XIV

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– Você fez O QUÊ? – A voz alta de Bingley, repetindo tudo o que dizia em forma de pergunta, era outro jeito de irritar bastante Darcy.

– Eu já disse: percebi que você já está em ótima companhia e resolvi adiantar minha partida. Vou embora amanhã. – Darcy usou seu tom "tranquilizador", tentando mostrar que estava bem, mesmo não estando.

– Você não pode! – Bingley se aproximou do amigo, que já estava arrumando a mala em cima da cama, e com um movimento brusco, tirou-o de lá. – Eu não posso deixar você ir embora assim!

– Por quê? – Era mais difícil para ele do que Bingley poderia compreender. Darcy também não queria, mas, ou era isso ou era sofrer vendo Elizabeth em todos os cantos da cidade.

– Você não pode deixá-la assim, Darcy. Tem que tentar mais um pouco. Você está com medo do que está sentindo, não é? E por isso que quer ir embora, mas, eu como seu amigo, seu único amigo, te digo que fugir não adianta de nada!

– Não estou fugindo. – Darcy, pelo menos, nunca viu por esse lado. Será mesmo que não estou? – Refleti bastante sobre isso, e voltar para Londres é o melhor que faço.

– Mas, e Elizabeth...

– Não vamos falar sobre ela. – Darcy se desvencilhou de seu amigo e voltou para a mala aberta. – Assunto do passado.

– É tudo por causa dela, né? Você vai se arrepender disso, Darcy. Por favor, me escuta!

– Eu estou escutando e sei que você está preocupado comigo, mas, não fique. Estou bem e sei o que estou fazendo.

Bingley ficou paralisado por não conseguir acreditar no quanto o amigo tentava mentir para si mesmo, convencendo-se que tudo que estava fazendo era a melhor alternativa. Foi assim que pode ver o quão abalado Darcy podia ficar por causa de uma mulher. Só que Bingley nunca percebeu que o amigo realmente tinha a capacidade de amar, tanto assim, alguém – que não fosse da própria família.

– Está bem. – Bingley abaixou a cabeça e saiu do quarto.

Pelo jeito, Darcy conseguira aquele silêncio e solidão que tanto desejara.

...

– Lizzy é uma péssima ideia. – Jane disse.

– Não, não é. – Elizabeth disse pela milésima vez, a irmã já estava conseguindo irritá-la.

– Você já ficou um ano lá, já aprendeu o suficiente para arranjar um bom emprego aqui... O que mais você quer de lá? Por que isso agora? – Jane estava preocupada. Odiava ver a irmã viajando e deixando-os sozinhos. Por mais que também achasse que a família não era muita unida, Jane sentia que Lizzy era uma parte importante daquela casa. Todos achavam isso também.

– Eu gosto de lá. Tenho amigos, uma vida feita lá. Desculpe, Jane, mas, se tenho uma segunda oportunidade de ficar lá por mais algum tempo, eu vou agarrá-la com unhas e dentes! – Elizabeth dizia enquanto respondia o e-mail do amigo, dizendo que adoraria estar lá novamente e perguntou quando poderia receber a passagem para ir.

– E DARCY? – Jane utilizara um tom mais estridente do que queria. Ela não desejava que a irmã fosse, nunca quis na primeira vez...

– Não tem Darcy algum. – Elizabeth fingiu estar calma sobre esse assunto enquanto apertava o botão enviar. Um aperto no coração instalara-se nela no momento seguinte. – Estou fazendo algo bom para minha própria carreira.

– Você está gostando dele, Lizzy. Eu vi. Não sei se você sabe, mas, você falou o nome dele enquanto dormia e estava agarrando aquele casaco como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. É o casaco dele, não é? Está vendo? Ele também gosta de você. Por que recusar uma oportunidade dessas? – Viu que Elizabeth já iria retrucar e disse – Nem venha usar o velho e desgastado argumento sobre não querer fazer as vontades da mamãe. Eu não caio nessa. É você que tem medo do que está sentindo, e nem isso quer admitir! Nem para você e nem para mim!

Elizabeth olhou-a surpresa. Em alguma parte de si, sentiu sua consciência concordando com tudo que Jane havia dito, mas, preferiu ignorar aquilo tudo. Vou voltar para os Estados Unidos e ele para Londres, nunca poderíamos ter nada.

– E se você realmente for Lizzy... Saiba: não conte mais comigo para nada!

Elizabeth nunca imaginou que Jane poderia dizer isso em algum momento de sua vida. Ela pode estar apenas blefando para que eu não viaje. Assim, simplesmente, ignorou a irmã e foi em direção do armário, à procura de sua mala. Jane irritou-se profundamente com o silêncio de sua irmã e saiu com o passo largo, batendo a porta com toda força em seguida.

...

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