Casos & Descasos

XXIV

- Meu amor? – Candice apareceu na porta de seu escritório, estava apenas de camisola. Linda, como sempre. Mas, não mais linda que ela, Darcy reprimiu o pensamento.

- Bom dia, querida. Dormiu bem?

- Claro, mas, senti sua falta – Candice o olhou triste, eles já haviam falado sobre isso, era final de semana. Ele deveria esquecer um pouco do trabalho, e conviver mais com ela. Por eles.

- Sinto muito, mas, Hugo ligou e aconteceu algumas coisas... Precisei vir aqui para resolver.

- Tudo bem, espero que consiga resolver o mais rápido possível – Ela disse com sua voz tristonha, mas, já acostumada. – Bom, vou tomar um banho. Tenho um ensaio às onze horas, depois tenho que jantar com o meu agente. Tudo bem?

- Claro, qualquer coisa, é só me ligar – Darcy nunca gostou do agente dela, mas, era o trabalho dela. Nunca se intrometeria em algo assim.

- Até mais tarde. Eu te amo – Ela saiu decepcionada por ele não ter se oferecido a ir junto com ela.

- Eu também. – Ela sabe que eu não consigo dizer isso. Me mata toda vez que ela diz e não consigo retribuir.

Após escutar Candice sair com o carro, Darcy refletiu novamente pelo o que tinha acontecido ali.

Já faziam três meses desde que Elizabeth Bennet havia partido e deixado ele. Ele cogitou em ir para lá, conversar com ela, tentar resolver tudo, mas... Quando Bingley comentou sua ideia à Jane, ela resolveu conversar com ele em pessoa.

- Darcy, desculpa, mas não faça isso.

- Por que? Eu a amo! Eu sei que ela sente também, ela aceitou ficar na minha casa, ela me ligou semana passada Jane! Ela não faria isso se não estivesse arrependida de ter ido!

- Ela sente o mesmo, eu concordo. Mas, Lizzy só faz o que deseja. Ela sempre sonhou em viver fora do país, longe da própria família. Agora que tem tudo isso, não vai mudar de ideia. Você fez de tudo e ela te deixou sozinho no aeroporto. Não vai ser diferente você indo atrás! Eu amo a minha irmã, mas, que o defeito dela é ser ótima em decepcionar os outros... É esse, e eu não posso negar.

- Mas, Jane... Isso está me matando. A ausência dela...

- Eu sinto falta dela todos os dias, mas, ela tem que aprender que não vamos parar de viver, esperando que ela perceba os próprios erros e venha pedir desculpas. Um dia, talvez, ela volte. Mas, não acho certo você esperar por alguém que fez descaso com seus sentimentos, mesmo que seja minha irmã.

- Eu não quero amar outra mulher.

- Você deveria, não pode se privar do amor por uma promessa que pode nunca se cumprir.

Assim, desistiu da viagem e de correr atrás de Elizabeth. E após um mês, a irmã de seu melhor amigo começou a estar cada vez mais próxima dele. Darcy sempre soube que Candice nutria sentimentos por ele, mas, nunca sentira nada por ela. Ele não podia usá-la, ela era como família também.

Um dia, após sonhar com Elizabeth junto dele, vivendo a vida que sempre imaginava ser impossível de ter, Darcy foi encontrar Candice, a pedido da mesma, para ajudar a comprar o presente de Bingley. Ela viu o estado de espírito que ele se encontrava, pediu para saber de tudo, e no final, fez algo que Darcy nunca pensou que ela faria.

- Sinto muito, meu querido William. Conheço você há anos, e sei do quanto seu coração tem capacidade de amar. Nenhuma mulher deveria fazer você sofrer assim, se essa Elizabeth soubesse do seu valor... – Ela acariciou o rosto dele e após um tempo, o beijou.

A sensação não trouxe uma queimação no coração dele, que o fazia se sentir vivo e feliz. O beijo trazia um conforto agradável, um abrigo pelo qual Darcy estava procurando. Após se separarem, ele disse que não sabia se conseguiria amar de novo, Candice disse que amaria pelos dois, se ele a permitisse. Darcy temeu que Bingley não gostaria, mas, seu amigo comemorou por ele ser oficialmente da família.

E desde então, Candice fazia parte de sua rotina. Eles moravam juntos na casa dele, se assim podia dizer, já que eles sempre estavam trabalhando e só se viam de noite e nos fins de semana em casa. Contudo, o coração de Darcy não se sentia completo, ele gostava de Candice, mas, não era igual ao que ele gostava de Lizzy. Não conseguia, por mais esforço que criasse, amar Candice. De alguma forma, ainda havia uma parte dele que esperava que Elizabeth retornasse e que todas as coisas mudassem.

Sentia tanta falta da garota teimosa, daquele sorriso lindo e beleza simples, que faziam ele não conseguir respirar. Jane nunca dava notícias da irmã, pois, resolveu cortar relações com ela, algo que tanto Darcy quanto Bingley eram contra, mas, a teimosia era herança de família. Só sabia que ela continuava em sua casa em Boston, porque Catherine comentava sobre ela, ele fingia que não se importava, mas ficava alegre em saber o que fazia. O único dia que ficou triste foi quando Catherine contou sobre Lizzy não ter ainda chegado, pois havia saído para jantar com um amigo de faculdade. Aquilo foi um marco, fez Darcy entender que os dois estavam tentando seguir em frente, mesmo ele sabendo que a vida dele era uma mentira.

Até quando ele seguiria nesse caminho? Quando ele iria amar de novo? Darcy não sabia a resposta.

...