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Algo na atmosfera que emana do seu corpo faz o meu se arrepiar.

— O Ian disse que você tinha que dar uma olhada nessas músicas. — Eu estendo o Pen Drive, e nossos dedos se tocam brevemente quando ele troca de mãos. — Algo sobre escolher uma faixa do seu álbum novo pra apresentar no Holi festival.

— Vou escutar mais tarde. — Ele deixa o pen drive de lado.

Leva a bebida até os lábios e eu assisto pelo canto dos olhos enquanto ele deglute alguns goles, em seguida ele a empurra em minha direção. Seguro a garrafa gelada e encaro o rótulo por alguns instantes, surpresa por não ser um uísque de trinta anos ou algo do tipo.

— Cerveja, Pedro Lucas? — Franzo o cenho.

— Credo. — Ele me encara. — O que eu fiz pra me chamar desse jeito?

— É o seu nome. — Rio. — E o que eu fiz pra você me chamar de tiete?

— Eu sempre te chamei desse jeito. — Ele sacode os ombros e desvia os olhos para o pôr do sol, eu faço o mesmo.

— Agora que tem milhões de garotas pra chamar de tiete, bem que podia me dar um tempo.

Pedro ri e dá um trago longo no cigarro.

Nah... Elas são apenas fãs, você é minha tiete.

— Cala a boca! — Eu colido o ombro no dele, e instantaneamente me arrependo: isso está ficando confortável demais. Não devia ser confortável demais ficar perto dele.

— Diz aí... Qual o problema com a cerveja? — Posso sentir o par de olhos verdes em mim. — Pensei que tinha dito que era o que tomava.

— Problema nenhum, na verdade. — Tomo um gole. — Eu é que pensei que você só bebia uísques envelhecidos ou sei lá que tipo de bebida extravagante prefere tomar agora que ficou milionário.

— Me acha extravagante? — Ele arqueia a sobrancelha e ri. Ergo os ombros. — Só tenho grana e uso ela. Qual seria o sentido de não usar? Mas, se quer saber, a maior parte das coisas que eu gosto são baratas.

— Tá bom. — Rio. — Disse o cara que mora em uma cobertura no bairro mais nobre de Los Angeles e passa os finais de semana navegando em um iate particular.

Ele meneia a cabeça.

— Dinheiro é bom, eu não vou dizer que não. Mas as melhores coisas da vida são de graça.

— Sério? Tipo o que? — Meu olhar é um desafio.

— Tipo, eu gosto de música, de cerveja, de assistir o por do sol enquanto escrevo... e... porra, Julie, eu gosto de você. — Desvio os olhos para as mãos com o rosto ruborizado. Ele não tem o direito de me dizer essas coisas. De me fazer sentir todas essas coisas. — Eu sei que você acha que eu não amava você naquela época, mas tá errada. — Meu coração bate em galopes. Não que eu tenha esperado todos esses anos por uma explicação e um pedido de desculpa, mas não posso negar que as palavras mexem comigo. — Eu errei, mas eu te amava bem mais, Julie.

— Não fala isso, Pedro.

— É sério. Tanto que você seguiu em frente uns meses depois, mas eu nunca consegui sentir por outra pessoa o que eu sentia por você.

Pedro tem um talento inestimável com as palavras. Foi o que o deixou famoso. Foi o que me trouxe aqui, mas é tão fácil pra ele dizer as coisas, como quando disse "ninguém mais que você". Eu já não sou a garota que acreditou. Aposto que ele diz a mesma coisa pra Lily Adams. Aposto que consegue fazê-la se sentir especial, exatamente desse jeito.

— E a sua namorada?

— Namorada? — ele arregala os olhos. — Ainda tá falando da Lily? Quantas vezes eu tenho que dizer que não é desse jeito. Eu sei que a Lily é uma mulher atraente e poderosa, qualquer cara do mundo teria sorte de levar ela pra jantar, mas a Lily nem é meu tipo, Julie. E acho que eu também não sou o tipo dela. A gente só se beija quando tem uma câmera perto pra fotografar. É um espetáculo para os fãs verem.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora