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Procuro pelo barco todo, mas não encontro a Sarah em lugar algum. Claro que ela não desapareceu sozinha, Kyle Molina foi junto com ela. Como não estou afim de papo com o Pedro, apenas pego um copo vermelho de cerveja e arrumo um lugar para sentar.

Ele está debruçado na grade com um cigarro aceso entre os dentes. Reparo na silhueta de Los Angeles tatuada na lombar, as omoplatas em evidência, músculos discretos contornando as costas nuas.

Não quero olhar pra ele, então puxo o celular do bolso do short. Junto com ele, vem um chiclete de menta esquecido ali dentro. Eu sorrio sozinha, sendo arrematada pela lembrança do momento em que Thomas me deu o chiclete. É estranho como questão de semanas podem mudar tanta coisa na vida da gente.

Enfio o chiclete na boca, tentando reaver aquela sensação de um beijo do Thomas, mas não é mais a mesma coisa. Odeio sentir como se nem conhecesse mais o meu próprio namorado. Em que pé estamos? Penso em enviar uma mensagem para ele, mas, pelo visto, não tem área no meio do mar, então fico apenas encarando o plano de fundo para parecer ocupada.

Acho que uma onda mais forte colide no iate, porque o barco balança de um jeito que faz o meu estômago dar uma volta. Eu encubro a boca e corro para o parapeito. Não vou querer vomitar no meio do barco luxuoso do Pedro, então debruço na barra cromada, mas observar as ondas batendo no casco só faz a náusea aumentar ainda mais.

É nojento, mas inevitável. Todo o meu almoço escapa para fora da boca, virando alimento para os animais aquáticos. Apoio a testa sobre a palma da mão e meu estômago se contrai dentro da barriga mais algumas vezes.

— Tudo bem, tiete? — Um par de mãos enroscam meu cabelo, puxando os fios para impedir que fiquem no caminho do vômito.

Eu pareço bem? Até onde eu sei eu estou vomitando as tripas para fora do corpo, no meio do oceano, de cima do iate de luxo do meu ex-namorado, então, não, acho que esse é o completo oposto de bem.

— Não sou sua tiete. — Sacudo os ombros para me livrar das mãos indesejadas no meu cabelo. Pedro apenas ri. Meu estômago ainda está virando. — Por quanto tempo essa coisa vai andar?

— Até os paparazzi não poderem mais encontrar a gente.

Outra contração me dá a impressão de que vou vomitar de novo, mas parece que já não tenho nada dentro do estômago.

— Bem que você disse que tinha enjoo marítimo...

Eu riria se não estivesse passando mal. É. Essa não foi uma mentira completa, afinal.

— Acontece mais do que imagina! Eu tenho anti-histamínico lá em baixo. — Sua mão enrosca na minha cintura, me puxando em sua direção. — Eu te levo lá.

E já que eu estou presa nessa porcaria de barco e preciso do remédio idiota, uso o corpo de Pedro como apoio para me equilibrar, sendo guiada pela escadaria, até o piso inferior.

A suíte do meu ex é bem maior do que a minha, com uma vista panorâmica para o mar e uma cama king size no centro.

— Pode ficar a vontade. — Pedro vasculha o armário em busca do medicamento.

Normalmente eu não o faria, mas estou tonta e ainda enjoada, então apenas obedeço. Atiro-me no colchão surpreendentemente macio e confortável. O cheiro de amaciante se mistura com fumaça de cigarro de um jeito agradável.

— Colchão de gente rica é tão macio — solto. — É como deitar numa nuvem.

Ele está revirando a gaveta, mas se vira para me encarar sobre o ombro, com uma expressão de riso no rosto.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora