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Thomas liga algumas vezes ao longo da tarde, mas eu evito todas as chamadas. Não quero mentir, mas ainda não sei como contar a verdade, então só envio uma mensagem dizendo que estou muito ocupada e que ligo mais tarde.

Quando chega a hora do trabalho, despendo um tempo extra para caprichar na maquiagem, só para o caso de ele resolver aparecer de novo. Odeio a parte de mim que deseja mesmo que ele apareça.

— Está tentando impressionar alguém hoje, meu bem? — Bertrand para ao meu lado no pátio e pousa a palma da mão na parte baixa das minhas costas.

Não o encaro, apenas envergo um pouco a coluna tentando sem sucesso escapar do contato indesejado.

— N-não... e-eu só...  — Gaguejo, sem conseguir formular nenhuma frase completa.

— Não seja tímida. É um elogio. — Ele sorri. — Você fica ainda mais gostosinha com esse batom vermelho. Aliás... acho que a minha pergunta acabou de ser respondida. É melhor eu bater em retirada.

Eu nem tenho tempo de processar o tal "elogio" antes que Pedro surja no meu campo de visão, adentrando no pátio do restaurante, com seu estilo milionário sedutor. Eu nem gosto de caras de terno, mas nele cai com uma elegância surpreendente.

Bertrand tenta cumprimentá-lo, mas Pedro não parece interessado, os olhos verdes se cravam em mim e ele abre um sorriso breve, já conhece o caminho da mesa.

— Seja bem-vindo ao restaurante Paris, meu nome é Julie e eu vou atendê-lo hoje.

— Pula as formalidades. Você não precisa se apresentar toda vez que eu chegar aqui, tiete. — Pedro ri, enroscando o braço no encosto da cadeira.

Aparentemente preciso, já que ele insiste em usar esse apelido irritante.

— São as regras da casa — explico. — E meu chefe é um homem metódico, normalmente mal humorado e com um senso de elogio discutível. Eu não sei se ele me odeia, ou se gosta de mim mais do que deveria. Em qualquer um dos casos, eu não ia querer irritar ele.

— Espera. Aquele desgraçado estava te importunando?

— Eu não estou aqui para discutir o teor dos meus relacionamentos, então você quer fazer seu pedido ou só veio para conversar?

Sei que boa parte da minha raiva tem a ver com o ciclo menstrual. Outra parte sou só eu descontando em Pedro a minha raiva de Adrien, mas não sinto culpa. Não é como se ele fosse um santo.

— Na verdade... vim mais para te fazer uma pergunta. Tem algo que não sai da minha cabeça desde que eu te vi.

— Tem uma coisa que não sai da minha também: onde está sua namorada?

— Namorada? — Ele levanta uma sobrancelha. — Se estiver falando da Lily Adams não é desse jeito, e eu...

Eu sorrio ironicamente. Ali está, escondido num terno elegante, ainda é o mesmo garotinho traidor que partiu meu coração aos 17. Pedro não cresce, não aprende, não muda. Ele não se compromete com nada ou ninguém.

— Nem se dê ao trabalho de explicar — interrompo. — Eu realmente não estou interessada em saber como é ou deixa de ser. Você não me deve nenhuma satisfação sobre os seus relacionamentos, Pedro, mas não se atreva a aparecer aqui e me tratar como se eu fosse um deles. Nós não somos amigos. Não somos nada.

Okaaay... Eu não sei se fiz alguma coisa pra te deixar brava, ou...

Se fez alguma coisa? — Solto um riso tosco. — Sua memória seletiva deve ser uma piada. Por que a gente não acaba logo com essa encenação para eu poder voltar para os meus problemas de verdade? Sabe? Problemas de gente que não ficou milionário, tipo decidir se eu preciso mais do meu salário ou de dar um tapa na cara do meu chefe.

— Então aquele desgraçado estava mesmo te importunando. — Dessa vez ele apenas afirma, passando a língua pelo lábio inferior. — Sabe que eu só preciso de uma ligação para acabar com a carreira dele, não sabe?

É a gota d'água.

— Chega de cena. Você não é o super-homem. Eu não sou sua maldita donzela em perigo. Então porque não pega o seu helicóptero, o seu terno caro e o seu ego enorme, e vai dar uma volta em outro lugar, hein? Eu sou crescidinha o suficiente para dar conta dos meus próprios problemas sozinha.

— Quer saber? — Ele ergue as mãos, se rendendo. — É o que eu vou fazer. Você não está afim de falar comigo hoje, beleza. Vou pegar meu "ego enorme" e levar de volta pro apartamento enorme onde eu moro, e talvez eu até beba uma garrafa enorme de uísque sozinho pra digerir essa merda toda. Boa noite, tiete.

— E tem mais uma coisa! — Falo alto. Pedro já está na metade do caminho, mas vira para trás e me encara. — Eu não sou sua tiete!

Meu ex não responde nada. Apenas ri e volta a caminhar como se nem houvesse escutado o que eu disse. Acho que odeio ele. Essa é única explicação para a maneira com que Pedro consegue me tirar do sério tão facilmente.

-♥-
"A única explicação" kkk ok

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Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora