LV

446 33 0
                                    


- Quem é? – Darcy planejou se fazer de desentendido, porque, depois de tudo, ele havia sido tratado com silêncio por parte dela, o que o fez perceber que não aguentava mais.

- Hm, oi, Darcy. É a Elizabeth – A voz dela soava nervosa, ela não sabia o que dizer para ele, que estava ali, escutando do outro lado da linha.

- Ah, oi. – Ele resolveu que se ela quisesse algo, ela que fosse atrás. Darcy, nos últimos dois meses, havia aprendido que não adianta amar muito por dois. Uma relação tem que ter reciprocidade, demanda ação e esforço das duas partes, e desde o começo, ele correu atrás de tudo para fazer dar certo e ela pouco fez.

- Desculpa pelo horário... É que... – Lizzy olhava nervosamente para o texto que havia preparado para deixar na secretária eletrônica, sem saber o que fazer naquela situação inesperada...

- É que... – Era realmente possível ela ter se arrependido? E por que só agora? Eu não aceito ser a segunda ou última opção de alguém.

Lizzy suspirou, lembrando do que sua terapeuta havia lhe ensinado sobre formas de se acalmar, além de lembrar do que seu pai havia lhe dito.

- Bom, eu vou ser sincera. Eu não esperava que você atendesse. Eu queria deixar um recado na sua secretária eletrônica. – Lizzy enrolava uma mecha de cabelo enquanto aguardava o que ele iria dizer.

- Um recado? Se for isso, pode deixar ele comigo, o lado bom é que eu já respondo na hora. – Darcy ficou intrigado com aquilo, ele odiava admitir a si mesmo que não importava todo aquele tempo e distância que eles tinham, ela o encantava.

- Isso não ajuda, porque, eu não tenho coragem de saber sua resposta agora.

- Você que ligou na hora errada, eu não trabalho de noite. E eu queria saber sobre esse recado, você poderia passar, por favor? – Darcy queria muito que ela tivesse uma atitude, que ela gritasse que o amava, que o queria com ela, que o mundo explodisse por causa das diferenças dos dois...

- Ok. – Lizzy suspirou – Eu queria te pedir desculpas. Pelo silêncio que eu te dei desde... Aquela época. Na verdade, pensando bem, queria te pedir desculpas por todo o tratamento que eu te dei desde que nos conhecemos. Antes do meu pai ir embora, nós conversamos sobre muitas coisas, e dentre elas, foi você. E eu estava passando por uma situação muito delicada porque eu amo meu pai, acho que meu primeiro maior amor foi por aquele velho sr. alto que me dava livros em dias inesperados e me fazia sentar em seu colo, olhar o pôr do sol numa quinta-feira silenciosa.... Eu não sabia como processar aquela fase e muito menos como imaginar tudo aquilo com você. Eu ainda não entendo bem o que sinto, não sei classificar porque eu nunca senti isso, e a verdade... É que eu tenho medo. Medo de tudo que me faz pensar que vai me mudar, porque eu não quero mudar, eu não quero. Nunca quis.... Mas, aos poucos, com uma ajuda meio que forçada pela Jane, com minha terapeuta, eu venho tentando encarar essas minhas barreiras. E a que eu escolhi enfrentar foi a que eu impus com você. Por isso eu liguei. – Lizzy respirava rapidamente, ela simplesmente desabafou tudo que estava preso na garganta. Claro que ela havia ocultado a parte de que ela o amava, ela não queria fazer por telefone e não queria expor sentimentos sem saber como ele se sentia.

- Eu queria ter falado sobre seu pai com você quando ele se foi, mas, você não me permitiu. Tentei por Bingley ou Jane, mas, você me recusou. Eu sei exatamente a dor que você tem pela ausência da pessoa que te criou, eu perdi os meus pais muito jovem e tive uma realidade de criar sozinho minha irmã caçula sem eles, então eu sei como é difícil enfrentar essas barreiras e medos. É claro que eu te desculpo, eu nunca conseguiria ter raiva de você. Eu tentei, eu fingi, eu fiz o impossível para te fazer ser a pessoa mais odiosa na minha cabeça, mas, é impossível. Se for isso que está pesando ainda no seu coração – E pelo jeito, ela nunca realmente queria falar sobre nós, de fato, só foi sobre como ela se comportou comigo e como ela se arrepende. Ela nem sabe o que sente por mim – Não precisa se preocupar com isso, aliás, a gente vai ser quase que uma família com sua irmã e o Bingley sendo pais.

Aquilo foi quase que um soco no estômago de Lizzy. Ela queria que ele falasse todas aquelas coisas bonitas que ele dizia para ela... Sobre como ele a amava, que não iria desistir. E o único medo que ela tinha naquele momento, desde que Georgiana havia lhe atendido, era que ele tivesse seguido em frente e tudo o que ele havia acabado de dizer, soava como se tivesse. O coração dela tinha perdido uma batida e ela começou a chorar silenciosamente, não queria que ele percebesse nada em seu tom de voz.

- Sinto muito por tudo também, eu sei que você saberia sobre a minha dor, mas, eu sempre quis tomar a frente dos meus problemas e resolver sozinha... É um defeito que eu ainda tento mudar, e sei que é necessário, ninguém tem que passar por tudo sozinho, não é mesmo?

- Você está absolutamente certa – Darcy sorriu ao escutar aquilo, apesar de estar profundamente triste. Ele só queria que ela dissesse que o amava e que lutaria por ele. Só desejava, por uma vez, ser ela quem corresse atrás e demonstrasse que todo o esforço que havia dado àquele amor era, realmente, correspondido.

- Então... E-eu acho que você tem que fazer suas coisas, devo estar te atrapalhando... – Lizzy torcia para que ele impedisse ela, dissesse que queria vê-la, falar mais...

- Ah, só vou tomar um banho e dormir, nada realmente importante – Darcy estava triste por perceber que aquele era o fim deles.

- Ah sim, tudo bem... Bom, obrigada por me ouvir, Darcy, de novo, desculpas... – Por favor, fala alguma coisa.

- Você não tem que viver me pedindo desculpas, Liz-ElizabethVai, fala alguma coisa, não desliga.

- Prometo, foi a última vez. Boa noite, Darcy... – Eu te amo, por favor... Eu te amo.

- Boa noite, Elizabeth.

Ele desligou a ligação, se sentindo horrível. Era uma sensação de como se ele fosse morrer, praticamente. A sua irmã o encarou e ele foi em direção ao quarto. Não queria ver ninguém e nem falar sobre aquilo. Se ele havia esperanças, mesmo que pequenas, que ela fosse atrás dele, dizendo o quanto amava e que havia mudado... Talvez, talvez, existiria uma chance deles darem certo. Mas, a realidade foi outra. Ela pediu desculpas, mas, era só isso. Ela não queria mais nada além disso.

O que era uma vida sem aquela pessoa que te faz querer viver?

....

Casos & DescasosOnde histórias criam vida. Descubra agora