Cap. 7

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A natureza possuía sua própria melodia ao anoitecer, cada integrante compunha uma parte essencial para completar a sinfonia.

Podiam se ouvir: cacarejos, uivos, muges, latidos, miados, zumbidos, pios, enfim... A variedade de sons era infinita. Por vezes ensurdecedor, e depois de enlouquecer se podia escutar até um maestro mais ao fundo.

Talita conferiu as horas no rádio que ficava no criado mudo e desligou o gravador. Passar até horas analisando os sons da mata era um de seus hobbies prediletos. Qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade conseguiria apreciar a riqueza que havia na diversidade da floresta.

Arrastou a cadeira empurrando os pés que estavam apoiados na parede e num giro espetacular se levantou.

Tomou banho, depois vestiu uma camisa e uma bermuda surradas, calçou suas chinelas havaianas e seguiu em direção da sala.

Encontrou o pai e o irmão assistindo televisão enquanto a mãe estava focada numa leitura.

- Boa noite. Estou indo dormir - desejou por educação.

- Boa noite peoa - o pai foi o primeiro a corresponder.

- Boa noite minha filha - Matilda se levantou e deu-lhe um beijo carinhoso e demorado na testa.

Talita não ignorou, contudo, não demonstrou nenhum sentimento, ainda estava chateada com ela. Pois a mãe não respeitava seus gostos, nem incentivava seus sonhos. Parecia ser contra todas suas escolhas. Não via a hora de completar dezoito anos e sumir dali.

Se dirigiu secamente para fora da casa.

- Oxi... O que há com Talita? Tá com uma cara de jumento quando empaca - percebeu o pai.

- Está fazendo pirraça porque falei pra ela que mudamos de ideia com relação a competição. Depois ela queria ir caçar e não deixei.

- Não acha que está sendo muito dura com ela? Afinal são os hormônios!

Matilda o fixou embaixo dos óculos e depois de ajeitá-los levantou a cabeça afirmando com convicção:

- Não quando você tem um dom e sonhou com sua única filha morta em seus braços da mesma forma que sua melhor amiga morreu.

- Não pode controlar a vida dela, já pensou que ela queira ir embora depois que alcançar a maior idade? Tem coisas que simplesmente acontecem porque tem que acontecer. Está traumatizada com a morte de Iolanda. Não compare as duas.

- Eu sei o que estou fazendo homem! Não confia em mim? Essa rebeldia é influência daquele traste do Tião. Mas isso eu posso sim mudar, e enquanto ela estiver aqui vai ter que me obedecer. Além do mais, vamos combinar que não existe destino, a vida é feita de escolhas.

Artur soltou uma bufada e preferiu não continuar discutindo com a esposa, pois ele sempre acabava perdendo nos argumentos. Matilda tinha a personalidade forte e não admitia ser contestada sem um bom motivo.

Talita encontrou dona Cleuza assistindo televisão sentada na sua poltrona de tecido marrom.

- Boa noite senhora.

- Boa noite, adivinha?? Fiz aquela torta de frango que você adora, está lá no forno.

- Hummm... Vou comer!

- Vai lá.

Talita foi pra cozinha quase correndo, tinha mais afinidade com Cleuza do que com a própria mãe. A velha sabia agradá-la.

Serviu um prato generoso e se sentou apreciando o sabor.

Momentos depois, Ane apareceu na cozinha com os cabelos molhados e desalinhados, notava-se que tinha acabado de tomar banho, seu perfume exalou por todo o ambiente.

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora