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6 meses depois

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Elizabeth se sentia uma outra mulher. Tinha uma vida que nunca esperou que conquistasse, estar novamente na faculdade que amava, ter um ótimo trabalho como assistente de um dos mais renomados pesquisadores de Literatura Francesa do mundo e estar ao lado de um homem que a amava e que a fazia feliz.

Há nove meses, tudo isso era simplesmente impossível de se imaginar. Por causa de Darcy, é claro. Ainda morava na casa dele, pois, Catherine não gostava quando Lizzy sugeria a ideia de procurar um lugar dela para alugar. E de certa forma, também sentia que aquele lugar tinha se tornado um pouco dela também.

Nunca levou Henry para seu quarto ou coisas assim, o máximo foi na biblioteca para eles estudarem juntos para as finais e na cozinha quando ele ou ela tinham a ideia – às vezes, infeliz – de cozinhar para o outro. Eles sempre frequentavam o dormitório que ele ficava, pois, o colega de quarto dele, Tom, sempre estava fora nos treinos ou em outros quartos – de garotas, normalmente –, dando aos dois, muita privacidade. Mas, a principal verdade de Henry nunca ter entrado no quarto de Lizzy era que ela nunca quis tirar a carta de Darcy de seu criado-mudo, dividindo espaço com uma foto dela com a família, ou ter que explicar porque tinha um casaco de lã masculino como pijama a tira colo... Eram partes de Lizzy que ela não se via preparada ainda para mostrar a Henry, apesar deles já terem um relacionamento bem sério e sólido.

A campainha tocou e, novamente, ela o viu sorrindo e acenando para ela. Os dois sairiam para passear no parque, já que finalmente estavam de férias das aulas, e poderiam aproveitar antes que Henry tivesse que ir para o trabalho, que consumia quase todo o tempo dele.

- Bom dia, Liz. Demorei? – Seu sorriso cansado demonstrava o quão pesado estava sendo aquela rotinha de estudos e trabalho... Eu amava o esforço dele em estar ao meu lado, pois, sempre dizia: Eu te prometi que nunca mais estaria sozinha, não vai ser agora que vou descumprir essa promessa.

- Não, anjo. Chegou na hora – Beijei com vontade, meu coração já batia acelerado e eu me perdi no calor de seu abraço. Nunca imaginei que aprenderia a amar ele do jeito que foi. Poderia não ser um amor arrebatador, que queimasse cada célula de mim, mas, a calmaria e segurança que Henry me passava, aquecia o meu coração cicatrizado.

Era em momentos como aquele, que eu sabia que não estava sozinha.

...

- Bingley, por favor, não faça essa cara – Darcy não gostava daquele olhar de recriminação.

- Eu sei que você não gosta, e é por isso mesmo que eu faço. Eu já te disse que você é maluco?

Darcy, após muito tempo batalhar para que as coisas em sua empresa se estabilizassem, finalmente havia comprado a passagem para ir, de surpresa, encontrar Elizabeth. Após a promessa que fez a irmã, Bingley e ele ficaram quase que um mês inteiro sem se falar, até que os dois descobriram – também – que Candice havia traído Darcy na relação toda com ninguém menos que o sócio do mesmo, Hugo – que já tinha perdido o emprego, pois, Darcy comprou sua parte das ações, de forma anônima – e aí, Bingley tinha tido sua própria epifania e entendido que a irmã dele realmente não prestava, mentindo, traindo e falando mal das pessoas ao redor dela. Como Georgiana previra, ele pediu desculpas, e eles seguiram em frente.

Quando Darcy percebeu que a situação ruim que sua empresa estava passando havia passado e ele finalmente poderia tirar, por um breve tempo, férias, contou a Bingley sobre sua viagem a Boston. É claro que seu amigo e a noiva dele – dessa vez, realmente noiva, pois, ele havia feito o pedido mês passado – foram contra, Jane dizendo que Lizzy estava feliz na vida dela, seguido em frente, como ela descobrira conversando com o pai.

- Ela está namorando, Darcy. Trabalha como assistente de um pesquisador bem conhecido lá em Harvard... Você ir lá só vai causar confusão e magoar a si mesmo – Jane o olhou entristecida.

- Jane, sei que diz isso para o meu bem, mas, ela é a mulher da minha vida. Eu desisti de correr atrás quando eu vi a oportunidade, e por isso, ela resolveu seguir em frente. Mas, eu não posso aceitar isso. Se fosse você, no meu lugar, ia deixar Bingley viver com outra mulher?

- As coisas são totalmente diferentes... – Ela me encarou e entendeu meu olhar. – Mas, não, não suportaria ver Charles ao lado de outra mulher, sabendo que eu poderia fazê-lo mais feliz.

- Mas, Darcy – Bingley se levantou. – Ir lá não significa que ela vai largar o namorado dela no instante em que te ver. A questão de praticamente termos a isolado – Ele viu Jane desviar o olhar. –, deixando ela somente com contato com seus outros parentes e uma empregada, provavelmente, vai fazer com que ela não queira te ver nem pintado de ouro

- No primeiro dia que ela estava na minha casa e me ligou, sua voz estava chorosa. Ela deve ter se sentido muito solitária. Catherine sempre comentou comigo. E é o que me mata cada dia que passa, não estado lá por ela – Tentei relembrar bem a ligação, mas, já estava começando a esquecer como era a voz de Lizzy, algo que me aterrorizava.

- A culpa é dela, exclusivamente dela, e você sabe!

- Jane... – Ela já estava chorando e tinha se levantado também.

- Eu implorei para ela não ir, porque nossa família precisava dela, sempre precisou. Lizzy sempre foi quem dava sermão em todos, até no papai e em nossa mãe. Quantas brigas criamos e quantas ela ganhava na discussão, mas, no final do dia, éramos sempre uma família unida! Quando eu fui para a faculdade, aqui em Londres, eu sabia que ela conseguiria passar em alguma fora do país, mas, pensei que seria suficiente uma experiência! Mas, não, Lizzy nunca quer estar perto da gente, como se a gente fosse uma vergonha para ela! Nossas outras irmãs sempre falam com ela pelo computador, meus pais também... Mas, ela sabe o porquê de eu ter cortado as relações, até que ela voltasse. Eu não aceitei o que ela fez. Era um pedido simples! Não ir, fazer uma especialização aqui, que é tão bom quanto! Contudo, Lizzy sempre precisa ficar distante daqueles que a amam para se sentir bem! – Jane tinha perdido o controle, em meio ao seu choro, confessando toda a mágoa que ainda guardava da irmã pela escolha que ela havia tomado nove meses atrás.

- Acho que é melhor a gente ir, querida. Darcy sabe bem o que faz, e Elizabeth ainda vai voltar e pedir desculpas, tenho certeza – Bingley usou seu tom pacifista para tentar acalmar os nervos de Jane, enquanto olhava para Darcy. – Bom, acho que você já escutou nossas opiniões. Se for, espero que faça uma boa viagem e pense bem no que for fazer. Só não piora as coisas, tudo bem?

- Quanta confiança... – Ele olhou para os dois, triste, pois, mesmo sabendo que não teria o apoio deles, esperava que eles demonstrassem um mínimo de compaixão.

- É coisa de família – Bingley sorriu.

Darcy os acompanhou até a porta, abraçou Jane, pedindo desculpas por toda a situação, e Bingley. Após a saída dos dois, foi correndo para o quarto, arrumar a mala, e pensando na conversa que teria com Catherine.

Casos & DescasosOnde histórias criam vida. Descubra agora