55 (inédito)

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Meu rosto está inchado e vermelho quando volto para casa. A Land Rover de Pedro está parada em frente ao alojamento, mas ele já foi embora, deixando para trás apenas o cheiro de cigarro que se infestou pelo apartamento.

— Meu deus! O que aconteceu? — Sarah corre em minha direção assim que me vê. — Quando eu disse pra regar a plantinha, eu não estava falando de lágrimas.

Eu rio baixo e fungo, esfregando o punho nos olhos molhados. Então abraço minha amiga e desabafo tudo para ela que, ultimamente, se tornou o meu melhor porto seguro. Conto sobre a noite com o Pedro, conto sobre o Thomas, conto sobre como me senti idiota com a maneira que Pedro me tratou de manhã, mas não me sinto idiota contando para ela.

Sarah me abraça e me deixa molhar seu ombro de lágrimas, e me arranca um riso sincero ao dizer:

— Você devia largar mão desses caras babacas e ficar comigo.

— Como se você não fosse partir o meu coração — contraponho. — Sarah, eu te amo, mas nós duas sabemos que você não presta.

— Nisso você tem razão — minha amiga diz e dá risada.

E assim, aos poucos, o mundo vai ficando mais leve outra vez.

— Sabe o que eu tô pensando... — Sarah fala, correndo os dedos finos pelo meu cabelo. — O Pedro não vai dar falta daquela Land Rover tão cedo... então o que você me diz de a gente ligar pra Beatrice e sair pra uma farra de final de semana épica, só as garotas?

— Você acabou de chegar de uma farra, literalmente — eu a lembro.

— E já tomei energético então tô pronta pra outra — garante e salta do sofá. —Vou entrar num banho, enquanto isso vê se melhora essa cara de choro, coloca umas roupas na mala e liga pra Bea. Tá bom?

— Táááa... — concordo, parecendo contrariada, mas a verdade é que estou feliz com a proposta. Sei que se estiver farreando com as minhas amigas, bebendo e contando casos, não vou ter tempo para me deprimir pelo rompimento com o Thomas, ou me chatear com toda a situação do Pedro, então corro para o quarto e troco de roupa. Menos de uma hora depois já estou com meu batom vermelho, mala pronta e um vestido curtinho para curtir o sábado quente.

O interior da Land Rover tem um cheiro inconfundível de perfume amadeirado e cigarro que agora me parece meio sufocante. Sarah fica no volante, e nós passamos para pegar a Beatrice, que está de blusinha comportada e calça jeans.

— Pra onde a gente vai? — Ela quer saber.

— É surpresa. Sobe aí!

Beatrice me encara, pedindo socorro. Ergo os ombros.

— Desculpa, ela também não quis me contar.

Eu fico em cargo de escolher a trilha sonora, e hoje eu juro que não quero ouvir a voz rouca do Pedro emanando desses alto-falantes, então coloco uma playlist de pop chiclete. O último lugar do planeta onde uma música indie rock da French 75 apareceria.

Agora estamos na I-15, cantando Selena Gomez a plenos pulmões, e eu tenho certeza de que essas amizades foram a melhor coisa que L.A. me proporcionou.

Mesmo depois de algumas horas na estrada, Sarah se recusa a dizer a onde estamos indo, mas fazemos paradas em restaurantes decadentes pelo caminho para comer e usar o banheiro. Já é quase fim de tarde quando avistamos o icônico letreiro: Bem-vindo à fabulosa Las Vegas – Nevada.

— Eu não acredito! — Bea grita. — Se tivesse dito que a gente tava vindo à Las Vegas, eu teria vestido algo menos comportado.

— Não olha pra mim. — Ergo as mãos. — Eu não fazia ideia!

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora