LIV

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- Cansado, só dormiu da tarde para o começo da noite. Eu saí, ele já havia voltado a dormir. – Lizzy dizia quase num sussurro, ela conseguia escutar os outros dormindo em seus quartos.

- Eu não sei o que farei depois que ele se for... Eu sinceramente não me imagino sem ele. – Sra. Bennett se sentou novamente na cadeira e começou a chorar.

- Eu também não. – Lizzy puxou a cadeira mais próxima da mãe e a olhou. – Queria que tudo isso fosse diferente.

- Todas nós queríamos, filha, mas, Deus faz as coisas certas por razões que ainda não compreendemos. Eu rezo todo dia para Ele me dar uma resposta, uma luz. Seu pai já tentou me explicar que é questão de ser a hora dele, mas, se for assim, eu tenho que estar naquela cama também. Eu não quero viver sem ele. – Ela colocou as mãos no rosto, enquanto chorava sem parar. – Eu sei que sou difícil de lidar, que tenho lá meus problemas, mas, eu nunca aceitei outra pessoa além dele na minha vida. Seu pai sempre foi tão gentil e prestativo comigo. O pai dele havia morrido cedo e ele só tinha a mãe, éramos vizinhos e eu tinha problemas na minha casa. Nunca tínhamos dinheiro, nunca tinha comida. Seu avô vivia bêbado e minha mãe era analfabeta, só sabia cuidar da casa. Eu queria um futuro para mim, mas, eu não fui à escola direito, porque meus pais não queriam. Eu era revoltada pela vida que tinha e seu pai me compreendeu com um só olhar. Ele me ensinava tudo que aprendia na escola, escondida, perto de uma praça para mim. Me ensinou a escrever, a ler... Eu posso insistir que você e suas irmãs conheçam pessoas ricas para não ter uma vida difícil como a minha, mas, eu não me importei com o seu pai ser pobre, porque, ele era rico somente por ser ele. E isso era toda a riqueza que eu precisava na minha vida. Eu amei ele por cada segundo e não sei o que será sem ele, como eu posso aguentar esperar até eu reencontrar ele de novo? Como podem querer me separar de alguém que faz parte de mim? Como?

Elizabeth escutava aquilo e durante o desabafo de sua mãe, a abraçou tão forte, por se identificar nas palavras ditas por ela, e relacioná-las ao que sentia por Darcy, que houve um estalo em sua mente e coração.

Por que querer essa distância se ela sabia que a vida dela só era realmente vida ao lado dele? Por que ela queria ficar naquele estado de existência, sem nenhuma paixão, quando ela poderia tê-lo e ter aquela felicidade, que enchia os pulmões de energia e aquecia o coração de um jeito único? O que ela estava esperando para ir até ele?

A mãe de Lizzy, após dizer todas aquelas coisas, limpou as lágrimas, terminou seu chá e deixou a xícara na pia. Olhou para a filha mais uma vez e apenas disse que iria para o quarto por estar muito cansada. Lizzy disse boa noite enquanto continuava processando as palavras ditas pela mãe.

Sr. Bennett morreu duas semanas depois daquela noite. Ele estava sozinho, havia acabado o horário de visitas naquele dia e sem qualquer aviso, sofreu o segundo AVC como os médicos tinham previsto, não deu tempo para tentar prevenir. As tentativas de reanimação duraram dez minutos, mas, sem sucesso.

Jane recebeu a ligação quando era três horas da manhã. Lizzy saiu correndo para o hospital juntamente de sua mãe.

O enterro foi longo, muitos conhecidos que moravam na região foram prestar suas condolências à família Bennett, o padre conversou bastante sobre saudade, mudanças e a vida.

Elizabeth não conseguia entender o que o padre dizia, apenas via o caixão sendo enterrado e a cena de seu pai pedindo para que ela aproveitasse a vida dela passava em sua mente.

Desde aquele dia, ela nunca havia retornado uma das mil ligações de Darcy, que havia parado de ligar exatamente naquele mesmo dia, que Lizzy e seu pai conversaram.

....

2 meses depois

....

- Sim, quem é? – Georgiana estava ao telefone quando Darcy entrou em casa.

Provavelmente Bingley está querendo me achar para me levar em uma das suas idas ao shopping para comprar mais coisas para o bebê.... PELO AMOR DE DEUS....

- Pera, repete. Quem??? – A voz de Georgiana se elevou e Darcy se assustou com o grito, o que fez com que saísse correndo até a sala.

Ele viu sua irmã pulando de alegria e a olhou com uma cara que misturava questionamentos e estranheza. Ele já achava ela doida, mas, aquilo era além do normal.

- Não, não. Tá tudo bem, é que eu NUNCA achei que isso aconteceria... Eu até perdi uma aposta, mas, EU SABIA QUE VOCÊ IRIA LIGAR UMA HORA! – Darcy começou a prestar atenção no que ela dizia e isso fez com que seu coração se acelerasse, não, não é possível.... – Não, ele tá aqui sim! Acabou de chegar! Não não não, calma, eu passo pr.... Não, fica tranquila, eu... Eu... Eu vou passar pra ele CALMA!

Darcy viu sua irmã correndo até ele e entregando o telefone, ela sussurrava "ATENDE" e ele estranhando tudo aquilo, pegou o objeto.

- Alô? – Não tinha noção do que estava acontecendo...

- Ai meu Deus. – Lizzy estava tentando não desmaiar, aquilo não estava nos planos. Era para ninguém atender, era para ela deixar um recado na secretária eletrônica e não para escutar a voz dele

Darcy escutou o ai meu Deus, ele sabia que a voz era dela. O coração dele simplesmente pulou e começou a bater muito rápido, ele tentou não esboçar nenhuma emoção na frente de Georgiana porque isso a animaria ela, e ele definitivamente não queria isso, mas, ao mesmo tempo, queria pensar no que fazer.

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