LIII

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O dia seguinte foi horrível tanto para Darcy quanto para Lizzy.

Ela não conseguia saber o que fazer, tanto sobre seu pai quanto sobre Jane. Pelo jeito, só ela e seus pais sabiam, eles não haviam contado para ninguém ainda.... Lizzy se sentia horrível por tudo que tinha falado, e nem conseguia olhar nos olhos da própria irmã. Além disso, lembrara de visitar o pai, após a notícia... O jeito carinhoso e calmo que ele estava, só piorava tudo. Como alguém como ele poderia ir embora assim? Não é justo. Todas suas irmãs e sua mãe estavam chorando, foi o pior momento da sua vida.

E ela ainda pensava em Darcy. Ela queria ele ali, mas, aquela distância era necessária. Fazia Lizzy pensar bastante sobre tudo que era de mais importante na sua vida, além de focar na sua família. Ela precisava daquele momento sozinha.

Darcy tinha seu próprio inferno pessoal na empresa, todos os clientes estavam frustrados com a ausência dele nos últimos dias, e ele estava tentando resolver alguns dos pepinos e, ao mesmo tempo, vendo se algum dos sócios não queria ocupar seu lugar por um tempo, para ele poder retornar à Lizzy. Sua ansiedade e pressa por vê-la estavam enlouquecendo ele em tão pouco tempo, além de quê, ele já havia ligado umas vinte vezes e nenhuma delas foi atendida.

Darcy ligou para Bingley e esse havia comentado que o clima estava bem ruim na casa, e que provavelmente Lizzy precisava de um tempo sozinha e por isso não atendia suas ligações. Mas, Bingley não comentou sobre a gravidez de Jane, ele não queria comentar sobre uma alegria daquelas num momento tão delicado, ele sabia que precisava esperar mais um pouco...

....

- Pai? – Lizzy levantou da poltrona ao ver que ele havia acordado.

Havia passado quase três semanas desde a notícia e o quadro do Sr. Bennett só piorava, todos estavam revezando em turnos para poder passar mais tempo com ele. Lizzy ficava com os turnos da noite nas terças-feiras. Ela lia o jornal para seu pai e os dois assistiam as novelas que passavam na tv, uma forma deles fazerem piadas das histórias melodramáticas e conseguirem pensar que tudo estava bem.

- Desculpa, pequena. Eu estava com muito sono, fiz a gente perder a novela, não é mesmo?

- Não tem problema, pai. O senhor precisa descansar... – A voz dela engasgou, pensando melhor no que havia dito.

- É o que eu mais faço, filha. Mas, falando em perdas.... Onde está ele? – Sr. Bennett segurou a mão dela.

- Ele quem, pai? – Lizzy limpava as lágrimas dos olhos.

- Darcy, é claro. Ninguém me fala dele, além de Bingley quando está com Jane. – Ele olhou preocupado para ela.

- Ah. Ele está em Londres, pai. – Lizzy olhou para o lado, tentando evitar o contato com os olhos de seu pai, ela não queria pensar naquele assunto. Há dias ela empurrava esse pensamento da sua cabeça e coração.

- Eu sei disso, Elizabeth. Eu estou perguntando do porquê ele não estar aqui, com você. Aconteceu alguma coisa? Vocês me tratam como se eu fosse de porcelana, mas, eu ainda estou vivo e quero participar da vida de todos vocês, então, pode ir falando. – Ele tentou engrossar a voz como quando fazia quando tinha que dar bronca em uma das filhas, mas, era a primeira vez que fazia isso com Elizabeth.

- Pai... – A voz de Lizzy falhou ao pensar em Darcy e vendo seu pai naquele estado. Tão frágil, tão... Como se ele fosse desaparecer no meio do ar, deixando-a sozinha. – Eu quero estar aqui, ficar com o senhor, com a nossa família. Darcy e eu temos muitas diferenças e vidas distantes de poderem ser juntadas. Eu preferi não seguir com nada disso, e focar no que eu tenho aqui e vim ignorando faz tempo. Eu errei em por tanta distância entre nós e... Olha agora, pai. Olha na situação em que o senhor se encontra. – Ela não conseguia parar de chorar.

