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Cuidar de contratos e documentos costuma ser a função da Giovana, mas ela não aparece no trabalho essa manhã, já que acordou com um mal estar, e eu acabo sendo sobrecarregada.

Ian me pede para buscar um contrato no escritório de advocacia. Na volta, eu paro na Starbucks para pegar o café favorito dele. Não tinha me dado conta de que a loja onde eu vim parar depois da demissão fica há só duas quadras de distância da gravadora. Eu estava tão cega de nervosismo naquele dia.

— Um frapuccino de caramelo — eu peço e então estreito os olhos para atendente, reconhecendo-a. — Espera! Foi você que me salvou aquele dia, né? Acho que eu não tive a oportunidade de agradecer.

— Não por isso. — Ela sorri, estreitando os lábios. — Fiz o que qualquer pessoa faria. Desculpa, qual o nome?

Ela pega o copo de isopor para escrever.

— Põe o do meu chefe: Ian — falo. — Por favor.

— Não está mais trabalhando no Bistrô Paris? — pergunta enquanto escreve.

Eu abro a boca para responder que não, mas então hesito. Eu nunca mencionei onde trabalhava. Acho que a atendente percebe a minha reação, porque trata de explicar antes que eu pergunte:

— Você estava com o uniforme. — Eu estendo o cartão de crédito para pagar. — Reconheci porque eu trabalhei lá no ano passado, mas ninguém dura muito tempo trabalhando pro Adrien Bertrand, né?

Presto um pouco mais de atenção na garota agora: os cabelos pretos são curtinhos, os olhos angulados revelam uma ascendência oriental, e ela não deve ter tanto mais do que a minha idade. Talvez uns 23. Mas é algo na maneira que ela baixa os olhos ao falar sobre o emprego que me faz ter certeza de que o assunto foi trazido à tona por um motivo. Ela passou por algo parecido.

—  E por que não tem ninguém falando disso? — pergunto.

— Acho que as pessoas tem medo que ninguém escute. Bertrand é um figurão de Hollywood. Manter um restaurante e um status como o dele não é pra qualquer um. — Ela me estende o café. — Espero que tenha mais sorte no seu novo emprego.

— Obrigada. — Eu sorrio, e então volto para a gravadora pensando nisso.

Já devia ter me acostumado com o elevador, mas ainda me causa desconforto todas as vezes. Quando as portas de aço abrem, é um alívio imediato e eu corro para fora.

A porta da sala de Ian está aberta, mas eu bato nela duas vezes. Ele sobe os olhos para mim e gesticula para que deixe o café na mesa. Está numa ligação e parece estressado.

— Não... Pedro, Pedro, PEDRO! — Eu deduzo que ele está sendo interrompido, porque exige atenção. Eu disfarço o fato de que estou bisbilhotando a conversa enquanto entro e entrego o café. — Você sabe que é um contrato, não dá pra quebrar um contrato. Só pensa nisso com calma. A gente conversa quando você voltar de viagem, tá bem?

Não escuto o que meu ex fala do outro lado, antes de Ian desligar furioso.

— Precisa de mais alguma coisa? — pergunto educadamente antes de sair da sala.

— Obrigado. — Ian me dispensa.

Eu volto para a minha mesa, mas a curiosidade ainda me assola: Em que tipo de problema será que Pedro está se metendo dessa vez? Será que ele arrumou encrenca em Nova Iorque?

Cometo o erro de pesquisar o nome dele no Google, e então aparece a manchete que eu não esperava:

"Passeio romântico no Central Park. Pedro Loth e Lily Adams são vistos aos beijos em Nova Iorque essa manhã. Enquanto a modelo e atriz estava na cidade para comparecer a um desfile, o astro do Rock lotou o Madison Square Garden no show de encerramento da mais recente turnê da French 75".

Ouço meu coração quebrar em alto e bom som. Isso não devia doer tanto, mas Pedro me chamou para sair e logo depois saiu com a namorada para dar uns amassos publicamente.

Eu sei que ele não me deve nenhuma explicação, mas me sinto burra. Pedro disse que "com a Lily não era daquele jeito", mas as fotos são bastante objetivas sobre o jeito que a coisa é entre os dois. Não dá pra chamar um beijo no Central Park de "é só amizade".

Mas claro que Pedro não valoriza a modelo linda que tem ao seu lado. As pessoas não mudam, são previsíveis, e a história se repete. Eu sou a testemunha viva de que o Pedro não espera o fim de um relacionamento antes de partir para a próxima caça. Eu devo ser uma em uma centena de garotas que ele guarda na manga como cartas de baralho. Um truque desonesto, mas divertido.

E isso é tudo que ele tem feito comigo nos últimos dias: Jogar e trapacear.

Só porque é rico e poderoso agora, ele pensa que o mundo é seu tabuleiro de xadrez, e que todas as pessoas são suas peças pra movimentar como bem entender.

❤️

Oie, mores!

Para quem ainda tá em dúvida sobre as datas de publicação, estou atualizando toda Segunda, Quarta e Sexta. E — quando vcs estão muito ansiosas e eu com tempinho livre — posto também nas terças e quintas.

Teremos muito do Pedro nos próximos capítulos, mas quem por aí tá com saudade do Thomas? 👀

⭐️votem⭐️

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Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora