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Dedico esse capítulo para a aniversariante @luizavogel , parabéns!


Preciso muito espairecer. Depois de dias enfiadas no apartamento, a minha pele pede por sol e os meus pulmões por ar fresco. Resolvo sair para uma caminhada.

Sarah está ocupada com afazeres da faculdade, então eu vou sozinha. Não quero ficar pelas redondezas do campus, onde a minha vida parece ter se tornado um assunto de interesse publico, então pego um ônibus para Hollywood, onde as verdadeiras celebridades podem roubar a cena, e eu posso voltar a ser apenas a velha anônima que passa despercebida, como sempre fui.

Ando sem qualquer pretensão ou rumo, apenas contando as estrelas da calçada enquanto Fight Song emana dos fones num volume alto. Meus pés, entretanto, parecem querer me levar direto para a conhecida cafeteria, há duas quadras do meu antigo emprego.

Claro que um latte gelado de caramelo viria a calhar, mas sinto no peito que não foi essa a real motivação pela qual meu coração acabou me trazendo até aqui.

Não faz tanto tempo assim, mas me sinto segura de dizer que eu não sou mais a mesma garota assustada, com os olhos tomados de lágrimas, que atravessou as portas de vidro desse lugar a primeira vez.

Aquela Julie tinha medo de como podia ser desacreditada ou prejudicada, mas quando se tem um alvo nas costas e se acaba de enfrentar a crueldade de milhares de pessoas na internet, um figurão qualquer de Hollywood parece ficar bem menor, quase insignificante.

Percebo ao refazer o mesmo caminho que eu fiz com a visão turva de lágrimas depois de ser assediada, que eu não tenho medo do Adrien Bertrand.

— Ei, você é a garota que trabalhava no Bistrô Paris — a barista me reconhece ao entrar no café. Eu abro um sorriso pequeno.

— A própria.

— E o que vai beber hoje? — Os olhos estão focados no computador, mas ela esboça um sorriso gentil.

— Um latte de caramelo gelado... e talvez uma pitadinha de revolução.

A barista ri.

— Pequeno, médio ou grande?

— O latte, pequeno. A revolução, tão grande quanto for possível.

Finalmente consegui captar sua atenção. Os olhos angulosos encontram os meus, cheios de curiosidade.

— Do que estamos falando mesmo?

Não faço rodeios.

— Se eu tivesse os meios para expor o Adrien Bertrand... — Ela olha sobre os ombros, de repente preocupada de outro funcionário estar escutando, mas não tem ninguém muito perto. — E eu fizesse isso...

— Você não escutou o que eu disse no outro dia? O cara é um figurão.

— E provavelmente tentaria me desacreditar — concordo. — Por isso estou te procurando. Se eu precisasse de mais mulheres envolvidas... você estaria disposta a ajudar?

— É complicado... — Ela sacode a cabeça, pegando o copo para anotar o meu nome. — Não é uma coisa que aconteceu comigo diretamente. Foi com uma amiga minha que também era garçonete... não é minha história, entende? Não tenho como decidir sobre isso. Qual nome devo colocar?

— Julie Affonse — respondo. — Mas essa sua amiga... Você pode passar meu contato pra ela? Então se ela quiser...

— Julie Affonse? — Levanta uma sobrancelha fina, me interrompendo. Apenas assinto, sem entender o motivo do alarde em seus olhos que agora me encaram numa análise minuciosa, ou porque sua mão parou de escrever na metade do nome. — Como a garota nas fotos com o Pedro Loth?

Passo a língua pelos dentes superiores. Isso explica o motivo do alarde.

— Em pessoa.

— Ai meu deus! — Ela cobre a boca com a palma. — Tudo bem. Eu sou muito fã da French 75. Vou passar seu telefone pra minha amiga, Briana, anota aqui.

Ela estende um guardanapo qualquer e eu escrevo o numero do telefone, devolvendo-o em seguida.

— Só não diz pra ninguém que eu me envolvi nisso —pede. — Não sei até onde esse Bertrand tem influência pra prejudicar meu trabalho. Prefiro ficar longe de problemas.

— No futuro, espero que ele não tenha mais influência alguma.

Aperto os lábios. A barista passa o meu latte gelado por sobre o balcão.

— Esse é por conta da casa — avisa. — Eu vou ficar torcendo por você.

— Obrigada.

A Juliezinha tá assumindo o controle da própria vida, agora ninguém paraaaa ela!!

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Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora