XVII

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- O que você está fazendo aqui? – Ela conseguiu dizer após vários segundos em silêncio, encarando ele.

- Você achava mesmo que eu não iria querer te ver? – Darcy quase sussurrou...

- Não. Eu achava que tinha sido clara sobre o que eu acho de nós dois para você. – Ela tentou manter firme, tentou não expressar o alívio que sentia ao vê-lo ali, na frente dela... E a vontade de abraça-lo era tão gigante que ela não sabia nem o que pensar...

- Você nunca foi clara sobre o que sentia por mim. Você apenas falou sobre sua mãe e depois do beijo... Bom, depois do beijo eu só percebi que você queria que eu desaparecesse. E foi exatamente isso que eu fiz. – Darcy olhou diretamente nos olhos dela, tentando arrancar alguma reação.

- É, você me disse 'até amanhã' e dois dias depois, foi embora. – Sem querer, Lizzy deixou um tom amargo em sua voz enquanto dizia isso... – Não precisava ter exagerado tanto também.

- Ah, não? Por que você acha isso? – Seu sorriso presunçoso, involuntariamente, ficou estampado no rosto dele.

- Bingley precisava de você, Jane comentou o quanto ele ficou triste com sua partida inesperada. – Lizzy tentou esconder sua hesitação, criando a desculpa perfeita, sem que soasse que...

- Você está mentindo. – Darcy disse simplesmente.

- Não, não estou. Eu o vi dias antes de ir embora. Ele não estava o mesmo brincalhão e engraçadinho que nem na vez que vi vocês dois na festa. Ele estava mais sério, diferente. Foi por sua causa. – Seu coração estava acelerado, e suas ideias de como fugir das perguntas idiotas dele estavam quase acabando...

- Ele é sério, você só não o conhece direito ainda. Mas, ainda acho que você está mentindo. Ouso acrescentar que você acha que eu exagerei porque ainda queria me ver, queria me contar algo. – Ele, discretamente, se aproximou dela.

- Eu queria te ver, sim. Te considero um bom amigo, Darcy. Eu mesma queria ter te contado sobre a minha volta a Harvard, mas não, minha irmã fofoqueira e o idiota do namorado dela que tinham que falar para você.... Queria ter terminado nossos problemas de uma vez só, não queria que tivesse ficado do jeito que ficou. Só isso – Que ele acredite, que ele acredite, pelo amor de Deus, ele tem que acreditar nisso. Não sei quanto mais vou saber mentir sobre tudo isso...

- Eu estou aqui. Acabe com os nossos problemas. Não vá, Lizzy. Fique. Eu sei de todas as suas razões para ir e, honestamente, eu entendo. Se eu fosse você também iria.... Se, eu tivesse que fugir dos meus problemas para ser feliz. Mas, esses problemas, hoje, não precisam de uma fuga e sim de uma solução. E a gente poderia encontrar juntos. – Ele ainda a surpreendeu segurando as mãos dela fortemente com as dele.

- O que?

- Jane me ligou ontem. Ela sabia que você iria, e não achava que você teria qualquer desculpa para voltar depois do que aconteceu entre a gente, entre o nosso beijo naquela noite. Ela não consegue imaginar a vida dela sem a própria irmã. E eu não consigo suportar a ideia de viver uma vida longe de você. Por favor, me ouça.

- Darcy, você não entende que...

- Eu entendo, acima de tudo, eu te entendo. Lizzy, eu sei de suas dores, de seus problemas. Eu já vivi coisas parecidas, e se tivesse tido sua oportunidade, estaria bem longe daqui há anos. Mas, eu enfrentei meus problemas e dei a volta por cima. E agora, quero que faça o mesmo, comigo, do seu lado. Sua mãe não irá nos incomodar aqui, ela nem precisa saber que você não foi. Eu te ajudo a procurar um emprego ótimo nas melhores editoras daqui de Londres. Eu posso te ajudar, você não precisa ir. – Deus permita que ela fique, por favor, era a única coisa que soava na cabeça de Darcy.

- Não posso. Eu sei que você entende os meus problemas. Eu te agradeço por tudo que mudou em mim... O jeito como me marcou... Mas, é algo meu entende? Eu amo estar lá, mais do que eu possa estando aqui, agora, com você e a sua ajuda. Eu sinto que o certo é continuar em frente, e isto para mim, só existe lá. Eu sei que temos um potencial enorme de sermos mais do que isso agora. Amor, felicidade... Mas, para tal, preciso estar preparada. Preciso estar nesse patamar que você se encontra agora.... Infelizmente, não importando os meus sentimentos, não estou. E é preciso ter certeza disso, e não tenho. De forma alguma, Darcy. Me desculpe, mas eu vou viajar. Ninguém mudará isso. – Ela apertou mais forte ainda as mãos dele e viu, tristemente, os olhos dele perdendo o brilho e olhando para o chão.

- Você é, sem qualquer resquício de dúvida, a mulher mais teimosa e perfeita que conheci até hoje. – Revirou um dos bolsos do paletó – Mas, algo sobre mim que você ainda não sabe, é que sempre me previno de contratempos.... Supus que minha tentativa boba de fazer você ficar não tivesse efeito nenhum sobre sua decisão, então, resolvi preparar isso...

Ele estendeu uma carta juntamente de uma chave que tinha um chaveiro de metal em formato de uma torre, uma das peças famosas usadas no xadrez. Lizzy franziu o cenho, não entendendo nada daquilo.

- É seu. – Darcy simplesmente falou. – Eu quero que fique com ele.

- O que? – Ela o olhava, tentando decifrar tudo aquilo, mas, não conseguia entender aquele olhar sério dele.

- Abra a carta quando tiver chegado lá, não antes, por favor.

Ele levantou de forma abrupta. Ele já vai?, foi o que Lizzy questionara mentalmente. Percebendo que ele realmente estava querendo ir embora, levantou também.

- Desculpe, novamente, por tentar te impedir de fazer o que acha que é certo. Eu fico insistindo sem perceber que você não quer mesmo. – Ele dizia num tom irritado, mas ela viu, que ele estava mais irritado com as próprias ações do que com ela propriamente.

- Não me peça desculpas. Se estivéssemos em outras circunstâncias, talvez eu tivesse ficado. Por você. – Ela disse bem baixinho. E não conseguiu olhar nos olhos dele.

- Não diga isso. Não me dê falsas esperanças. Eu sei que não existem. – Ele chegou mais próximo dela, usando seu tom bem sério.

- Só estou sendo sincera com você. – Ela disse num tom tão cansado e sincero, que de repente, as mãos dele seguraram no rosto dela, fazendo-a olhar diretamente para ele.

- Vou sentir falta disso. 

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