P.O.V. Pietra Mendes
Não sei aonde estava minha cabeça quando resolvi que vir para essa casa era uma ótima ideia, certo que vir pra cá me afastou da família do Sr. Leonardo, quando eu for pra sempre não será mas sob a responsabilidade dele, isso é um peso a menos em cima dele certo?
A Margarida me guia para o segundo andar, ela não fala nada e eu não me atrevo a perguntar, só a sigo em silêncio, ainda nem troquei de roupa, estou de calça jeans, azul quase preta, e blusa de mangas longas verde, pensei que esse momento demoraria um pouco mais a acontecer, mas vejam só isso também fugiu dos meus planos.
A governanta entra em uma sala espaçosa, eu a sigo.
- Aqui está senhor. - Ela fala formal.
Enfim vejo um homem de cabelos brancos como algodão, ele veste uma roupa simples, calça social azul bem escuro, com uma camisa também social creme, quase branca, de chinelos, seu rosto é magro já envelhecido pelo tempo, ele usa um bigode grosso tão branco como seus cabelos, ele me encara sem desviar o olhar, simplesmente não sei o que fazer.
- Pode sentar se quiser. - A voz da Margarida me diz.
Aceito com um aceno, a sala tem um sofá preto de três lugares escorado na parede, sob ele uma pintura, na frente uma estante com algumas pastas coloridas, poucos livros, me ponho a observar tudo ao meu redor, do lado do sofá, de frente para a porta de entrada, uma mesa de madeira, parece antiga, na frente dela duas cadeiras acolchoadas, por trás tem duas janelas de vidro, as cortinhas delas estão amarradas para o lado, permitindo a entrada do pouco sol do fim de tarde.
- Ééé... Sr. Otávio? Está tudo bem? - A Margarida pergunta sem jeito.
- Sim, Rida estou bem... - A voz rouca dele diz com um sorriso sem jeito, - ... Eu estou bem sim... - Ele repete sem ação.
Vejo que ele se move com dificuldades, ele pega uma bengala perto da mesa e vem até mim, ele se senta quase sem poder com seu corpo, perto de mim no sofá, Margarida observa com cuidado e atenção, o sr. Otávio ergue sua mão trêmula para tocar em meu rosto, me afasto por reflexo.
- Deixe-o - Margarida sussurra pra mim, ela se abaixa perto de nós. - Por favor...
Vejo dentro dos olhos deste senhor a minha frente um desespero contido, vejo seus olhos lacrimejarem, o olho confusa.
- Clarisse. - Ele diz com sua voz falha - Você... Voltou?
- Diga que sim. - Margarida me pede, a olho sem entender mas sua expressão me pedindo ajuda é difícil negar.
- Você voltou? - O sr. Otávio repete com dificuldade.
- S-sim.… - Sinto minha voz amargar, a dor retorna ao meu peito, vejo lágrimas rolarem pela face enrugada do senhor a minha frente, respiro fundo tentando esquecer, mas a memória da minha mãe morta surgem em minha mente, e dizer que sou ela, requer mais forças do que eu tenho - Eu-u-u não... Posso fazer isso... Eu não-o posso-o... - digo rápido saindo pela porta pelo corredor, com minha visão turva pelas lágrimas esbarro com o garoto ruivo.
Em meio a minha pressa de sair dali, não lhe dou atenção, ouço ele murmurar um pedido de desculpas, mas não respondo, só quero entrar em um quarto e me esconder de tudo.
Encontro o meu novo quarto, tranco a porta sem fazer barulho, entro no banheiro com minha mochila, também tranco essa porta, cega pela dor em meu peito, minha cabeça gira, os pensamentos pedem para sair, pedem para fluir mas eu não quero deixar eles me dominarem, então faço a única coisa que me traz de volta a realidade, retiro minha calça jeans, com um das minhas laminas faço um corte na minha cocha, faço um grande e mais fundo que consigo, vejo meu sangue colorir minha perna, a dor me faz chorar, mordo minha língua para não gemer de dor, quando vejo que já chega, quando me sinto mais calma, quando meus pensamentos se calam está na hora de limpar o corte com álcool e fazer um curativo.
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Para Não Desistir De Viver.
SpiritualA vida é algo tão insignificante. Há quem diga que para morrer só precisa está vivo. A vida pode ser algo frágil, mas que se bem cuidada pode durar anos a fio. De que forma vale a pena viver, se um dia todos chegaremos ao impasse da morte? Duas vida...