É estranho quão rápido vidas mudam.
Há não muito mais do que um mês, eu chegava a Los Angeles como uma jovem universitária comum, agora estou a caminho do VMA no banco carona de um Maseratti conversível, vestindo um longo vermelho que me faz sentir como a princesa que a Disney não tem.
Pedro, embora possa muito bem pagar um motorista para a ocasião, está dirigindo, já que — aposto que sabe — fica ainda mais sexy atrás do volante, e eu simplesmente não consigo tirar os olhos dele.
A jaqueta de couro preta tem franjas nos braços que esvoaçam com o vento, e ele não veste nada mais que as tatuagens por baixo dela, o que já virou a sua marca registrada. A calça de couro deixa sua bunda muito bonita quando ele levanta também.
Os flashes começam a piscar em nossa direção antes mesmo de estacionarmos. Pedro desce primeiro e lança a chave do carro para um manobrista, depois dá a volta rápido e abre a porta para mim, o que me faz sentir de uma vez por todas como uma princesa de conto de fadas.
A luz branca vem de todas as direções e me deixa cega. São tantas vozes, tantas perguntas bombardeadas, que eu nem sei para onde olhar. De repente me apavora a ideia de cair do salto quinze bem de frente à essas câmeras prontas para tornar meu fiasco na sua próxima grande manchete.
Mantenho os olhos cravados no tapete vermelho sob os pés, um passo de cada vez, então Pedro enrosca o braço no meu pescoço e é como se todo o barulho desaparecesse. Nós paramos na metade do caminho para fazer as fotos.
Ele se posiciona atrás de mim, um pouco à direita, pousando a mão bem no osso do meu quadril. Eu não sei se devo sorrir para as fotos, ou fazer aquele famoso "carão" de tapete vermelho, então apenas curvo o canto dos lábios discretamente.
Sinto a respiração de Pedro soprar a minha pele quando ele aproxima a boca do meu ouvido para sussurrar:
— Eu não sei se gosto mais de você com esse vestido ou sem ele.
Aposto que a quentura que sobe desde o peito até o rosto vai ficar evidente nas fotos, a pele parecendo refletir a seda vermelha que eu visto. Pedro não devia dizer esse tipo de indecência quando tem umas cinquenta câmeras apontadas pra gente.
Eu viro a cabeça na intenção de dizer mais ou menos isso, mas ele ainda está com a boca perto demais, então encaixa a mão na lateral do meu rosto e me puxa para um beijo. Um beijo lento e performático, para o encanto dos fotógrafos que disparam flashes sem parar, mas não tem nada de cenográfico.
A língua macia roça pelo céu da boca, depois tira a minha para dançar uma valsa lenta. Não tem nada de lento, entretanto, no modo como meu corpo responde com uma bomba hormonal e desejo.
A mão que pousara no quadril, agora sobe pela minha barriga, parando perto o suficiente do seio para eu saber que ele está morrendo de vontade de tocá-lo, mas vai agir com o mínimo de decoro que a situação requer.
Ao se afastar, meu coração ainda pulsa rápido. Ele passa o dedão abaixo do meu lábio para ajeitar o batom, eu sorrio, sentindo um tipo de encantamento que só pode ser creditado à paixão. Sei que as coisas entre a gente nunca são estáveis, e eu talvez acabe a noite de coração partido, mas estou apaixonada por ele até os ossos, e esse é um sentimento que não dá para disfarçar. Está no meu sorriso bobo, no jeito como eu tenho que lutar para desviar os olhos dele e como seguro a sua mão na minha cintura, só para garantir que ele não a afaste. Preciso aproveitar esse momento de felicidade ao máximo, porque eu simplesmente sei que não é eterno.
— Pedro, podemos tirar algumas fotos só de você? — Um dos fotógrafos chama sua atenção.
Ele olha para mim e sorri.
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Ninguém mais que nós dois
ChickLitAo abrir mão de sua vida pacata para trabalhar e cursar faculdade, a aspirante a jornalista Julie Affonse irá descobrir que, na frenética Los Angeles, nem tudo será tão fácil quanto esperava. Mas, de todas as coisas que poderiam dar errado, ela não...