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— Algum problema com o nosso cliente especial dessa noite, Jussara?

Eu dou um pulo. Tão absorta em pensamentos, nem reparei quando Chefe Bertrand me seguiu feito uma sombra até a adega do restaurante. Meu coração está disparado.

— Não. Nenhum. — Pego a garrafa de Jack Daniels e chacoalho um pouquinho para exibir. — Ele gosta de bebidas fortes.

— Um homem de muito bom gosto. — Adrien sorri de um jeito malicioso.

A adega é pequena. Não foi feita para comportar duas pessoas. Quando ele se aproxima, eu dou um passo para trás de súbito e bato com as costas na prateleira. As garrafas tintilam, mas não chegam a despencar. Ainda bem.

— Devia tomar mais cuidado, meu bem. Eu detestaria ter que dispensar uma funcionária como você. Quem diria? Tão gostosinha que está até fidelizando clientes. — A minha única reação é ficar paralisada. Não consigo reagir ou dizer nada. — É melhor você ir logo. Não vamos querer deixar o senhor Loth esperando.

Eu engulo em seco e assinto, me apressando para fora da adega. Passo rápido por Bertrand, mas a passagem é estreita e os nossos corpos se esbarram. Eu tenho a sensação de que ele colocou a mão em mim de propósito.

Eu pensei que atender Pedro Loth seria o ponto mais baixo do meu dia, mas os olhos verdes encontram os meus quando volto ao pátio e tudo que eu consigo sentir é alívio.

— Tudo bem? — Meu ex apaga o cigarro no prato e sopra a fumaça. — Você parece pálida.

— Ã-hã. Tudo bem. — Minto.

A garrafa treme em minha mão, derrubando a bebida alcóolica por toda a mesa de madeira menos no copo dele.

— Não é o que parece. Deixa eu te ajudar com isso.

Sua mão envolve a garrafa de uísque por sobre a minha. Eu deveria me retesar ao contato, mas não consigo. Não consigo fazer nada, então ele só solta depois que o uísque está servido em seu copo e a garrafa na mesa.

— Senta um pouco — Pedro manda.

— Eu... — Espio por sobre os ombros. Adrien Bertrand está me observando recostado no bar. — Desculpa. Eu não posso.

Agora eu estou pedindo " desculpa" para ele. Isso só piora.

— Deixa eu adivinhar... o barbudo mal encarado cujo rosto eu tenho quase certeza que já vi num programa de televisão é o seu chefe? — Assinto. — A gente pode combinar um código secreto, tipo, pisca uma vez se precisar de ajuda... Espera! Você piscou? Ou só estava piscando mesmo?

Deixo um riso escapar, amaldiçoando Pedro mentalmente por conseguir demolir a muralha tão facilmente. Ao menos o seu bom humor me deixa um pouco mais calma.

— Tá tudo bem, juro.

— Senta aí — ele insiste.

Sei que não deveria, mas aceito o convite porque as minhas pernas ainda estão meio bambas. Pedro leva o copo até os lábios com os olhos cravados em mim.

— Se você não parar de piscar imediatamente, eu vou ter que agir a respeito. — Ele ri.

— Sério? Vai fazer o que super-homem? — Estou sendo irônica. — Me levar voando para longe com sua capa mágica super legal?

— Bom, talvez. Ou eu poderia só chamar meu helicóptero super legal.

Reviro os olhos. Essa é a parte em que Pedro esfrega o dinheiro dele na minha cara numa tentativa de impressionar.

— Se for tão precário quanto aquele ônibus de turnê, eu fico mais segura em terra firme mesmo, obrigada.

— Aquele ônibus de turnê... — Pedro sorri, sendo tomado pelas memórias. — Não posso reclamar. Se não fosse por ele, eu teria dormido na rua um bom tempo.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora