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Na segunda-feira, as doses de café expresso da máquina do escritório são a única coisa que me mantém desperta. Isso porque o final de semana foi agitado, e eu mal consegui pregar os olhos depois que cheguei em casa. A adrenalina ainda entupia minhas veias, sem que eu conseguisse tirar meu ex-namorado da cabeça.

A pior parte, é não ser capaz de fugir dele, ou dos sentimentos que ele me causa. Aceitar esse emprego parece ter sido o grande erro, já que tem fotos da French 75 espalhadas pela parede, e a minha caixa de e-mails está infestada de repórteres tentando conseguir uma exclusiva para a confirmação do namoro dele com a Lily Adams.

Não me arrisco a perguntar para o Ian se devo responder alguma delas, ele está irritado o dia todo, gritando ao telefone do lado de dentro da sua sala.

— Eu é que não vou me arriscar a entrar lá! — Giovana fala.

— O quê tá rolando? — pergunto curiosa. — Parece sério.

— É a Lana, com certeza — minha colega de trabalho fofoca, debruçada no balcão da recepção. — Ela e o Ian tem um relacionamento intenso, sabe? Cheio de sexo e brigas. Num dia só paixão, no outro eles têm uma briga feia, terminam e o Ian fica essa fera intragável. Não vai dizer pra ninguém que eu te falei isso.

Passa um zíper imaginário selando os lábios.

— Minha boca é um túmulo.

— Então... olha... pode me ajudar com uma coisa? — Assinto. — Eu tenho que passar na casa do meu ex para pegar umas coisas minhas que ficaram. Mas se eu não quiser dar de cara com ele, preciso sair, tipo... — Ela encara o relógio de pulso. — Agora. Se o Ian precisar de algo, você pode segurar as pontas?

Eu tamborilo os dedos na mesa. Não falta tanto assim para o fim do expediente, e eu não acho que o Ian vai precisar da Giovana para resolver os problemas do namoro dele, então só assinto.

— Muito obrigada! Fico te devendo uma! — A ruiva corre para o elevador, mas vira para dizer uma última coisa: — Se ele perguntar por mim, fala que eu fui... sei lá... numa reunião de emergência com um executivo da Holi.

Depois que ela sai, eu fico sozinha com a minha caixa de e-mail lotada e as reproduções fotográficas de Pedro Lucas por toda parte. Preciso pensar em qualquer coisa que não seja no rosto bonito dele, então pego o meu celular.

Encaro o contato de Thomas, me perguntando se deveria, ou não, mandar uma mensagem. Estamos sem nos falar há vários dias. A essa altura, não ser a primeira a ceder deixou de ser uma questão de orgulho, e passou a ser pura covardia. Desde que eu o conheço (e isso é praticamente a vida toda), Tom e eu nunca estivemos tão distantes (física e emocionalmente). Sempre foi tão fácil ser eu mesma com ele, e agora eu estou apavorada de que, quando nos falarmos de novo, não vai mais ser a mesma coisa.

— Eu preciso resolver um problema pessoal. — A porta do Ian abre. Largo o celular e dou um pulo, com cara de culpada. — Onde está a Giovana?

— Ela... — Pigarreio. — Precisou... fazer... uma... reunião de emergência... com os... executivos da Holi. Isso da Holi.

— Ah! Holi! Merda! — Ele esfrega a cabeça, preocupado demais com outras coisas para notar a mentira mal contada. — Eu tinha me esquecido do festival. Ela disse a que horas volta?

Olho o relógio. Falta menos de uma hora para o fim do expediente.

— Acho que ela não volta hoje. Parecia algo complicado.

— Escuta... — Ele esfrega o cabelo, nervoso. —  Sei que não é sua função, mas eu esqueci completamente disso e não pode esperar até amanhã, então preciso que você mesma leve esse pen drive para o Pedro.

— O quê? — Arregalo os olhos. Ele deixa o dispositivo preto sobre o meu balcão, sem grandes explicações. — Posso chamar um motoboy ou enviar por malote...

— Não!  — Ian chama o elevador. — Essas são as faixas que o Pedro andou trabalhando para o álbum novo da French. É importante demais para cair nas mãos erradas. Tá me entendendo? Isso vai direto da sua mão para a mão do Pedro, sem intermediários.

Assinto, um pouco hesitante. Me parece responsabilidade demais.

— Desce comigo. — Ele segura a porta metálica. — Vou chamar um táxi pra te levar até a casa do Pedro.

— A casa dele? — Engulo seco.

— Algum problema?

— N-não — gaguejo, entrando no elevador atrás do meu chefe. — Claro que não.

— Excelente. O festival do Holi é no fim desse mês. — Ele ajeita o visual no espelho grande enquanto descemos. — O Pedro precisa escolher uma das faixas inéditas para apresentar o trabalho novo da banda. O público vai estar em polvorosa. E... Julie?

Ian me encara.

— O quê?

— Tente não se envolver demais. Eu sei que vocês têm uma história, mas o Pedro é um dos maiores nomes da música atualmente. Existe um perfil de mulher com a qual se espera que ele esteja envolvido, se é que me entende.

A fala me atinge como um soco no estômago. Eu entendo. Entendo perfeitamente. Eu não sou uma modelo de corpo escultural e nome renomado, como a Lily Adams. Vivemos no mesmo planeta, mas não pertencemos ao mesmo universo. E, simples assim, o gatilho: eu não sou boa o suficiente para ele. E eu pensando que era o contrário.

— Claro — concordo com um sorriso amarelo.

A porta do elevador abre. Ian sai primeiro. Eu saio logo atrás dele. Mas acho que um pedaço de mim fica preso ali dentro.


Eee a boa notícia é que daqui a pouco eu solto mais um capítulo!!!

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Eee a boa notícia é que daqui a pouco eu solto mais um capítulo!!!

Maaas a má notícia é que amanhã - provavelmente - não terá capítulo pq eu vou estar viajando.

Enfim, votem. ⭐️

 ⭐️

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