Cap. 21

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Ane estava imensamente feliz. Talita lhe envolvera num abraço perfeito.

Encaixara seus braços em torno de sua cintura pelas costas. Era simplesmente maravilhoso sentir a respiração dela na nuca, enquanto que, com os pés mergulhados no manancial cristalino, elas caminhavam entrelaçadas num mútuo sentimento.

A água brotava entre as pedras, num local inacessível aos olhos, intocável pelo homem. Talvez estivesse escondido ali, a essência que proporcionava tamanho encanto. Pingos ecoavam de algum ponto que não conseguiu visualizar, indo de encontro a superfície, compondo uma melodia excêntrica e esplendorosa.

A natureza era singela na sua magnitude.

- Isto é incrível! - elogiou. - Estou apaixonada.

- Ah! Obrigada! São seus olhos! - brincou Talita.

Ane se virou para ela:

- Sua boba! Não estou falando de você, e sim desse lugar. Parece que estou sonhando e não quero acordar nunca mais!

- Então vamos voltar no tempo, virar mulheres da caverna e morarmos aqui - sugere descontraidamente.

Ane riu:

- Nem pensar! Não é pra tanto.

- Uai, não custa nada tentar - dá de ombros.

- Quem será que fez tudo isso? - Ane indaga analisando cada canto da caverna com pura admiração.

- Como assim?

- A criação. A origem do universo.

- O big bang, ora - mencionou.

- Acho que não podemos explicar tanta complexidade...

- Nem eu, mas acho que viemos mesmo do nosso ancestral em comum com os macacos, só que eles são bem mais inteligentes que muito humano por aí. Hehe.

Ane gargalhou:

- Você é muito palhaça Talita! Não dá pra falar sério pelo menos uma vez na vida?

- Ok... Vou abrir uma excessão pra ti. Minha mãe diz que por enquanto não podemos saber completamente toda e profundamente a origem da vida em geral, porque ainda nos falta alguns sentidos pra compreender. A medida que formos ganhando conhecimento, que só é possível depois de várias encarnações, o véu vai se descobrindo pouco a pouco, até atingirmos a posição de espíritos evoluídos.

Ane fitou-a com uma expressão surpresa:

- Acredita nisso?

- É, acho que sim. Tenho minhas dúvidas.

- Então existe um deus?

- Ela diz que sim. Um criador, que nos fez almas simples e ignorantes, e nos concedeu o livre-arbítrio.

- Hum... - Ane se virou novamente puxando os braços dela para outro laço. - Sendo assim, não tem curiosidade de saber quem você foi em outra vida?

- Oxi... Pra quê? A única vida que importa é o agora. Se bem que as vidas passadas devem explicar muitas coisas aparentemente inexplicáveis no presente.

- E esse lance de céu e inferno que as religiões falam?

- Bom, são alegorias, pra definir o estado da consciência em que o espírito se encontra.

- Quer dizer que a alma da minha mãe continua viva em algum lugar?

- Me fala você o que acha disso?

- Eu creio. Eu não te contei, mas a gente se fala durante o sono. Ela aparece pra mim.

Talita não respondeu de imediato, assimilou por alguns instantes. Ela puxou o rosto de Ane para si e investigou:

Minha Cowgirl Favorita ( Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora