Cap. 35

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Talita deu uma ajeitada na toalha, que amarrara no corpo, e decidida, entrou no quarto de Tião. Vasculhou as gavetas onde ele lhe informara que estaria o bendito testamento, e assim que encontrou os papéis sentou na cama conferindo-os minuciosamente.

Só viu seu nome e o de Ane nos documentos. Os bens haviam sido divididos em partes iguais entre elas. Não acreditou no que o homem tinha feito. Ele havia confiado parte de sua herança nela, e isso a assustou. Ele era herdeiro de uma fortuna, mesmo que não parecesse, pois não era de ostentar, optando naturalmente por uma vida simples e regada. Seu avô foi um inglês de posses. Havia até mesmo uma propriedade no interior da Inglaterra, uma casa na capital, e outra casa mais um apartamento nos EUA no nome de Ane. A cabana e o sítio ele havia deixado para ela porque sabe bem da sua paixão por aquelas terras, além dos animais, dentre estes; cavalos e bois de raça, que pelo seus conhecimentos, deveriam valer praticamente o preço de uma dessas casas e do apartamento. Também tinha uma herança em dinheiro no banco que foi colocado em duas contas separadas para cada uma delas. Não bastasse isso, havia outra riqueza em joias e pedras preciosas que ainda deveria ser avaliada e repartida entre ela e sua namorada. Talita estacou. Tião era um homem muito rico mas então por que viver trabalhando como peão para Demétrio? Que milionário viveria como um vaqueiro numa fazenda esquecida?

Ficou pensativa. Folheou os papéis novamente esperando encontrar alguma carta que deveria ser entregue a Ane quando ele falecesse, mas não tinha mais nada. Por que ele não queria se dirigir a Ane nem mesmo depois de morto? Não era justo que Ane tivesse que receber a notícia de que ele era seu verdadeiro pai por um tabelião e após seu óbito quando ele não poderia fazer mais nada pela própria filha, nem tentar ganhar a afeição dela, explicando os motivos que juntamente com Iolanda os levaram a não lhe contar a verdade.

Bufou.

Ajeitou-os de volta, não queria saber mais daquilo. A gaveta debaixo estava emperrada, e quando foi arrumar, avistou a caixa roxa com o colar, ao lado da carta de Iolanda atestando a paternidade de Tião. Pegou a carta e levou consigo para o quarto, onde depois de reler diversas vezes, guardou em seu criado.

Vestiu um jeans como de costume e uma camisa branca de botões, dando uma ajeitada básica nos fios. Precisava tomar uma atitude antes que fosse tarde demais e seu próximo endereço foi o hospital.

Suspirou agradecida por encontrar doutor Júlio de plantão. Assim como a mãe, e até mesmo Ane, começava a seguir sua intuição antes abafada pelo orgulho.

- Talita? - o doutor arregalou os olhos surpreso. - O que faz aqui a essa hora da noite?

- Preciso falar com o senhor... - contou olhando para mais alguns médicos cujos estavam reunidos na sala das refeições para um intervalo rápido de quinze minutos para o lanche, e depois deveriam retornar imediatamente para suas funções porque a doença, os acidentes e a morte não davam trégua. O grupo composto por cinco médicos também encararam a jovem curiosos, no entanto, não demoraram muito tempo na observação porque saco vazio não para em pé e para cuidar dos outros necessitam cuidar de si mesmos primeiramente.

- Tudo bem. Me acompanhe enquanto volto ao trabalho - doutor Júlio deu mais uma golada apressado na xícara bebendo todo o resto do café, pediu licença aos companheiros e saiu com Talita com a mão amigavelmente apoiada no ombro da jovem, feliz por ter conseguido comer antes dela aparecer. Não podia se atrasar e usaria os minutos que lhe restava para escutar a garota que parecia apreensiva, provavelmente com o estado crítico de Tião.

Quando enveredaram-se pelos corredores largos com paredes pintadas de branco, Talita pediu:

- Desculpe te interromper mas a enfermeira que está cuidando do Tião disse que você estava aqui.

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora