XI

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As ruas começavam a ficar mais estreitas e escuras. Tudo bem por ali ser em uma cidadezinha pequena e muito pouco agitada, mas, Darcy sentiu preocupação em imaginar Lizzy andando por essas ruas naquela hora e sozinha.

– Ainda bem que eu insisti em te acompanhar. – Darcy falou alto suficiente para que ela ouvisse.

– Não há motivos para você achar que sou tão indefesa a ponto de não ter capacidade de andar em uma rua sozinha. – Ela disse com um tom teimoso que conseguiu irritá-lo de uma forma que nunca imaginou que alguém pudesse.

– Você é muito orgulhosa, Lizzy. – Disse sabendo que conseguiria atingi-la também. – De uma forma que nunca vi em ninguém. E isso é péssimo e talvez seu único grande defeito. Todos nós temos fraquezas e não se deve ter vergonha disso. A questão não é falta de capacidade, mas, falta algo em você. Falta ser mais humilde, mais vulnerável e amável.

Lizzy parou ao escutar Darcy chamando-a de orgulhosa. Não importava o horário ou o quanto Jane, papai ou mesmo sua mãe estivessem preocupados com ela; virou-se para ficar frente a frente dele e respirou fundo tentando controlar toda sua vontade de esganá-lo com fervor.

– Eu sou orgulhosa, Darcy? Eu? – A voz aumentava cada vez mais e estava pouco se importando se a vizinhança acordasse por causa disso. – Sempre os outros têm defeitos, sempre os outros que têm preconceitos, mas, nunca o inabalável e perfeito moral, ética e politicamente Darcy, né? Você realmente engradece muito essa sua imagem. Isso é um dos fatos do por que eu não suportar estar ao seu lado, como agora.

– Eu tenho defeitos, fraquezas, problemas e nunca, em toda minha vida, me senti perfeito ou inabalável, Srta. Bennet. E acho que ao mesmo tempo em que me julga tudo isso, deveria começar a aceitar mais educadamente as críticas que as pessoas que se importam com você dão. Não quis te ofender ou magoar, só é um fato que está mais claro para mim agora.

– Você é muito petulante ao ponto de...

– Não sou petulante. E para a senhorita ter uma simples ideia do quão fraco eu sou, a minha maior fraqueza é confiar e acreditar em pessoas tão rapidamente. E eu acreditei em você. Desde o momento em que a vi caminhando ao lado de sua irmã, eu estranhamente confiei que você não era interesseira como as que conheci, e que tinha um bom coração. Mas, agora, eu vejo que foi um grande erro tudo isso. – Darcy sempre tinha achado que era um erro pensar tantas coisas boas sobre ela sem ao menos conhecer Elizabeth realmente bem, mas, olhando-a para ela agora, irritada, cansada e com frio daquele vento... Sentiu pena que ela tivesse criado tantos muros, em volta de si mesma. Talvez, seria impossível conseguir alcançá-la... – Vamos, está ficando frio e acho que não vamos chegar a nada se continuarmos aqui gritando e brigando.

Elizabeth só balançou a cabeça, tentou aquecer, um pouco que fosse, os braços, e foi andando mais lentamente. Darcy ficou parado por um instante, decidindo se continuava a segui-la ou se voltava para casa. Ele encarou a silhueta pequena e delicada de Lizzy e sentiu o coração apertado. Suspirou e saiu correndo atrás dela.

– Tome. – Disse Darcy com um tom rouco e forte. Elizabeth virou-se e viu-o estendendo seu casaco na direção dela. – Está frio, e acho que você não está acostumada a ele igual eu sempre estive.

Claro que não estava, ela passou até alguns dias atrás naquele calor infernal americano que conseguiu esquecer de como aproveitar o frio, constante e severo, inglês. Elizabeth simplesmente assentiu e pegou de bom grado. Sentiu uma enorme sensação de conforto no momento em que o casaco dele tocou em sua pele. O aroma de Darcy e o calor do tecido a deixaram embriagada por uma sensação que ela mesma desconhecia.

Assim, nem sentiu necessidade de sair apressadamente e continuar seguindo aquele caminho. Ela decidiu caminhar no ritmo dele, calmo e demorado, como se nada o abalasse ou aborrecesse. Sentiu inveja disso e limpou a garganta, chamando-o a atenção.

– Obrigada. – Ela disse num tom baixo e seco.

– De nada. – Ele falou risonho. Ela tinha acabado de deixá-lo incrivelmente irritado e agora, ela estava conseguindo faze-lo rir? Darcy não entendia como ela conseguia esse feito, mas, admirava-a mais ainda dessa forma.

– O que foi? – Ela o olhou, cansada. Não queria brigar, só matar a curiosidade e o tempo, já que sentia que preferia mil vezes brigar com ele do que só escutar um profundo silêncio entre os dois.

– Nada. Só acho incrível como você consegue me enlouquecer com tantas atitudes contraditórias e eu simplesmente nem me importar um pouco com isso.

– Você é sempre direto assim? Nunca pensou nas consequências do que diz para mim, por exemplo? – Lizzy agradecia mentalmente por já conseguir ver a luz de sua casa a poucos metros de distância.

– Lizzy... – Darcy sussurrou e segurou o braço dela. – Antes que você vá, eu preciso saber uma única coisa. Sem brigar ou ofender.

– Pergunte. – Ela não entendia a capacidade dele em conseguir fazê-la prestar atenção com tanta vontade e rapidez. Ela não era assim nem com Jane.

– Se não houvesse esse problema com sua mãe, ou se eu não fosse rico, se fosse exatamente igual a você.... Nós teríamos alguma chance? Você teria me dado alguma esperança? – A voz dele era baixa, intensa e fervorosamente delicada. Ela sentiu uma enorme vontade de acariciar o cabelo macio e desarrumado dele, como se pudesse dizer: não se preocupe com isso.

– Com tantos "se"... – Ela sentiu que iria dizer algo irônico, mas, ao olhar novamente para aqueles olhos necessitados de uma resposta sincera... – Sim. Admito que se não fosse pelas circunstâncias atuais, você seria tão menos insuportável que eu aceitaria e te daria qualquer esperança que quisesse, Darcy.

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