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Com uma semana inteira de experiência, já me sinto muito mais confiante. Chego ao trabalho mais preparada: os cabelos bem presos, o uniforme passado. Dou um "boa noite" baixo ao entrar no restaurante, mas, antes mesmo de me situar, Adrien Bertrand surge na porta de seu escritório e me faz um sinal para entrar. Engulo em seco. Justo quando eu pensei que estava indo bem.

— Júlia, acho que precisamos dar uma palavrinha.

Contenho o revirar de olhos e apenas assinto o mais educadamente possível. Adentro na sala revestida em madeira escura e Adrien fecha a porta.

— Sente-se, por gentileza.

Algo na atmosfera da sala dele me deixa desconfortável, mas eu obedeço. Com cautela, me ajeito na cadeira de couro preto e apoio as mãos nos joelhos. Bertrand se apoia na mesa de carvalho, ficando de frente para mim. Tenho certeza de que estou encrencada.

— Algum problema? — Pergunto, a minha voz sai mais aguda do que o normal. Comprimo os dedos para que as mãos não fiquem tremendo.

— Problema? — Adrien ri. — Problema!? Bom, eu não sei. Eu recebi uma ligação muito interessante essa manhã. Imagina o que Pedro Loth poderia querer conversar comigo?

Meu coração dá um salto inesperado.

— Pe-pe-pedro Loth? — Tento forçar a indiferença.

— Pode imaginar que eu também fiquei surpreso, mas ele esteve aqui na semana passada. Você atendeu a mesa dele, não atendeu? — Tudo que consigo fazer é assentir. — Parece que ele gostou muito do atendimento.

A última parte vem com um tom sugestivo. Eu pigarreio, me mexendo discretamente na cadeira numa tentativa de disfarçar o incomodo.

— Eu só segui o roteiro.

— Bom, bom... — Ele tamborila os dedos na madeira com um sorriso malicioso. — Sendo assim... devo imaginar que a qualidade do vinho seja o motivo pelo qual ele fez tanta questão de conseguir uma mesa para essa noite, não?

— O Pedro... — Posso sentir os batimentos se acelerando.

— Vamos colocar isso em pratos limpos: o senhor Loth pareceu especialmente interessado em você e não nos vinhos, Juliana.

— Eu não faço ideia do motivo — minto. Estou em defensiva.

— É fácil adivinhar. — Adrien coça a barba, os olhos correm pelo meu corpo de um jeito indiscreto. — O ponto dessa conversa é: o senhor Loth é um cliente importante. — Ele quer dizer famoso. — Com contatos também importantes. — Ele quer dizer uma namorada famosa. — Não vamos querer deixá-lo desapontado.

— Você está insinuando que eu deva...

— Dar a atenção que o meu cliente espera — Bertrand interrompe.

Salto da cadeira, passando a mão pela saia.

— Acho melhor eu ir organizar as mesas, antes que os clientes comecem a chegar. — Acelero para fora da sala. O coração bate muito rápido, pulsando todo o sangue para as bochechas. Minhas mãos estão tremendo também.

Meu chefe acabou de insinuar que eu deveria ser um brinquedinho e entreter o Pedro Loth essa noite. Acho que é assim que as coisas são para ele agora que é rico e famoso. O mundo inteiro caindo aos seus pés, seu desejo é uma ordem, senhor. Mas não eu.

— O que esse desgraçado quer comigo, afinal? — penso em voz alta enquanto dobro os guardanapos de tecido na mesa.

— Não, não, não! Isso parece uma camisa amarrotada. — Estou tão imersa em pensamentos que mal percebo a aproximação de Bertrand. — Refaça todos, Juliete. Eu quero essas mesas impecáveis.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora