Los Angeles está fazendo mal para as minhas noites de sono.
Não sei é o barulho da cidade ou dos meus pensamentos, mas tudo que faço depois que deito na cama é rolar de um lado para o outro, inquieta e minha cabeça não para nunca de funcionar. Cubro o rosto com o travesseiro, me arrependendo de ter escolhido ficar em casa quando Sarah me chamou para uma festa.
A briga com o Thomas e toda essa ausência de contato me deixa ansiosa, mas não quero ser a primeira a ceder, então fico rolando na cama e imaginando monólogos que não vejo a hora de despejar sobre ele.
Sei que já é madrugada quando ouço o Iphone bipar na mesa de cabeceira.
Eu não passei esse número para ninguém, já que não pretendo ficar com o celular pra valer, talvez só até eu conseguir comprar um novo. Mas isso quer dizer que só pode ser ele. Eu deveria esperar até de manhã para olhar, mas a curiosidade desapareceu com qualquer pequeno resquício de sono. Que mal pode fazer uma espiadinha?
Eu abro os olhos e puxo o aparelho para checar. É um maldito vídeo.
"Eu pensei em você" é a legenda, e tudo que eu vejo é uma imagem escura e embaçada a um clique de distância de ser assistida.
Mastigo os lábios enquanto encaro a tela, decidindo se deveria ou não apertar o botão de assistir. A resposta mais óbvia e inteligente é que não. Se isso é um jogo, Pedro é um estrategista voraz. Ele está tentando me convencer a confiar nele, mas eu já confiei nele uma vez e todos sabemos o resultado dessa decisão. Não cometo o mesmo erro duas vezes.
Talvez seja algo inocente. Um vídeo de filhotes fofinhos, que ele tenha achado minha cara, ou então um daqueles vídeos que começa engraçado e de repente você leva um susto. Ele pode só estar tirando comigo, ou talvez tenha enviado por engano. Talvez esteja bêbado e a mensagem era, na verdade, para sua namorada.
O mundo de possibilidades deixa minha curiosidade aguçada. Meu dedo dança sobre a tela, indeciso. Sei que cometo um erro, mas é tarde demais para arrependimentos. No instante que a imagem enche a tela e começa a rodar, eu penso: jogada de mestre.
Não é um engano ou uma simples piada. Nós estamos em guerra, e Pedro acabou de atirar uma maldita granada, ou, pior, uma bomba nuclear. Se a sua intenção era demolir minhas muralhas, explodo do jeitinho que ele previu.
A vista de cima do palco é linda. Pedro não aparece, ele está filmando ao invés de ser filmado, e eu vejo exatamente o que ele viu: Vinte mil pessoas com as lanternas acesas no ar, cantando em coro o refrão da canção cuja letra eu ainda sei de cor: Se pra você não é amor, chama do que quiser, mas quando eu fecho os olhos não vejo ninguém mais que você.
Isso consegue mexer comigo de uma maneira improvável. São vinte mil pessoas ecoando exatamente as palavras que ele me disse uma vez. Fecho o vídeo antes que a música chegue aos versos finais, porque eu odeio a maneira como ela acaba, a maneira como nós acabamos.
A sensação é nostálgica e estranha. Talvez um tanto dolorida, mas ainda mais encantadora. Eu respondo com o emoji do macaquinho com as mãos sobre os olhos, porque é o emoji que melhor me representa em quase todos os momentos da vida, principalmente naqueles que não sei bem o que dizer, ou o que sentir.
É o caso de agora.
Eu queria que o emoji não fosse uma representação fiel da minha expressão nesse momento. Eu estou com as bochechas excessivamente coradas, e as mãos escondendo o rosto onde um sorriso bobo insiste em brotar.
Eu sei, eu sei. O Pedro Lucas não tem o direito de me arrancar um sorriso de madrugada, e mesmo assim ele o fez. Isso devia me deixar furiosa, mas não consigo sentir raiva quando estou ocupada sentindo todas essas outras coisas que esse vídeo provocou.
Eu sei o que Pedro vai pensar quando receber a notificação: Xeque-mate. E ele vai achar que me tem na palma da mão, e eu queria dizer que é mentira, que já não sou sua tiete, e ele já não me causa nenhum efeito; mas às 3 da manhã com uma nuvem de borboletas batendo as asas na minha barriga, a única certeza que eu tenho é de que estou ansiosa pela sua resposta. E isso é o contrário de não sentir nada.
💖
O capítulo veio curtinho mas veio com carinho, por tanto não esqueçam de votar.
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Ninguém mais que nós dois
ChickLitAo abrir mão de sua vida pacata para trabalhar e cursar faculdade, a aspirante a jornalista Julie Affonse irá descobrir que, na frenética Los Angeles, nem tudo será tão fácil quanto esperava. Mas, de todas as coisas que poderiam dar errado, ela não...