Cap. 44

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Ane chorou até que não existisse mais nenhuma lágrima, nenhuma emoção abafada. Não soube quanto do tempo se passou desde que chegara com o coração em mãos e se trancara ali dentro. Teve a impressão de que ouviu alguém chamando-a, mas não tinha certeza já que provavelmente acabou cochilando nesse ínterim.

Levantou o olhar em direção da janela. O sol já estava se escondendo. Levantou e guardou os livros pessoais dentro do baú junto com os lenços. Dona Cleuza tinha seus motivos para guardar suas lembranças, e não seria ela ninguém para julgá-la.

Saiu do sótão, um tanto cambaleante, por ter ficado tanto tempo na mesma posição e com os olhos ardendo de tanto que chorou, porém sentindo-se devidamente esclarecida.

Ultrapassou o corredor. A casa estava silenciosa.

Matilda havia deixado um bilhete na cozinha pendurado na geladeira, dizendo que não quis incomodá-la pois deveria estar dormindo, que havia um lanche no forno, e que fora para o hospital.

Subiu novamente e se enfiou debaixo da ducha para um banho relaxante, ainda assimilando tudo que havia lido e digerindo as emoções das intensas descobertas.

Dali seguiu até a casa que ficava no interior do quintal a procura de sua namorada. Precisava vê-la e senti-la em seus braços. Somente ela tinha o poder de consolá-la.

- Ela veio aqui depois de ter ido no haras assim que saiu do colégio. Tinha me dado uma carona. Procurou por você mas não te encontrou -  Teodoro explicou.

Ane assentiu, sussurrou um muito obrigada.

- Está tudo bem? - ele questionou achando-a estranha.

- Sim, Teo. Obrigada por perguntar - Ane agradeceu com um meio sorriso sem dentes. Vicente Diaz fez com que ela ficasse até mesmo mais educada do que o normal.

O garoto sempre muito neutro, preferiu não insistir.

Ane seguiu para o quintal e montou na bicicleta. Saiu sem rumo, guiada por sua intuição e foi parar no sítio de Tião.

Encontrou a vaqueira na garagem, terminando de dar alguns ajustes na picape que desde o acidente na noite da tempestade tinha diminuído sua ótima funcionalidade.

Jogou a bicicleta no chão.

Talita só percebeu sua presença por causa do barulho. Estava bastante concentrada em arrumar a herança do amigo falecido. Nunca se importara com bens materiais, para ela, a única importância que eles poderiam ter era a emocional, tirando o básico que precisavam para sobreviver. Já cogitara em colocar algumas peças de roupas numa mochila, escolher umas ferramentas e uns objetos e viver acampando, como sempre sua mãe a podara, berrando que ela estava era doida de fazer isto, que tinha que estudar, se formar e exercer uma profissão e não virar uma andarilha. Mas ainda acreditava que o ser humano não necessitava de muito para viver e que a maioria do que eles queriam ou possuíam não era de fato essencial e sim um suprimento do ego e da vaidade.

- Sardentinha! Pedalou até aqui?

Ane a fitou em silêncio por alguns segundos.

Talita estava apenas com uma bermuda e um toper. Tinha umas manchas de graxa por partes do seu corpo musculoso. Sua barriga parecia mais malhada do que nunca.

Dispensou qualquer palavra e se jogou no pescoço dela,  beijando-a com ferocidade.

Talita correspondeu. Tirou as luvas de mecânica. Ane a beijava como se o mundo fosse acabar, deixando-a completamente sem fôlego. Agarrou-a pela cintura e foi conduzindo-a até a cozinha, pela entrada dos fundos que ficava mais perto. Estava morrendo de saudades dos beijos de sua noiva, visto que com tantos problemas, mal estavam tendo tempo para a demonstração sexual de seus sentimentos, e Ane deixara explícito que também compartilhava do mesmo anseio.

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora