Cap. 39

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Enquanto Talita ainda estava incrédula, mesmo depois de alguns minutos da notícia dada, Ane ficou anestesiada. No momento em que descobrira que o homem era seu verdadeiro pai, ele havia partido sem lhe dar a chance de uma conversa para esclarecerem os fatos como deveriam ou um abraço logo depois da reconciliação. Sim, Talita tinha razão. A temporada significativa na cidade a fez despertar para muitas virtudes, e uma delas era a compreensão e julgar menos antes de uma avaliação minuciosa. Pelo pouco tempo que viveu com ele graças ao intermédio da namorada, pôde perceber que seu progenitor era um ser de bem, apesar das inúmeras imperfeições, mas quem não tem defeitos não é mesmo? E tudo que desejava era poder falar com o ruivo para entender os motivos que o levou, juntamente com sua mãe, a omitirem sua paternidade. Agora quem poderia fazer isso por ela? Duvidava que a avó tivesse coragem para tocar no assunto, e talvez fosse só impressão dela e dona Cleuza não soubesse de nada, mas a própria mãe havia confirmado na carta que foi a idosa quem os separou. Não sabia o quê fazer. A vida teria sido injusta em separá-los antes mesmo de terem tido uma oportunidade de tentarem conquistarem o carinho do outro? Algo que só a convivência poderia lhes proporcionar! Na noite anterior, antes de finalmente ler a carta, havia visto Tião no caixão e se lembrou que Cordélia a avisara que sua vidência iria aumentar com o desenvolvimento, e assim se sucedeu.

Talita tremia encostada no braço do sofá repetindo palavras de descrença, revolta e uma tristeza profunda.

- Não pode ser verdade! - a vaqueira murmurava com os olhos fixos num ponto invisível e foi isto que chamou a atenção de Ane para a realidade. Tinha que ser forte pela noiva porque ela era quem mais sofreria com a morte do homem a quem tinha uma afeição admirável.

- Infelizmente é verdade sim minha filha - Matilda a fitava compadecida. Sabia o quão Talita amava Tião. Aproximou-se no intuito de abraçá-la para confortá-la de alguma forma, mas a garota se esquivou do contato abruptamente. - Acabei de ser avisada - a mãe estranhou mas continuou explicando. - Ligaram do hospital.

- Não, isso só pode ser um engano! - Talita replicou afastando-se em passos maquinais.

- Talita! Espera! - Matilda suplicou. Ela não podia sair naquele estado. Acabaria causando um acidente.

Mas a vaqueira não deu o devido ouvido. Saiu correndo de maneira automática, entrou no carro e dirigiu com a intenção de ir até o hospital com a esperança de que realmente tivessem se precipitado e tudo não passasse de um mal- entendido.

Ane tentou correr atrás dela mas não houve tempo de alcançá-la.

Toda a cidade e principalmente o hospital ainda estavam terminando de se recuperarem da tempestade violenta que aconteceu durante a madrugada, e Talita atravessou os corredores cegamente assim que estacionou bruscamente num local indevido em frente ao prédio. Parecia que por mais rápido que corresse, não conseguia chegar a lugar algum, ou que tudo estava passando em câmera lenta. Sequer estava se lembrando das leis de trânsito naquele instante, só queria rever Tião vivo nem que fosse pela última vez.

Quando chegou  no quarto que ele estava ocupando, encontrou-o completamente vazio. O corpo já havia sido recolhido pela funerária.

Começou a chorar copiosamente num desespero de comover qualquer um que passava por ela e a via naquele estado.

- Tião, Tião... Não faz isso comigo. Por favor... - sussurrava para si mesma segurando uma dor emocional na barriga.

Matilda e Ane não demoraram a aparecer. Talita deixara claro que iria parar ali atrás do peão.

- Ele se foi minha filha - Matilda a amparou. - Não há mais nada que possamos fazer por ele neste plano.

- Talita, escuta a Matilda. Você precisa se acalmar, vai acabar tendo um colapso - Ane reforçou pegando-a pelo o outro braço. - Encontramos com o doutor Júlio na recepção e ele disse que o estado do Tião se agravou, que sua doença teve complicações irreparáveis! Por favor, compreenda! Eu também estou triste, mas não há mais nada para fazer! O caso já estava muito avançado.

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora