Casos & Descasos

XVIII

Instantes depois, ele faz a única coisa que queria fazer antes de vê-la partir.

Ele a beija com toda força e vontade que existem dentro dele. Não importa o que ela estaria pensando sobre o ato, se estaria o odiando agora ou não... Ele só queria sentir, pela última vez, como era estar vivo nos braços da mulher que o fez amar de verdade, que o fez querer aproveitar a vida ao lado dela e ter todos aqueles sonhos idiotas que normalmente as pessoas têm quando estão apaixonadas.

Ele sabia que não duraria muito, mas, tornou aqueles últimos segundos em uma eternidade que decidiu guardar para sempre na mente. Para sempre na alma. Queria guardar cada recordação dela, cada cheiro, cada gosto... E aquela era a última oportunidade, então, fez com tudo que sentia.

Lizzy não dissera nada. Não pensara em nada. Apenas o beijou também.

Porque ela queria e sabia que se arrependeria se não tivesse feito. Ela iria sentir saudades todos os dias de ter aquilo. De se sentir feliz e irritada ao lado dele, de perceber o coração acelerar por causa de um mero sorriso de Darcy.... Ela sabia que seria incompleta sem ele, e por isso, o beijou na mesma intensidade do sentimento que guardava dentro dela.

Aos poucos, os dois sentiram que necessitavam interromper o beijo, e ao passo que suas respirações se acalmavam, eles se distanciaram.

- Algo me diz que você vai falar que sentirá falta disso também. – Lizzy o encarou tristemente, não sabendo mais como se defender de qualquer outra investida que ele resolvesse fazer. Ela o queria, mas o preço era alto demais.

- Pode parecer rápido demais, ou exagero meu, mas, nessa semana que eu já estava novamente aqui, os dias se alongaram de uma forma totalmente maluca. Meus pensamentos estavam com você, somente, Lizzy. Eu nunca entendi bem o processo de cicatrização, porém, fui vendo que a dor não passa de fato, é o corpo que se acostuma com a dor, e aos poucos, a única coisa que fica é a ausência de tudo que você sentiu. Um vazio que não tem fim, que aumenta o seu desespero em tentar cobri-lo com outros afazeres, mas.... É impossível.

Darcy podia não mais perceber, mas, Lizzy sentiu o tom cansado na voz grave dele, como alguém que tivesse voltado de uma longa batalha, sem nenhuma vitória, sem nenhuma companhia. Os olhos de Lizzy começaram a encher, de emoção, de uma saudade que não deveria ser tão grande assim, e para não piorar o clima que se instalara ali, ela desviou o olhar dele.

Instantes seguintes, enquanto os dois tentavam acalmar os corações inquietos, apesar de tudo que haviam sentido, um pelo o outro, dos polos mais extremos possíveis, o alto falante iniciou as chamadas para embarques de vários voos, e enquanto Darcy mentalmente rezava para que não mencionassem o de Lizzy, na sétima chamada, ela se levantou.

- É o meu voo... – Ela olhou sem graça para ele.

Tomado pelo desespero porque não saberia quando eles se veriam novamente, Darcy segurou a sua mão.

- Pelo menos, vamos combinar um encontro? Na sua volta? – Os olhos dele novamente estavam a encarando, como se pudessem ver a alma dela.

- Mas.... Eu não sei quando vou voltar, eu estava planejando arranjar um trabalho qualquer para me sustentar e me manter por lá por um tempo, até conseguir um emprego de professora, e me estabelecer. – Ela confessou baixinho.

Ele ficou sem palavras.

Não era só uma viagem para aprimorar o currículo dela e daí ela vinha para cá?

Era uma viagem de só ida?

- Não vá morar lá, Lizzy. E a Jane? E a sua família? E toda a vida que você teria aqui.... – Darcy queria acrescentar "comigo", mas, ele sabia que não ajudaria em nada.

- Eu não sei, não tenho noção o que fazer nesse exato momento. Só sinto que quero sair e espairecer, voltar para aquela rotina que eu estava bem mais confortável fará com que eu entenda melhor as coisas. Aqui, Darcy, eu só estou tomando decisões erradas, e nisso, eu preciso entender quais seriam as certas e porquê.

- Eu fui uma decisão errada naquela noite. – Ele afirmara, derrotado

A voz do alto falante foi mais incisiva, repetindo, de primeira, a sequência do voo de Lizzy, o que a deixou mais nervosa.

- Não foi isso que eu quis dizer... Darcy, eu preciso ir.

- Eu sei que eu te pedi momentos atrás que não me dê esperanças falsas, porque, realmente, me partiriam ao meio, só de imaginar esperar que algo pudesse existir entre nós e depois isso se mostrar ser impossível... Mas, você pode me dar qualquer esperança de que vai voltar? Porque eu posso conviver com o fato de que não me ama, mas, você ficar lá permanentemente? É algo que eu nunca aceitaria, não consigo nem pensar. – Sua mão apertou a dela mais forte ainda.

- Darcy... – aqueles olhos, ver aquele homem quase que implorando para ela ficar, por ele, aqueceu o coração de Lizzy de forma tão intensa, que ela não conseguiu se segurar – Eu volto, por você.

E num movimento necessário e brusco, suas mãos se soltaram e Lizzy partiu.

Darcy encarou a figura de Lizzy se distanciar cada vez mais, quando a funcionária do aeroporto devolveu os documentos, Lizzy deu uma última olhada para trás e viu Darcy levantando a mão.

Mesmo que ele não tenha tentado falar nada, ela sabia o que ele queria dizer.

Estarei te esperando.

...