VII

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– O que você acha? – Jane apertou os dedos, ansiosa pelo "sim" dele para se encontrarem novamente.

Claro que eu aceito! Será uma ótima oportunidade para nós conhecermos melhor... Digo, a cidade melhor... Para eu conhecer a cidade melhor – Ele ficou nervoso, mas, Jane não percebeu.

– Ótimo! E tenha certeza, dessa vez Elizabeth não vai e nós não teremos problemas! – Jane se sentia culpada em excluir a irmã assim, mas, Lizzy praticamente estava pedindo para ser excluída.

NÃO VAI? – Uma terceira voz apareceu e Jane só pode supor que era Darcy. Ela sorriu ao perceber que pelo menos Darcy não escondia seu interesse por Lizzy.

– Bingley?

Oi, desculpa... O Darcy só ficou um pouco desapontado pela notícia e... – Jane percebeu que ele e Darcy estavam discutindo algo... – Jane? – A voz de Darcy se destacava rapidamente em relação de Bingley, Jane compreendeu que ele pediria algo a ela.

– Sim?

Você poderia pedir para sua irmã me encontrar no parque central amanhã? Às 14h? – Darcy rezava para Jane ajudá-lo com a própria irmã.

– Posso tentar... Mas, algo me diz que ela vai estar lá. – Jane abaixou a voz no instante que viu Lizzy encarando-a. Será que ela havia escutado?

Obrigado... Jane? – Bingley, pelo jeito, havia ganhado a posse do telefone novamente.

– Oi – Ela riu do jeito que ele perguntara por ela. Um tom de preocupação? Nervosismo?

Desculpa por isso... Então, a gente se encontra... Onde?

– Tudo bem! Vamos nos encontrar no shopping e de lá, damos uma volta pela cidade. Que tal?

Por mim está ótimo. Eu preciso ir... Resolver umas coisas com Darcy...

– Ah, claro. Então, até amanhã!

Até! Boa noite!

– Boa noite...

Eles desligaram para – infelizmente – resolverem os únicos detalhes que faltavam: convencer Lizzy a sair com Darcy e fazer o mesmo perceber o que sente por ela, não necessariamente nesta ordem.

– Eu escutei. – Elizabeth olhava para Jane. – E você sabe o que vou dizer?

– Não. E estou farta disso! Admita para si mesma, Lizzy, você não tem problemas com ele! Ele gostou de você! Deixe-o te conhecer! Qual é o problema nisso?

– Você sabe. – Ela olhou para Jane com uma expressão de "só existe um problema, e você sabe qual é", Elizabeth sentou-se na cama esperando que a irmã percebesse do que estava falando.

– Desculpa se não sou exatamente tão inteligente quanto você acha que eu sou... E não, não sei do que você está falando! – Jane estava ficando, pela primeira vez, cansada das atitudes mimadas de Elizabeth.

– Eu nunca darei corda a qualquer sentimento que Darcy esteja nutrindo por mim, simplesmente por causa da nossa mãe. – Lizzy disse como se fosse a resposta mais óbvia do mundo e não percebeu a incredulidade da irmã.

– O que ela tem com isso???

– Ela mataria para nós casarmos com homens extremamente ricos. E se ela souber dos dois, nunca nos deixará em paz... Até estarmos casadas com eles. Eu me recuso a ajudá-la nesse planinho ridículo.

– Ah, claro... Esqueci como você adora ser contra todos os sonhos que mamãe tem para as próprias filhas. Você também acha que ela é a única mãe que sonha pelo bem dos próprios filhos? Lizzy! Para de ser essa garota birrenta! Você gostou dele! – Jane viu o olhar da irmã e se enfureceu – Não me olha assim! Eu estou dizendo a verdade, aceite-a! Para de criar desculpas em situações que você não pode controlar! Você vai amanhã e pedir desculpas para ele! Você vai esquecer essa idiotice sobre nossa mãe, que não controla nossas vidas, e viver sua vida e me deixar viver a minha! Entendeu!? – Quando viu, Elizabeth estava surpresa com a atitude da irmã e ficou calada quando Jane havia terminado o desabafo. Será que ela havia passado dos limites? Jane percebia que a resposta seria sim...

– Acho... Que vou visitar papai na biblioteca... – Elizabeth não queria mais ouvir nada e não achou certo continuar ali no quarto.

Por mais verdades escondidas uma nutria da outra, era a primeira vez que as duas estavam abalando o forte sentimento fraterno que uma sempre teve pela outra.

A questão era se Jane poderia fazer Elizabeth perceber que a vida dela estava passando e que ela estava perdendo várias oportunidades... E Lizzy estava com medo de que todos estivessem certos.

...

– Você, definitivamente, perdeu o controle. – Bingley riu e entregou a bebida para o amigo.

– Não perdi nada. Pelo contrário, me sinto muito bem... – Darcy olhou para o sorriso sarcástico de Bingley. – Não sei qual é a graça...

– Darcy. – Bingley tentou mostrar qual era a graça. – Você falou com a Jane para convidar a irmã dela, que até ontem, você só falava mal! Você perdeu o controle e até está parecendo... Desesperado. Essa é a graça. – E assim, bebeu o drink que havia feito, enquanto observava Darcy se "contorcer" por estar sendo contrariado.

– Não estou desesperado com nada...

– Está desesperado por ela. – Bingley o interrompeu.

– Não estou. Só quero conhecê-la melhor. – Darcy deu com os ombros, fingindo não estar dando muita importância.

– Claro. Com a diferença de um dia, seus sentimentos foram de total repúdio à imagem dela para, inesperadamente, total interesse em qualquer quesito que fosse sobre Elizabeth Bennet... Por favor, isso é uma clara definição de desespero por alguém. – Ao dizer tão calmamente a sua opinião, Bingley percebeu que o amigo ficou sem palavras.

– Eu... Não... – Darcy tentou achar uma ótima réplica para a provocação do amigo, mas, não sabia o que dizer.

– Você está com medo. Você não sabe o que está sentindo, e por não estar – pela primeira vez na sua vida – no controle de algo, você fica com medo, e do medo... Vem o desespero... E foi o que você fez. Você quer saber o que está sentindo, por isso quer encontrá-la amanhã. Você quer conhecer quem te deixou dessa forma... Apaixonada. – Bingley usou o termo apenas para provocá-lo e tentar tirar a feição assustada que o amigo havia adquirido.

– Acho que está na hora de descansar. Foi uma longa noite, e amanhã, o dia será cheio!

– Pode fugir, mas, não pode se esconder do que sente! – Bingley disse alto enquanto Darcy corria em direção ao seu quarto.

Os quatro estavam em conflito. Mesmo, Jane e Bingley conhecendo seus sentimentos, estavam temerosos por não conhecerem e confiarem – de fato – um no outro, o que os deixava na mesma situação que Elizabeth e Darcy estavam... Simplesmente, por nunca terem estado numa situação – com uma carga tão intensa de sentimentos – como essa antes.

O interessante é que quanto mais existisse o medo regido pela insegurança e pelo desconhecido, a vontade, dos quatro, pelos seus devidos encontros do dia seguinte, aumentava cada vez mais. E isso era a real beleza do conflito sentimental humano, eles podiam temer o quanto que fosse, mas, mesmo assim, ansiavam por tudo aquilo.

...

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