Cap. 46

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Talita estava no sítio de Tião e havia acabado de sair do banho. Entrou no quarto e trancou a porta. Sentou na cama ainda enrolada na toalha. Sentiu o vazio da saudade a acometer e começou a chorar. Era incrível como suas convicções mudaram com o titaquear do relógio, o que era importante havia perdido o brilho; dando novos coloridos ao que não eram tanto assim. A vida era uma caixinha de surpresas. Saber que o sangue de dona Cleuza corria em suas veias não lhe impressionou tanto quanto a morte de Tião; seu melhor amigo, talvez o único, pois já considerava a velha como sua vó desde sempre, a biologia só reforçava isto. Tivera a oportunidade de falar com ela a só e as palavras não se fizeram tão necessárias. No máximo apenas duas frases para colocar a idosa a par de que já estava ciente da verdade e um abraço caloroso uniu ambas num mesmo sentimento outrora desenvolvido com a convivência. Afinal, seria impiedoso demais da parte dela julgar dona Cleuza por seus atos pois seus motivos foram por demais relevantes. Esperava que sua mãe também reagisse da mesma maneira compreensiva e amorosa. Contudo, também não poderia culpá-la se resolvesse não perdoar a avó, visto que cada caso é um caso diferente e pessoas são essências individuais.

Abriu um sorriso de canto. Sentia como se finalmente uma alavanca dentro de si tivesse sido desbloqueada e agora conseguia expor seus sentimentos e emoções com mais facilidade. Claro que ainda não podia se comparar a Ane que sempre fora por vezes até exageradamente emotiva, nem queria, nem deveria, uma vez que as pessoas são universos peculiares a serem explorados e as diferenças são exatamente o que fazem a igualdade, porém para quem tinha uma dificuldade imensa de demonstrar amor e outros derivados, mesmo sentindo-os em excesso, era um progresso substancial. Era inevitável soar cômico. As experiências dos últimos meses a ajudaram a se aperfeiçoar sem amargura e revolta graças ao auxílio de sua namorada. Estava grata aos céus por Ane existir em sua vida, caso contrário poderia ter se tornado vítima das circunstâncias e escolhido sofrer ao invés de superar.

Apanhou o colar numa das gavetas do criado e ficou o analisando por alguns segundos. Suspirou profundamente. Estava na hora de entregá-lo a quem pertencia. Secou o pranto e se levantou em direção do guarda-roupa, deixando-o estendido sobre a cama.

Vestiu uma camisa branca de algodão e um jeans surrado com um cinto preto. Calçou suas botas marrons, e apanhou o chapéu preto que estava sobre a cômoda, qual havia herdado de Tião. Era o preferido dele, e quis ficar apenas com ele, dentre seus objetos pessoais como um símbolo emocional, e assim o sentia sempre por perto. Pegou o colar e guardou no bolso. Esperaria a oportunidade para dar a Ane como prova de seu merecimento e o carinho paterno não vivenciado mas plenamente sentido apesar da distância física.

Quando chegou na casa dos pais  encontrou a ruiva conversando animadamente com seus familiares. Não é que ela teve coragem de vestir a roupa que havia dito? Riu dela. Estava linda.

- Hora de ir. A não ser que queira perder a vaquejada - chamou e só então o quarteto notou sua presença.

A moça levantou de um pulo do sofá. Estava distraída, bastante empolgada e com um pouco  de inveja devido aos  presentes que a sogra ganhou do marido. Artur se mostrou um homem muito sensível. Era uma pena que Talita era muito desatenta para estes gestos de agrado, entretanto a amava como ela era, sem tirar nem por e levando em consideração que mostrava de outras formas.

- De jeito nenhum. Até mais pessoal - despediu-se puxando Talita pelo braço.

- Ha ha... Tchau pai, tchau mãe, tchau Teo.

- Tchau - eles despediram ao mesmo tempo novamente, acenando animados. Não iriam na exposição porque já haviam combinado de almoçarem num restaurante.

Assim que chegaram no parque de exposições, Ane olhou ao redor com obstinação, a cidade inteira parecia estar ali, além de um bocado de turistas. Elas exploraram o lugar. Os olhos da ruiva brilhavam a cada nova experiência. Nunca havia estado numa festa rural com direito a muita música e danças interioranas. Achou um espetáculo, adorou, enquanto Talita ficou rindo dela.

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora