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Atenção esse capítulo contém gatilho para assédio sexual.

Se a leitura causar desconforto excessivo, simplesmente pule para o próximo. Vou deixar um resumo no final.

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Ao final da noite, já estou de saída do restaurante quando Bertrand me chama para uma reunião na sua sala e eu sei que estou encrencada. Ele só faz um gesto com a mão, e pela expressão em seu rosto, não consigo dizer se ele está irritado ou apenas satisfeito em me ver.

Honestamente, aguento as consequências, prefiro que seja a primeira opção.

— Pois não? — Sento na cadeira.

A sala de madeira escura parece menor do que eu me lembrava e eu me sinto particularmente desconfortável depois que ele encosta a porta, o que nos deixa a sós.

— Julia, Julia, Julia. — Adrien atravessa a sala, parando atrás de mim.

Eu estou tensa, mas fico ainda mais tensa quando ele aperta os meus ombros com as mãos, num gesto mais íntimo do que a situação requer. Fico sem saber como reagir, porque eu não quero parecer exagerada, mas odeio que ele me toque.

— Eu pensei ter sido muito claro quando lhe disse que eu não sou um homem de segundas chances, não fui? — Assinto, calada. — Mas eu gosto muito de você, então vou te dar só uma chance de explicar que merda aconteceu no meu restaurante essa noite.

— Eu... — Pigarreio, sacodindo o ombro discretamente para me livrar das mãos pesadas. Bertrand se afasta. — Não sei do que está falando.

Ele apoia o corpo sobre a mesa de carvalho e me encara com um ar de superioridade, aquele sorriso malicioso entortando os lábios.

— Vamos lá, me ajuda a te ajudar.

Forço a memória. Tento lembrar se fiz algo errado, mas eu tenho sido muito cautelosa, sigo o roteiro e eu trato todos os clientes com muita educação, exceto, claro que estamos falando dele.

— O Pedro — concluo em voz alta.

— Pois é, você deve imaginar que eu fiquei surpreso quando o seu amantezinho me ligou agora no fim da noite.  Claro que o cidadão estava completamente embriagado, mas a conversa dele, meu bem, a conversa dele me deixou numa saia justa, então quer me contar agora o que foi que você falou pra ele?

— Eu, não... eu... nada!

Meu coração está batendo alto e rápido. Posso senti-lo saltando no peito. Talvez eu tenha falado alguma coisa, não consigo me lembrar das palavras exatas que usei. Eu estava nervosa e irritada!

— Por acaso eu estou tirando a sua paz, Julia? É assim que você se sente?  — Faço que não, mas não consigo encará-lo. — Então porque você perturbou o nosso cliente VIP com uma conversinha tão deselegante?

— Eu não...

— Você é uma mentirosa, safada! — Ele me interrompe.

O fato de que eu estou sentada, e ele em pé, faz com Bertrand pareça ainda maior e mais assustador. Não consigo verbalizar nada.  Acho que os meus olhos estão marejando, e seria completamente humilhante começar a chorar agora.

— As palavras dele foram que poderia destruir esse restaurante e a minha carreira num estalar de dedos se eu não deixasse você em paz — seu tom é irritado. — Não sei que esse cantor pensar que é, mas eu não gosto de ser ameaçado, Julia.

— Eu disse pra ele não fazer isso — murmuro, meus olhos estão fixos no sapato preto lustroso em seus pés.

— Você disse pra ele não fazer isso — Betrand repete, assimilando. Parece achar graça, mas continua sério. — É mesmo uma pena, porque eu estava gostando de ter você aqui, meu bem. Claro que eu preferia não precisar demiti-la, acho que poderia reconsiderar sua demissão com o incentivo certo.

Tenho a impressão de que ele está deslizando as próprias mãos pela genital sobre o tecido da calça, mas não tenho coragem de olhar e descobrir se estou certa. Fico apenas paralisada.

— Vamos lá, meu bem... — Ele dá a volta na cadeira e volta a apertar o meu ombro. — Você está muito tensa. Não precisa ficar. Nós só estamos conversando como dois adultos.

Tento me convencer de que estou imaginando coisas. Adrien não está dando em cima de mim descaradamente, é só o bom e velho jeito francês de parecer grosseiro e galanteador em momentos inadequados.

— Confesso que eu fiquei intrigado — ele prossegue sem afastar as mãos, o rosto chegando um pouco mais perto do meu ouvido. — Esse cantor, com uma fila de mulheres no quarto, se preocupando em vir aqui e te cercar como um cachorrinho? Deve ter sido um chá de buceta e tanto.

Eu levanto da cadeira num salto assustado. Ele disse um chá de O QUÊ? Dessa vez tenho certeza. Ele está cruzando uma linha perigosa. Eu não estou imaginando as coisas.

— Eu... preciso ir... o meu ônibus... eu... — Me odeio por não conseguir dizer nada com clareza. Pareço uma criancinha de 6 anos que se perdeu da mãe no supermercado, e eu só quero chorar.

Fujo em direção à porta, mas, antes que eu possa segurar a maçaneta, Bertrand agarra meu pulso. Sua outra mão estala de encontro à minha bunda, causando uma dor ardida.

Com a mesma velocidade, eu lanço minha palma contra o seu rosto.

Bertrand me encara boquiaberto, leva os dedos à têmpora onde o corte provocado pelas unhas longas escorre um filete de sangue. A perplexidade em ambos os nossos olhos dura alguns instantes eternos, antes que meu chefe abra a porta e aponte para fora de um jeito rude.

— Suma daqui imediatamente — ele grunhe. — E eu vou garantir que você nunca mais trabalhe em nenhum restaurante que se preze dessa cidade, sua vagabunda.

Eu gaguejo. Estou assustada, pasma, paralisada.

Queria conseguir responder, dizer todas as palavras que eu tenho na ponta da língua. Deixá-lo saber o quanto é nojento e desgraçado, mas ainda estou em choque, e a única coisa que consigo fazer é correr imediatamente para o mais longe possível desse lugar.

No instante em que paro de correr, não sei bem onde estou ou para onde vou, mas vejo a estrela de Audrey Hepburn sob os meus pés.

Eu não era apaixonada por esse emprego, mas, droga, eu precisava dele. E meu chefe nunca foi flor que se cheire, mas ele deu um tapa na minha bunda. E ele tem idade para ser meu pai. E meu pai, droga, eu odeio meu pai. Ele é um traidor. E o Pedro é um traidor. E ele meio que engatilhou tudo isso quando decidiu bancar o super-herói.

As lágrimas começam a rolar.

💖
Resumo do capítulo pra quem tenha preferido pular direto:
O Pedro ligou para o Bertrand e fez ameaças. O Bertrand assediou a Julie  e em seguida a demitiu.

Prometo q o resto da história n vai ser tão tenso e pesado, então deixem estrelinhas!

Prometo q o resto da história n vai ser tão tenso e pesado, então deixem estrelinhas!

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Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora