Cap. 23

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Talita observava Ane adormecida serenamente em sua cama, sentada ao lado dela, lhe fazendo carinho no cabelo, quando foi interrompida por uma leve batida na porta entreaberta.

Ela se virou e deparou-se com Tião, chamando-a numa balançada de cabeça.

Seguiu-o até seu quarto procurando fazer o mínimo de ruído possível para não acordá-la e como o sono dela era pesado sequer se mexeu. Aquele era o santuário dele. Não ousava entrar sem sua permissão, agora que tinha não hesitou em analisar tudo minuciosamente.

Acompanhou-o acender um cigarro e dar profundo trago. Talita cruzou os braços encostando-se na parede para examinar o espaço com mais afinco. O ambiente era simples, composto por uma cama de casal, um guarda-roupas, dois criados, e uma poltrona próxima da janela.

- Como ela está?

- Melhor. Acabou dormindo - respondeu cabisbaixa.

- Não se amofine. Ela vai ficar boa. Só foi uma queda de pressão. Ela não está acostumada com o calor infernal da cidade.

Talita preferiu se calar, sabia que não era somente por isto, que ela ficara assim depois que viu o touro. No entanto, nem ela mesma entendia porque Ane passara mal por causa de Relâmpago. Sua sardentinha podia ser medrosa quase ao extremo mas não tinha motivos para se assustar com o touro mesmo que ele fosse um animal intimidador porque estava preso com muita segurança. Viu algo estranho no olhar de sua ruiva que entregava algum fato desconhecido.

- Você ama essa moça, não é? - Tião lhe lançou um olhar crítico.

Ela assentiu. Observou-o largar o cigarro no cinzeiro, abrir o armário de roupas e tirar uma pequena caixa roxa aveludada de dentro de uma das gavetas. Ele soprou o pó e entregou-a aconselhando:

- Então dê a ela como prova disto.

Talita pegou-a desconfiada e deveras curiosa. Conteve-se pensando se abria ou não, então o fitou esperando por mais um consentimento da parte dele.

- Abra - ordenou ele resoluto.

Enfim ela tomou coragem para obedecer.

Ficou surpresa com o que havia lá. Era um colar de ouro com um diamante cravejado num pingente delicado em forma de coração.

Talita meneou a cabeça energicamente:

- Não posso aceitar isso! - avisou o entregando.

- Pode e deve! - ele rebateu segurando a caixa na mão dela com força.

- Não Sebastião! - negou firme. - Quem deve fazer isto é você!

Ele fixou-a intrigado, não acreditando no que ela queria lhe dizer com aquela advertência. Esperou em silêncio por uma explicação.

- Eu sei de tudo... - confessou ela num titube. - Eu sei que não tinha o direito de invadir sua privacidade desse jeito, - deu de ombros - mas a minha curiosidade foi maior do que a minha vontade de me controlar.

- Do quê está falando? - indagou atônito.

- Você sabe! Eu li a carta - confessa diretamente. - Você estava bêbado com ela jogada num canto. Fui arrumar e não resisti.

O mundo de Tião desmoronou naquele momento. Era imensamente custoso relembrar aquele fato todos os dias de sua medíocre existência. Ao contrário do que Talita esperava, ele suspirou profundamente, não demonstrando nenhuma contrariedade, pois parecia que ele tinha tirado um peso da alma ao finalmente poder dividir seu segredo com alguém e graças aos céus com ela que estava no lugar de sua filha. Porém, mesmo que se considerassem assim, unidos pelos laços do coração e da afinidade, não era ela quem tinha seu sangue correndo nas veias.

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora