Cap. 37

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Talita nunca foi uma garota tímida, pelo contrário, por onde quer que passa esbanja carisma, gentileza e generosidade que até parece de mentira. Destacava-se por ser diferente da maioria dos adolescentes que afogam-se no mau humor, são grossos, vivem fechados no seu mundinho egoísta imaginário muitas vezes sem um motivo relevante para justificar a intemperança. E exatamente pelo seu jeito de ser causava inveja em muitas pessoas da sua idade, principalmente nos garotos por conta da forma que desconstruía os padrões de gênero deixando explícito que não precisava ser heterossexual, feminina, gostar de brincar de bonecas, ter apenas amigas mulheres, usar vestido e rosa para ser a mulher espiritualmente forte e amável que era. Os adultos a respeitavam e não sabia estes que pelo próprio mérito da menina, contudo não havia nada forçado nela. Suas atitudes sublimes brotavam de maneira autêntica. Talita era o tipo de adolescente que ainda carregava a pureza da fase infantil sem anular a sabedoria quando necessário. Tivera muitas experiências que agregou nos últimos meses que consequentemente lhe fizeram amadurecer espantosamente e muitas delas devia a amizade de Tião, por isto se sentia no dever de recompensá-lo, não por obrigação e sim por uma questão de reciprocidade. Quantos com dezesseis anos decidiriam doar uma parte do fígado para um doente, ou gostavam tanto da companhia de pessoas mais velhas?! Não que as preferências e a disponibilidade dos outros fossem supérfluas, porém, Talita Ferreira se evidenciava em seu meio. Seus colegas estavam mais preocupados em irem para festas, se divertirem, beberem, ficarem com quantas pessoas puderem numa única noite, enquanto que lazer, para ela, significava montar seu cavalo e galopar mata à dentro sem rumo, e era assim que se sentia naquele palco ao lado do irmão caçula. Equinos selvagens corriam livremente dentro do seu vasto coração.

Dona Cleuza foi a primeira a ver Talita lá em cima, com um microfone na mão trêmula e paralisada com as bochechas coradas, a idosa levantou as sobrancelhas na direção. Ane que deliciava-se com seu suco de laranja, a fita já impaciente:

- O que vocês estão escondendo de mim, hein! Posso saber?

- Nada, quero dizer... Bem, ahn...

- Fala logo vó! - arfa revirando os olhos excessivamente curiosa. Era como se fosse dar um piripaque a qualquer instante.

Foi Matilda que seguiu os olhos de dona Cleuza e segurando no ombro de Ane apontou os filhos prontos para executarem uma performance, só estavam esperando pela atenção dela. 

Assim que Ane os viu, ficou estática. Não esperava por aquilo. O que Talita pretendia com o microfone e Teodoro com seu violino? Já havia sido agraciada com o talento do garoto para tocar o instrumento mas não contava com uma apresentação pública.

Todos os clientes haviam prendido os olhos nos dois jovens e estavam ansiosos esperando pelo momento em que teriam uma amostra das habilidades de ambos para a música, só que sequer imaginavam que tudo havia sido minimamente planejado entre a vaqueira e o dono do restaurante, amigo de dona Cleuza, e o apoio desta foi de suma importância para ele ceder o espaço para que ela pudesse se expressar para a namorada. Se tivesse sorte, os dois poderiam ser mesmos bons na cantoria, e, acabaria lucrando distraindo seus clientes no dia que o movimento era ruim.

Os olhos da morena encontrou os da ruiva e foi como Teodoro havia adiantado, parecia que só existiam as duas ali e toda a magia estava concentrada na troca de energias. Foi então que Talita teve certeza absoluta que só Ane tinha o poder de constrangê-la.

Teodoro percebeu sua vergonha e cutucou-a discretamente. Talita reagiu com o estímulo e deparou-se com a expectativa no olhar de todos os presentes, até mesmo do dono do local. As pessoas começaram a achar que de fato eles eram amadores e desanimados desconfiavam que nada ia sair dali.

Ane franziu a testa esperando por uma atitude de Talita e isto foi o suficiente para ela levar o microfone à boca e Teodoro começar a tocar.

O som acolhedor que reverberava do instrumento acalmou os nervos de Talita e ela se embalou pela melodia até chegar o momento de cantar a letra de Fernando Aniteli.

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora