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Fico tão absorta pelas composições e o ritmo, que mal percebo que já estamos nesse carro há muito tempo, e que não estamos seguindo no sentido da faculdade, pelo contrário, já estamos bem longe de lá. Quando observo os arredores, percebo que estamos no meio do nada, cercados de árvores altas e escuridão.

— Pra onde estamos indo? — pergunto.

Não percebi em que momento Pedro entrelaçou minha mão de novo, mas estão assim agora e é reconfortante sentir sua pele na minha enquanto escuto os versos que ele compôs para mim, não sobre mim.

— Cumprir uma promessa. — Quando o encaro com ar dúvida, Pedro explica: — Eu disse que te levaria pra qualquer lugar do universo, lembra?

— E eu disse que queria ir pra Saturno — rebato de sobrancelhas arqueadas.

— Exatamente.

Mordo o lábio e resolvo não perguntar. Gosto um pouco do mistério, e ainda mais da ideia de prolongar essa carona ao máximo. Só preciso de um pretexto para continuar nesse carro e segurando a mão dele.

— E então... — Pedro quem puxa o assunto dessa vez. — Tá conseguindo se lembrar das coisas com um pouco mais de clareza agora?

Eu rio baixo. Detesto que Pedro abale assim minhas convicções. Meia hora atrás, eu estava gritando irritada que ele só manipulou a garotinha apaixonada. A essa altura, tenho certeza de que ele estava tão apaixonado quanto, sabe que errou, e sofreu as consequências do erro.

Pedro sofreu por mim como eu sofri por ele.

— Isso é lavagem cerebral — reclamo.

Com um riso, ele puxa minha mão para o colo. Sabe que venceu mais uma batalha, mas não está contando os pontos.

Pouco tempo depois, estacionamos em frente a uma gigantesca casa branca, com três enormes redomas de vidro no topo. Acho que eu já vi esse lugar numa foto, ou talvez na TV.

— Já veio ao observatório de Griffith? — Pedro pergunta.

De repente me dou conta de que estamos num dos pontos turístico mais famosos de Los Angeles, perdendo somente para a calçada da fama e o famoso letreiro de Hollywood.

As luzes apagadas me dão a dica de que o local não está aberto para visitação essa noite.

— Não, mas podemos estar aqui?

Pedro sacode os ombros.

— Qual seria a graça se pudéssemos? — Ele salta do carro e dá a volta rápido, vindo abrir minha porta. — Vem, quero te mostrar uma coisa.

Não demonstro qualquer resistência, então Pedro me puxa para perto da grade. As luzes de Los Angeles se esticam feito um tapete abaixo de nós, seguindo numa reta longa até o horizonte.

Eu me enganei quando disse que Pedro tinha comprado a vista mais bonita de Los Angeles, essa é a vista mais bonita de Los Angeles, sem qualquer sombra de dúvida.

— É incrível — confesso.

— É sim. — Ele manipula o telescópio com habilidade. — Às vezes fujo pra cá quando preciso de inspiração para compor. Deve ter percebido que eu gosto de ficar no topo do mundo.

Eu rio.

— E você consegue qualquer coisa, não é?

Pedro encaixa o rosto nas lentes e então faz alguns ajustes no equipamento.

— Em geral sim, mas algumas eu tenho que me esforçar mais do que outras. — Me encara. — Vem cá. Você precisa ver isso.

Eu obedeço.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora