71

5.8K 827 379
                                    

Estamos sentados há uns 15 minutos, Pedro me apresentando para um e outro conhecido da indústria, quando Erick e Victor chegam para ocupar os lugares ao lado dos nossos. Ambos parecem ter saído de uma máquina do tempo, diretamente dos anos 90, em seus ternos cintilantes da Versace— um em prata, o outro em dourado —, botas altas e cintos largos.

Eu acho o visual digno de estrelas do rock, mas Pedro parece discordar.

— Usaram quantas pilhas para acender esses blazers? — ele implica.

— Nenhuma. E você esqueceu de vestir a camisa de novo? — Erick rebate.

No fim todos damos risada. Beatrice aparece logo em seguida, acompanhando Luke Walsh. O vestido curto coral combina com o ruivo do cabelo dele, que, por sua vez, usa uma camisa de cetim branca de mangas curtas, exibindo as tatuagens no antebraço.

— Não acredito que você está aqui! — Beatrice me abraça, toda animada com o encontro. Eu também estou muito feliz que ela esteja aqui, então dou um saltinho. — Dá pra explicar como vocês foram de indireta no palco do Holi para beijos no tapete vermelho em uma única noite?

A verdade é que não mudamos da noite para o dia, mas como eu posso dizer que essa paixão estava amordaçada em meu peito desde que terminamos a primeira vez? Num calabouço, soterrada de mágoas e erros, mas fugiu das amarras no instante em que eu o reencontrei?

Quais palavras usar para explicar que eu tentei fugir do sentimento, corri o mais rápido que pude, mas ele continuou me alcançando?  E eu lutei contra, armei uma guerra, então nós dois atiramos e nós dois saímos baleados. Mas essa manhã eu baixei o escudo, Pedro baixou as armas, e...

— Sei lá... — resumo. — Simplesmente aconteceu.

— Não me vem com "simplesmente aconteceu!" — Bea protesta. — Eu quero os mínimos detalhes!

Meu olhar procura o de Pedro, pedindo ajuda. Ele ergue os ombros.

— Precisava de uma acompanhante pro VMA— fala descontraído, colocando o braço ao meu redor na cadeira. — E descobri que a Julie tinha ficado solteira recentemente.

Eu viro os olhos, mas acabo dando risada. Agora que a maré está calma, consigo ver as coisas cristalinas como água: Esse tempo todo a minha relação com Thomas incomodava só porque Pedro queria ocupar o posto de meu namorado. Ele nunca quis me guardar em segredo e, ainda assim, me tirou do seu apartamento numa fuga calculada como se fossemos os fugitivos mais procurados do planeta.

Ele fez isso por mim, então me inclino em sua direção em busca de um beijo. A mão encaixa na minha nuca, pressionando-me de encontro à sua boca. Ele nunca faz isso por mera convenção e deixa claro a cada toque. Se vai me beijar, beija como se estivéssemos beijando na chuva, no escuro, e ninguém estivesse lá para olhar, ainda que todas as câmeras se virem para captar o momento. E de repente parece que o estádio inteiro está pegando fogo, mas sou apenas eu. É apenas o que o beijo dele faz comigo.

E mesmo depois que se afasta, eu ainda sinto cada ponto em que ele tocou como se estivesse em brasa.

— Tomara que esse evento acabe logo — Pedro reclama, mesmo que o show nem tenha começado. — Quero beber uísque, fumar um cigarro e tirar sua roupa, não nessa ordem.

Sinto o rubor subir pelo rosto, mas rio baixo, espiando as câmeras para saber se fomos flagrados. Aposto que os leitores de lábios vão estar atentos a cada detalhe dessa interação.

Você tem que parar de dizer essas coisas quando tem um monte de câmeras filmando a gente.

— E então qual seria a graça? — Ele dá risada.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora