Cap. 2

8.4K 702 165
                                    

Cleuza conferiu novamente a janela e em seguida o relógio romano pendurado na parede que ficava sobre o piano.

Sentou na poltrona forrada com uma colcha de retalhos e suspirou preocupada.

Matilda surgiu na sala trazendo uma bandeja, avisou:

- Trouxe um chá dona Cleuza.

Ela colocou sobre a mesinha de centro. Cleuza observou a xícara cheia de um líquido amarelo e alguns biscoitos num pratinho bordado de sobremesa sem entusiasmo.

- Obrigada Matilda, mas não sinto fome! Estou deveras angustiada com o sumiço de minha neta. Já passa das oito, deveria ter chegado há horas! Já liguei diversas vezes para o celular deles e ninguém atende!

- Se a senhora quiser vou mandar o Artur ir em busca de notícias!

- Não é preciso! Não quero incomodá-lo. Afinal, hoje é a folga dele! Talvez aconteceu algum acidente na estrada... Só espero que não seja com eles! A última vez que falei com ela eles estavam saindo de Ponte Nova.

- Isso pouco importa nesse momento! Vou agora mesmo mandá-lo ir atrás da senhorita Liliane. O mais importante agora é a segurança dela.

Cleuza não discordou, não tinha alternativa, reforçou:

- Então faça isso Matilda!

A mulher morena assentiu, segurou a borda da enorme saia e saiu andando depressa.

Quando chegou na casa que ficava no interior da fazenda, onde moravam com os filhos, foi em busca do marido e o encontrou na cozinha sentado tomando café tranquilamente.

- Ah que bom que te achei! - suspirou ansiosa.

- O que foi mulher? -levantou os olhos preocupado.

- A neta de dona Cleuza ainda não chegou e ela está muito preocupada! Sugeri que você fosse em busca do paradeiro dela!

- Fez o certo! Vou agora mesmo atrás da moça - disse tomando último gole de café e se levantando.

- Falando nisso, onde estão os nossos filhos?

- O Teodoro está na sala assistindo aquele programa bobo de que tanto gosta! Quanto a Talita, ainda não chegou da mata.

Matilda balançou a cabeça negativamente e resmungou:

- Essa menina é quem me preocupa!

- Deixe de bobagem mulher! Ela sabe se virar muito bem sozinha, melhor que nós dois juntos! Talita é bicho solto!

- Tem razão, mas Liliane não, então vá logo! Sabe que ela foi criada na cidade!

- Tranquilize dona Cleuza, só volto na fazenda com ela.

- Está bem! Vá com Deus e tome cuidado!

Artur não respondeu, deu beijo demorado na testa da esposa, colocou seu chapéu e saiu apressado.

×××

Ane sentou em cima de uma das malas maiores e conferiu o relógio de pulso. Voltou o olhar para cima, o luar estava simplesmente perfeito. A lua crescente despontava das nuvens cinzas e as estrelas brilhavam obstinadas em torno dela completando a obra magnífica da natureza. Muito diferente da cidade, parecia que podia tocar o céu, ou que estava diante de uma pintura 3d.

Devido ao peso das bagagens, não conseguiu ir muito longe. Decidiu parar e esperar que surgisse alguém para lhe dar uma carona. Infelizmente, os únicos carros que apareciam seguiam em direção da cidade.

Já estava ficando impaciente e temerosa com o som intimidador que vinha da floresta. Porém, ao mesmo tempo, achava que tinha sido melhor assim, pois vai que uma das caronas fosse mais um pervertido como o caipira?! Teve muita “sorte” do fato ter acontecido nas redondezas, perto do sítio da avó, e não na rodovia de Belo Horizonte onde ficaria ainda mais indefesa. Dali para frente faria questão de andar só com motoristas do gênero feminino. Infelizmente, na sociedade em que estavam vivendo não era seguro confiar em homens desconhecidos, sendo que até os conhecidos às vezes podiam cometer aqueles atos horrendos.

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora