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Sarah chega a conclusão de que estamos no meio de uma crise de PR — relações públicas. Por sorte, ela tem alguma experiência com exposição online e sabe como me ajudar. O primeiro passo é desativar todos os comentários e notificações.

— Isso não vai resolver o problema — diz —, mas ao menos ajuda a preservar sua saúde mental.

Não consegui fechar os olhos nem por duas horas a noite inteira, o que significa que o dia amanhece e eu ainda estou meio bêbada, meio de ressaca e com uma dose cavalar de café correndo nas veias enquanto Sarah e eu tentamos chegar a uma solução viável.

— É tarde demais para tentar convencer o Pedro a apagar a publicação — minha amiga pondera. — As pessoas tiram print e todos os canais de fofoca já estão falando do assunto.

— Deletar o perfil? — Sugiro.

— Seria um despropósito. As pessoas já sabem seu nome, elas dariam um jeito de descobrir mais sobre a sua vida e acabariam tirando as próprias conclusões. O que nos leva a única alternativa viável...

— Qual?

— Usar todo esse holofote para alçar sua própria fama. Se quiser se lançar numa carreira de influencer, a hora é essa. Eu garanto que nunca vai ter tanta gente prestando atenção em você quanto quando seu ex-namorado famoso expor uma foto sua tendo um orgasmo pra internet inteira.

— Eu não tava tendo um orgasmo! — protesto.

— Sério? Essa é a única parte que você escutou? — Sarah dá risada.

— Eu não pedi esses holofotes, Sarah. — Solto um suspiro e levanto da mesa, pegando o caminho do quarto. — Não é o que eu queria. Preciso pensar um pouco. Acho que meu cérebro fritou.

Sarah respeita e me deixa a sós.

Só tomo noção da proporção que a coisa toda tomou quando o celular toca mais tarde e é uma ligação da minha mãe. A mulher trabalha num salão de beleza, fazer fofoca é praticamente seu segundo ofício, claro que ela não demoraria a ficar sabendo, mas me sinto ridícula ao perceber que minha própria mãe viu uma foto minha toda entregue ao Pedro num beijo quente.

Acho que todas as pessoas que eu conheço viram e pensaram a mesma coisa que a Sarah: eu estava explodindo de prazer para o Pedro. Tendo um orgasmo. Talvez estivesse mesmo. Talvez ele tenha o dom de me levar para o céu com um simples beijo. Talvez seja por isso que eu não resista ao toque dele.

— E então... — Ela tenta tocar no assunto com sutileza. —Você não tem ligado muito... como estão as coisas na faculdade?

—Tudo em ordem, mãe— garanto. Deitada na cama, eu enrolo o cabelo em torno do dedo e encaro apática o teto branco do quarto. — A faculdade está ordem.

Talvez seja a única parte da minha vida que ainda esteja.

— E com o Thomas? — Ela quer saber.

Meu estômago gela. Estive tão imersa nessa bagunça, que eu não parei um segundo para pensar no fato de que o Thomas também vive nessa galáxia, e não teria como fugir das fotos que se espalharam na internet com uma doença infecciosa.

Eu sei que estamos meio que separados, mas não consigo evitar a sensação de que preciso justificar isso tudo para ele.

— Tivemos uma briga — explico. — Estamos dando um tempo.

— É uma pena... — minha mãe responde. — Espero que vocês se resolvam. Ele é um menino muito bom... o Thomas... e ele sempre gostou muito de você, não é mesmo?

O que eu posso dizer? Ela não está mentindo. O Thomas sempre gostou, sim. E eu sempre gostei muito dele também. Ainda gosto. Mas o coração é um músculo involuntário, eu não controlo por quem ele deve bater ou quando.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora