Um pedaço de papel inútil

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P.O.V.  Pedro Pontes

Me aproximo devagar para não assustar-la, não tenho muita experiência com lágrimas de garotas, a maioria não chora perto de me, fazer o que?!

Pietra diferente do que pensei não escondeu suas lágrimas, não tentou disfarçar virando o rosto para o outro lado, quando sento perto dela no calçadão ela simplesmente fica ali do mesmo modo que estava, ela me olha por dois segundos, e depois sua atenção volta para o papel em suas mãos brancas.

O short da sua jardineira fica no meio das suas cochas, mesmo com a pouca luz, consigo ver pequenas cicatrizes, umas mas claras, já bem saradas, outras nem tanto, ela também tem marcas mais fundas nos pulsos, e várias outras nos antebraços, fico pensando; O que a levou a tudo isso?

- Não vai sorrir como sempre? - Pietra diz irônica, ela encara meu rosto com frieza.

- E você, não vai me ignorar como sempre? - respondo no mesmo tom frio dela, consigo ver a surpresa em seus olhos, um leve sorriso se forma no canto dos seus lábios finos.

- O que faz aqui, Pedro? - Pietra pergunta sem desviar o olhar de mim.

- A minha mãe queria ver o mar à noite, - respondo, vejo que Pietra ficou tensa e desviar seu olhar para o mar a nossa frente, escolho as palavras com cuidado - Então eu vim com ela e minha irmã, Safira, elas devem está por ai em algum lugar agora. - dou de ombro - Ai eu te vir aqui... E vim movido pela.... curiosidade.

- E seu irmão? - ela pergunta.

- Em casa. - respondo confuso pelo interesse repentino.

- O que ele tem? - Pietra pergunta - Quer dizer... Eu é... - Ela tenta reformular a pergunta.

- Tudo bem, - agora eu sorriu pelo seu desconforto - Thales é mudo de nascença, ele fala em Libras.

Pietra fica em silencio, só balançando os pés, ela mal encosta na areia.

- E você, sempre morou aqui em Finís? - Pergunto só para a fazer falar.

- É. - Pietra se limita a responder.

- Não quer me contar? - Pergunto, Pietra analisa meu rosto com cuidado.

- Não tenho motivos para te contar. - ela diz sem emoção

- Também não tem motivos para não contar -  respondo em rebate - Eu suponho, claro.

- Eu nasce aqui em Finís, a gente morava na periferia, meu pai, mãe, meu irmão e eu. - Pietra começa firme, mas a medida que fala sua voz ganhar a emoção das suas lembranças - Quase todos os dias, quando eu era criança, minha mãe, Clarisse, me trazia na praia, eu e meu irmão, aqui, ela sentava, aqui... E eu corria pela areia, molhando os pés na água do mar, eu e meu irmão brincava-mos de si enterrar na areia... - Ela sorrir - Sempre no mesmo horário, um pouco antes do pôr do sol, quando o céu ganhar uma coloração dourada. - Pietra pinta o céu com as mãos, encantada com sua memória, eu a observo confuso - Minha mãe ama o pôr do sol assim, na praia. - Sua expressão muda de repente, Pietra uni os lábios com força, ela encaro o papel nas mãos. - Ela amava, amava ver o sol sumindo dentro da água... Eu a admirava, queria ser como ela... Sempre sorrindo, levando a vida com leveza, tudo era motivo para rir... Se a luz era cortada, a gente fazia festa junina envolta da fogueira, se faltava a comida ela dava um jeito... - Pietra fala sem se importar, ela não me olha em nenhum momento só para o papel em suas mãos - ... Nada a fazia chorar... Depois que cresci um pouco comecei a entender a verdade, ela chorava, se lamentava... Só não deixava os filhos a ver assim... Depois de uns tempos, meu irmão começou a ... Trabalhar... E o dinheiro começou a aparecer, nos ajudar com as dividas, estava tudo começando a si encaixar... - Pietra respira fundo - ... Mas um dia um homem pareceu na nossa casa, eu não sei quem era, nem o que ele queria com meu pai... Meu irmão me tirou de casa, como era acostumado a fazer quando nossos pais... Brigavam... Eu não questionei, o seguir para a rua, viemos a pé para cá... A praia, como sempre, nosso lugar de refúgio, ele me disse que o nosso pai estava devendo dinheiro aquele homem, um valor bem alto... Disse que não tínhamos como pagar, nem com o trabalho dele. - Pietra se perde em suas lembranças, vejo lágrimas grossas deslizarem pelo seu rosto magro, ela não as seca simplesmente as deixa seguir o percurso até seu queixo fino - Depois de uns meses não tínhamos mas nada, tudo foi vendido para pagar esse homem... Meu pai se afundou nas bebidas, cada dia.... mais... violento... Como minha mãe... Meu irmão.... Comigo-o... Ela não suportou ver... Os filhos apanhando para... A.. Defender, motivos não faltaram... Eu-eu sei, mas... Foi o único jeito... Ela decidiu assim... E foi embora... - Pietra esconde o rosto com suas mãos pálidas e trêmulas, ela chora em silêncio, um choro calmo, sem deixar de ser doloroso sem esforço as lágrimas molham suas mãos.

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