XXI

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DESEMBARQUE VOO KL6017 →

Lizzy seguiu a placa e após um tempo esperando por suas malas, estava finalmente de volta no Logan International Airport e, num piscar de olhos, descendo do ônibus, se via de frente ao longo campus pertencente a Harvard.

Lizzy sorriu por um instante, até que sentiu em seu bolso, o peso da chave dada a ela por Darcy. Uma parte dela não queria aceitar aquele presente, era errado e daria uma péssima impressão, mas, havia a outra parte que estava morta de curiosidade para conhecer o local.

Após abrir a cartar e ver o endereço, demorou 20 minutos para encontrar uma casa realmente grande, escondida entre algumas árvores e localizada na esquina, de frente para o campus. Uma residência bem localizada, e Elizabeth não queria nem imaginar quanto que a casa deveria valer. Passou pelo simples portão de rua e ao ficar frente a frente com a porta, respirou fundo e utilizando da chave, entrou naquela casa.

A primeira coisa que sentiu foi o aroma de Darcy no ar, era como se ele fosse estar ali, de alguma forma. O chão estalou ao primeiro passo que ela deu, e ao ver, era por causa do piso de madeira. Aos poucos, Lizzy foi se situando com o ambiente, a casa estava mobiliada, como já imaginava, e cada canto a deixava mais impressionada pela elegância e simplicidade do local. Como estava escrito na carta, realmente, alguém passara ali recentemente, porque tudo estava ainda reluzindo de tão limpo. Não havia pó em nenhum lugar, mas, também não havia ninguém ali além dela.

Escolheu o segundo quarto no final do corredor, no primeiro andar da casa, como seu quarto. A cama era macia e suas costas estavam implorando por um descanso, mas, tudo que ela queria era falar com ele. Chamar ele de doido, porque aquela casa era perfeita demais para ser dada de presente a alguém que o rejeitara! Como ele pode? Seu coração se apertou após relembrar da feição dele, quando ela resolveu contar que não planejava voltar.

- Por que eu fiz isso com ele?

Lizzy começou a chorar e, tão cansada, depois de um tempo, caiu no sono.

....

Darcy saiu do banho, ainda pensando nela, mesmo que tenha se passado um dia inteiro desde que a viu pela última vez, e escutou o seu celular tocar. Achou estranho porque já passava das dez horas da noite, e não achava que Bingley ou qualquer um que conhecia pudesse estar acordado a esta hora além dele.

O número que apareceu no celular era desconhecido e tinha vários números. Por um instante, o coração de Darcy bateu mais rápido. Será que...

- Alô??? – Ele tentou disfarçar o tom esperançoso, mas, foi em vão.

- Darcy? – Lizzy não conseguiu disfarçar sua voz chorosa, também.

- Lizzy? É você mesmo??

- Claro que sou eu, quem mais seria?

- Está tudo bem?? Por que está chorando? Aconteceu alguma coisa?

- Não, não... Eu estou bem, é só que... Eu não sei como agradecer por tudo... Essa casa, ela é... Ela é incrível... Como você pode me emprestar? Logo a mim, depois de ter te machucado... – Lizzy fazia esforço para segurar as lágrimas e o arrependimento de ter o deixado.

Darcy ficou paralisado, tentando assimilar o que estava acontecendo. Ela estava ligando para ele, para agradecer? Para dizer que não entendia os motivos dele de ter feito o que havia feito? Mas, se ela já estava lá, ela tinha lido a carta. Ela já tinha conhecimento que ele a amava! Por que ela estava atormentando ele assim? Ela havia feito a sua escolha, dado pequenas esperanças a ele (praticamente nulas) de que voltaria, e agora ligava para dizer aquilo?

Por que ela está fazendo isso comigo? Por que não me deixa sofrer sozinho, distante, para que possamos seguir em frente?

- Bom, se você leu a carta, o motivo está nela, Lizzy. – Ele não queria brigar pelo telefone, mas, havia tantas emoções engasgadas nele, saudades, dor, angústia, raiva...

- Darcy, eu não sei o que te dizer...

- Não precisa dizer nada. Você fez a sua escolha, eu aceitei. Só tomei essa atitude pelos sentimentos que tinha por você. Espero que a utilize bem, pois, esta casa me traz boas lembranças. Quero que você tenha uma ótima vida, Lizzy, pois você tem um grande potencial. Mas, aí em Boston para Londres, tem cinco horas de diferença. Aqui já passam das dez da noite... Estou muito cansado, minha empresa suga bastante o meu tempo, então preciso dormir.

- Ah, Darcy, me perdoe. Não tinha lembrado disso... Deve ser por isso que demorou tanto para Jane me atender e ela me passar o seu número... Tudo bem, mas, mais uma vez, obrigada por tudo. Nunca vou me esquecer do que fez por mim. Espero que tenha uma ótima noite de sono.

Darcy queria gritar com ela.

Lizzy queria, também, gritar com ele.

Os dois queriam pelo mesmo motivo. Queriam que o outro lutasse por eles, mas, como? Se a distância e a escolha que cada um havia tomado transmitia a ideia oposta daquela que desejavam?

Após deixarem o silêncio dominar a conversa, Darcy desligou o celular. Lizzy ficou magoada, mas, sabia que tudo aquilo era culpa dela. Ele tinha corrido atrás, tinha implorado, tinha tentado de tudo, e ela o rejeitou mesmo assim. Não tinha razão para ele continuar correndo atrás dela. O pior era a frase que ele havia dito há alguns minutos.

"Só tomei essa atitude pelos sentimentos que tinha por você", que ele tinha por mim? Será que ele não tem mais? Não, impossível.... Não seria algo tão rápido... Depois do que ele escreveu naquela carta, duvido que o que ele sente por mim seria tão supérfluo para ele me esquecer em tão pouco tempo.

Mas... Lizzy começara a pensar, do mesmo jeito que ele se apaixonou por ela em tão pouco tempo, ele também poderia parar de sentir algo por ela tão rápido quanto. E essa ideia de Darcy poder não amá-la mais, a fez questionar se ainda havia alguma dúvida que ela o amava o suficiente para sofrer por perder a chance de viver um grande amor, ao lado de alguém que também sentia o mesmo por ela.

...

Casos & DescasosOnde histórias criam vida. Descubra agora