundo que eu usaria para descrever a aparência de Pedro. Meu ex pode não ter músculos tão proeminentes quanto Kyle, mas nem precisa deles. Seu olhar é como uma hipnose.
— Há um tempinho você disse que ele era "praticamente um umidificador de calcinhas" — relembro.
— Meu posicionamento sobre isso não mudou. — Sarah garante, checando o próprio reflexo no espelho ao tirar a camiseta. O biquíni preto cortininha favorece os seus seios, fazendo-os parecem maiores do que realmente são. — Mas deus que me livre de invadir o seu território.
— O Pedro não é "meu território"! — Garanto.
— Amiga, sabe que eu te amo, mas vai ter que se esforçar um pouco mais se espera que alguém acredite nesse teatro. — Ela joga a blusa na cama e sua mão pousa na maçaneta. — Agora, se me derem licença, eu estou em um iate de luxo e tem um cara gostoso e famoso lá fora que claramente está afim de transar comigo. Essa conversa pode esperar mais umas horinhas.
— Ela é sempre desse jeito? — Bea me pergunta depois que Sarah vai.
Eu dou risada.
— Quando conheci ela já era meio doidinha — admito. — Mas você acaba se acostumando.
— Ela é legal — conclui. — Então você vai ficar no quarto o dia todo? Porque eu não vejo a hora de pegar um sol e ver se melhoro um pouco essa minha palidez do Michigan.
Nós duas rimos juntas.
— Pode subir — falo. — Eu já te encontro lá. Preciso trocar o biquíni primeiro.
— Mesmo? — Assinto. — Boa sorte!
Veio aí o último capítulo dessa semana.
Pausa para um pequeno desabafo da autora. A primeira publicação dessa história (o livro 2) foi simultaneamente o melhor e o pior momento da minha carreira de escritora. Eu não estava acostumada a receber tanto carinho com meus personagens, mas definitivamente não estava pronta pra receber tanto hate também.
Reconstruir essa experiência e apagar um pouco do gosto ruim que ficou da última publicação está sendo fantástico. Obrigada a todos vocês que estão por aqui acompanhando pela primeira, segunda, terceira vez. ❤️
✨ Volto na segunda se vocês n esquecerem de votar ✨
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Ninguém mais que nós dois
ChickLitAo abrir mão de sua vida pacata para trabalhar e cursar faculdade, a aspirante a jornalista Julie Affonse irá descobrir que, na frenética Los Angeles, nem tudo será tão fácil quanto esperava. Mas, de todas as coisas que poderiam dar errado, ela não...