Ninguém mais que nós dois

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Só subo para o convés outra vez depois que o barco está ancorado e o enjoo melhora. Eu lavei meu cabelo na pia e passei um antisséptico na boca, mas claro que não usei a escova de dente ou a ducha do Pedro. Não vamos ter essa intimidade.

Apenas o azul da água e do céu cercam o iate de luxo por todos os lados. A música deve ecoar por quilômetros nessa ampla imensidão de oceano vazio. A brisa úmida colide com a minha pele de um jeito agradável ao subir as escadas.

A primeira pessoa que meus olhos encontram é o Pedro. Ele está recostado no parapeito, fumando e conversando com Kyle, ambos exibindo seus corpos masculinos quase sem roupa. Mesmo que Kai seja o mais bem esculpido de academia, o corpo de Pedro é o que prende a minha atenção por mais tempo, tentando desvendar cada uma das novas tatuagens.

Não é à toa que os dois parecem estar olhando e falando sobre Sarah. Minha amiga está alegre de bebida, rebolando a bunda de biquíni ao ritmo do som. A pele negra reluz sob o sol escaldante.

— Onde você se meteu? — pergunto, puxando minha amiga de lado.

— Onde você se meteu? — Sarah rebate, pegando um copo de bebida vermelho que deixou sobre a mesa. — Eu chequei nosso quarto, e você não estava.

— Eu passei mal — justifico.

— Ã-hã... — O riso da minha amiga parece desconfiado, virando o copo entre os lábios e desviando o olhar para Pedro e o Kyle.

— É sério!

— Eu não disse nada. — Ela ergue as mãos. — Mas, vem cá... a Beatrice com essa cara de santinha, não perde tempo também, hein?

Viro a cabeça, e então eu percebo que a minha outra amiga está de amasso na banheira com o guitarrista. Muito discreto, Beatrice, muito discreto.

— Ei, meninas! — É Kyle quem grita, e nós duas viramos para olhar. — A gente vai pular no mar, bora?

Sarah se anima, mas eu faço que não muito rápido. Sem chance de eu me atirar no meio do oceano.

— Deixa de ser corta-barato, tiete.

Eu mostro o dedo do meio. Ele ri.

— Preciso mesmo me molhar, tá quente demais aqui. — Sarah mata a bebida e se abana, sua voz recheada de segundas intenções e malícia. — Você não vem, Ju?

— Vou ficar só olhando, obrigada. — Pressiono os lábios.

Sarah não insiste, está mais interessada em colocar as mãos no corpo musculoso de Kyle. Ele a ajuda a subir no parapeito cromado, e os dois ficam se equilibrando na borda do barco.

— Pronta?

— Pronta. — Sarah confirma.

Então eles saltam juntos, e eu ouço um grito de "wuuuuaa" instantes antes de os corpos imergirem na água.

— E aí, como vai ser? — Pedro está me encarando com um sorriso travesso.

— O que?

— Qual é...? Você costumava gostar de se divertir.

— Estou me divertindo um bocado — minto, comprimindo os dedos no copo de plástico.

— Não parece. Então como vai ser? — Ele insiste, se aproximando de maneira suspeita. — Vai pular por livre espontânea vontade... ou à força?

Prevendo o seu próximo movimento, eu me mexo na intenção de fugir para as escadas, mas Pedro age ainda mais rápido e consegue me agarrar pelas costas. Pele com pele, sinto o peito dele fervendo, sua mão em torno da minha cintura, meu coração dispara no peito. Tudo que consigo fazer é sacodir as pernas em protesto enquanto Pedro me carrega para a beirada.