- Lizzy... – Sr. Bennett começou a tossir, mas, ao se recuperar, foi apertando sua mão na dela – Tudo tem uma razão de ser. A vida possui uma beleza indescritível por isso, pelas possibilidades e pela dádiva que nos é dada em aproveitá-la, da melhor forma que for possível. Eu não me arrependo de nada. Eu amei muito a mulher que você chama de mãe, apesar de todos os defeitos dela, eu amei cada segundo que eu tive com você e com suas irmãs, na vida tranquila que esta cidade trouxe para toda minha família, por várias gerações.... Eu não tenho nada a reclamar ou me revoltar, e nem você ou sua mãe ou qualquer uma de suas irmãs deveria se sentir assim. E sobre Darcy, você tem essa mania de empurrar as coisas que te cativam por achar que vão te prender. Desde pequena você era assim, Jane chorava para ter um cachorro, quase adotamos um, só não fizemos isso porque você berrava dizendo que nós não teríamos condições de fazer nada direito para dar atenção a um cachorro, que isso prenderia a gente numa rotina de limpar e alimentar o animal....

- Mas, pai... – Lizzy, com a voz embargada, tentou explicar.

- Não, deixa eu continuar. – Lizzy abaixou a cabeça e encarou os olhos dele, prestando muita atenção – Não existe problema algum em se prender em algo, Lizzy, desde que seja a sua escolha e que você saiba dividir você daquilo que está se juntando. Eu realmente creio que nessa vida, nós viemos para agregar experiências e sensações, as boas e as más, porque é isso que nos faz evoluir para a melhor versão de nós mesmos. Não existe mudança ou melhoras quando você se nega a conhecer algo ou alguém. É como se você tivesse um presente fechado, mas, nunca abrisse, porque não quer saber o que tem dentro. É perder uma parte da sua missão aqui nesse mundo, querida, e eu como seu pai, realmente falhei em mudar sua cabeça desse seu jeito de pensar. Eu amo você tão intensamente, que me dói ver você amando aquele homem, que também te ama, mas, você escolhendo perde-lo por não achar necessário ele na sua vida, por medo. Eu lembro do dia que você nasceu e ali, eu prometi que eu te faria feliz e protegeria de tudo, mas, você está se protegendo do que você não deve, filha. Eu quero que você viva tanto quanto eu vivi ou mais, Elizabeth, então para de me usar como mais uma das suas desculpas para eliminar sua felicidade. Darcy pode não mais esperar por você, minha querida.

Sr. Bennett parecia exausto, apesar de ter dormido a tarde toda, e após aquela conversa, ele sussurrou que estava com muito sono. Elizabeth, ainda chorando, disse para ele descansar que ela traria mais um cobertor, enquanto leria as notícias do dia – seu pai amava saber de tudo que acontecia – até ele pegar num sono.

Quando isso aconteceu, a enfermeira entrou no quarto, avisando que o horário de visitas havia acabando e que faria um check-up básico nele. Lizzy, lentamente, pegou suas coisas enquanto ela observava seu pai dormindo pacificamente e saiu.

Após voltar para sua casa, ela encontrou sua mãe na cozinha, fazendo chá.

- Oi, mãe

- Elizabeth, está servida? – As olheiras fundas de sua mãe faziam com que ela parecesse ter envelhecido uns trinta anos, além da sua postura demonstrar um cansaço absurdo, algo que Lizzy compreendia muito bem.

- Não, obrigada.

- Como ele está? – Ela bebia o chá, mas, Lizzy pode ver que ela havia chorado. Quem não chorava naqueles dias?

Casos & DescasosOnde histórias criam vida. Descubra agora