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O som do celular vibrando na mesinha de cabeceira me desperta. Ainda estou sonolenta e confusa, a lembrança do sonho mais recente vai me tomando aos poucos. Pedro estava nele. Estávamos no ônibus de turnê caindo aos pedaços, mas era maior e tinha muita gente lá dentro. Fãs, talvez. Muitas delas. Eu me lembro de dizer "Pedro, sou eu!", mas ele não me reconhecia. Isso me deixou furiosa.

Ele tinha que me reconhecer, então gritei histericamente "Sou eu! Julie! Sua tiete! Sou eu!", e os seguranças começaram a aparecer. Eu o olhei no fundo dos olhos verdes, sendo arrastada para longe, foi quando Pedro sorriu de lado. Ele me reconheceu, tinha me reconhecido o tempo todo. "Isso é por ter partido o meu coração!", disse um segundo antes de eu acordar.

— Eu não parti seu maldito coração, Pedro — murmuro meio sonolenta e tateio a mesinha até encontrar o celular.

É a foto de Thomas na tela. Claro que seria uma ligação dele a essa hora. Eu esfrego o rosto e suspiro. Não sei se quero conversar com meu namorado agora, mas atendo a chamada de qualquer jeito.

— Bom dia, te acordei?

— São sete e meia da manhã em Los Angeles — lembro com a voz embargada.

— Desculpa. Estou indo pro treino agora. Ontem ficou tarde, eu não quis te ligar. Tudo bem? — Concordo com um grunhido, ainda sem disposição para formular palavras. — Então... ãhn... é... você tá brava comigo?

— Eu deveria?

— Não, mas parece que tá.

Suspiro, de repente perdendo o sono.

— Acho engraçado você não comentar que andava encontrando a Yumi por aí. Só isso. — Pronto. Fomos direto ao ponto.

— A gente se esbarrou no aeroporto, depois algumas vezes pelo campus, e ela apareceu na festa de ontem. Não foi nada demais, não achei que precisasse mencionar.

—Ela foi bem rude quando esbarrou em mim aqui no alojamento. Já com você parecia muito amigável, Thommy.

— Tá. A gente conversou algumas vezes — ele admite. — Ela disse que não tinha muitos amigos aqui em Nova Iorque, porque o pessoal ficava meio assim de ela ser mãe e tal. Eu também tô conhecendo a galera ainda, só estava tentando ser legal, falei que ela podia colar na festa.

— Ah! Você convidou sua ex para uma festa? — Converto toda a minha raiva em sarcasmo. — Agora sim isso parece certo.

— Ela não é minha "ex". A gente ficou por, tipo, duas semanas no ensino médio, Julie. Grande merda. Eu não gostava dela naquela época, não gosto dela agora. Mas você, por outro lado, parece não superar que a garota roubou seu ex.

Ótimo. Agora estamos brigando, e o Thomas acha que está na razão.

— Ela não me "roubou" nada.

— Quer saber? Essa conversa não tá indo pra lugar nenhum e eu estou atrasado pro treino. A gente conversa quando você estiver mais calma.

— EU ESTOU CALMA! — Grito um segundo antes de ele desligar a ligação, e então atiro o telefone na cama. Eu não estou calma.

Sarah abre a porta do quarto dela no mesmo instante em que eu abro a minha, e nós damos cara a cara. Ela está com os cachos presos num rabo de cavalo improvisado e usa uma camiseta longa como pijama.

— Tudo bem por aí? — pergunta.

— Tudo — minto, seguindo para a cozinha. Preciso de café.

— Quer conversar? — Ela senta no sofá, colocando os pés descalços na mesinha de centro.

Não sei se quero, mas tenho certeza de que preciso, então preparo duas xícaras de café e me sento ao lado da minha amiga para desabafar. É um histórico de relacionamento confuso. Nós duas éramos amigas. Eu estava com o Pedro,  ela com o Thomas, mas a Yumi cismou que o Thomas estava traindo ela comigo, então ela foi lá e chupou o Pedro. Depois ela sumiu por uns anos, o Pedro fez a mesma coisa. Toda essa história estava enterrada no passado, até os dois surgirem de novo em minha vida como um par de fantasmas.

— Espera! Então está me dizendo que você é a famosa garota que partiu o coração do Pedro Loth?

— Você ouviu alguma coisa do que eu disse? — Suspiro, frustrada. — Ele me traiu. Eu não parti o coração dele.

— Tá, tá. Detalhes. Mas você é a garota, não é? — Sarah parece animada com a descoberta.

Apenas ergo os ombros e beberico um gole quente. Estou abraçando os joelhos, com as pernas encolhidas sobre o sofá. Pela janela, observo a movimentação de estudantes no jardim.

— Essa seria uma exclusiva e tanto pro GH!

— Nem pensa nisso! — Arregalo os olhos, engasgando com o café. — A última coisa que eu preciso é que as pessoas achem que ainda dou a mínima para ele.

—Ah! Qual é?! Só uma entrevista. Você ficaria até famosinha.

— Não — repito incisiva e levanto do sofá. — Esquece essa ideia. Eu não quero mais ouvir falar de nenhum Pedro. E é melhor eu me arrumar para a aula. Não vou querer chegar atrasada.

Sarah faz uma careta, mas não insiste. A verdade é que eu mesma não consigo desprender os pensamentos de Pedro. Durante a aula, me distraio lendo longas notícias sobre ele, as entrevistas que deu sobre uma garota misteriosa, evitando citar o meu nome. Eu sou a garota que dispensou ele, nunca a garota com quem ele errou. Seria uma vingança justa até fazer o que Sarah sugeriu: revelar para o mundo toda a grande farsa de Pedro Loth, mas não vou.

No fim, isso seria tão humilhante quanto foi no meu sonho; Um grito desesperado pela atenção dele, tentando obrigá-lo a se lembrar de mim, a se lembrar das coisas como eu me lembro. Porque eu, ao contrário dele, simplesmente não consigo esquecer.

Talvez o Thomas esteja certo, afinal.

Ele nunca me deu muitos motivos pra sentir ciúme. Se quisesse ficar com a Yumi, teria escolhido ela naquela época, mas foi para mim que ele deu o anel do amor infinito. Acho que estou descontando em Thomas a raiva pelo que rolou com o Pedro, mas eu, mais do que ninguém, sei o quanto meu ex e o meu atual têm índoles bem diferentes.

Num gesto de rendição, envio uma mensagem para ele.

Eu: Me desculpa. Acho que tive uma reação exagerada.

Ele: Ok, tampinha. Vamos deixar isso pra lá.

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