Casos & Descasos

XXXIV

Darcy decidiu permanecer calado, pois, ao ver Elizabeth chorando novamente, sabia que não deveria ter vindo. Sabia que tudo estava perdido para ele reconquistá-la. Esse Henry havia estado ao lado dela quando ela mais precisou, e ela não iria traí-lo naquele momento. Por mais magoado que sentisse, Darcy admirou a lealdade que Lizzy tinha com seu namorado, algo que ele não havia sentido de Candice – após tudo que soube, no final.

- Me desculpe, Lizzy... Elizabeth – Darcy levantou e levou a louça para a pia.

- Crie qualquer desculpa para estar aqui, mas, enquanto ficar, não ouse provocar o Henry! Ele não tem nada a ver com essa nossa bagunça, quero que o trate bem – Ela tentou fazer com que sua voz ficasse firme, mas, o choro ainda deixou sua voz embargada.

- Eu irei, fique tranquila – Ele a olhou mais uma vez, admirando o quão bela ela conseguia ser mesmo chorando.

- Eu vou para o meu quarto, tenho trabalho a fazer – E subiu as escadas correndo, sem olhar para trás.

Darcy sorriu com o fato de que, quando chegou em casa, Lizzy havia escolhido o antigo quarto dele para tornar como próprio. Assim, Darcy havia escolhido o antigo quarto que era para seus pais, quando eles o visitavam naquela época, que ficava de frente para o de Elizabeth. Após lavar a louça e arrumar a cozinha, Darcy desligou as luzes e foi para seu quarto, ao ver a porta de Lizzy trancada, fechou a sua também, e ligou para Georgiana.

Avisou que estava bem, que a primeira impressão com Lizzy não havia dado muito certo... A irmã perguntou se Elizabeth havia mudado muito desde a última vez que os dois se viram, e Darcy afirmou com veemência, pois, Lizzy estava com o cabelo mais longo ainda, a pele bem morena, fazendo com que ficasse mais atraente ainda. Sem contar que na época que se viram, Darcy não deixava sua barba crescer, e agora tinha bastante, em quase toda a região do rosto. Por fim, disse para a irmã que ficaria bem e qualquer problema, era para ela ligar.

...

Como ele fez isso comigo? Como ele ousou vir aqui?

Elizabeth sabia que poderia ficar a noite inteira pensando naquela situação, xingando ele em seguida, mas, tinha vários trabalhos a fazer, graças ao chefe dela. Então, resolveu focar sua atenção no trabalho pelo resto da noite.

...

A campainha tocou no dia seguinte. Darcy que já estava na sala, arrumando as coisas para Elizabeth tomar de café da manhã, pois, ele já havia se alimentado, tendo ciência que ela não iria querer dividir aquela refeição junto dele, questionou quem poderia ser naquela hora... Não seria Catherine, ela só viria para fazer o almoço dos dois.

Quando abriu a porta, Darcy surpreendeu ao ver um garoto ali.

- Pois não?

Henry estranhou tudo aquilo. Sua primeira reação foi checar o número da casa e seu redor. Mas, essa é a casa da Liz. Quem era aquele cara?

- Hm... Quem é você? – Henry não gostava da ideia de um cara mais velho estar atendendo a porta da casa onde sua namorada morava.

- Hm... Sou William Darcy, o dono da casa, e você seria? – Darcy já imaginava quem deveria ser, mas, tentou conter sua raiva.

- Henry Ford, Sr. Sou o namorado da Elizabeth – Henry ainda não acreditava no que acabara de escutar, aquele homem era o dono da casa? Não deveria ser mais... Velho? – Hm, cadê ela?

- Srta. Bennet? Ela ainda está no quarto dela, o Sr. pode aguardar na sala, se preferir – Darcy não queria deixar aquele moleque entrar na própria casa, mas, sabia que não era a primeira vez do garoto na casa dele...

- Pode ser, obrigado – Henry engoliu seco ao passar do lado de Darcy, sentia uma energia estranha, como se o cara estivesse pronto para bater nele.

A cena era, simplesmente, improvável. Darcy estava no balcão da cozinha, inventando que estava arrumando algo, enquanto Henry não parava de encarar ele, mesmo com a TV a sua frente ligada. Depois de alguns minutos de silêncio, Henry resolveu se aproximar de Darcy, mesmo estranhando sentir que não era uma boa ideia.

- Então, Liz nunca comentou como conhece o Sr., Sr. Darcy – Henry sentou em uma das cadeiras do balcão e o encarou.

- Hm... – Liz, quem esse cara pensa que é? – Eu conheci, há um bom tempo, sua família, através de amigos em comum, e assim, depois, nos apresentaram – Darcy pensava que não era tão mentira assim o que havia dito, mas, achou interessante o fato de Lizzy não ter contado nada sobre a história dos dois para o namoradozinho dela.

- Ah, que interessante. Você também mora na mesma cidade que a família dela? – Henry queria descobrir tudo que podia sobre Darcy, pois, sentia que havia algum segredo ali, e não gostava daquela sensação.

- Não não, vivo em Londres com minha irmã. Já morei aqui, nesta casa, quando estudei em Harvard, que nem Elizabeth faz agora

- Ah, estudou em Harvard? Cursou o quê?

- Bom, eu fiz doutorado na Harvard Business School, meus pais queriam que eu me aprofundasse em cursos sobre Administração, Marketing e Economia... E depois disso, resolvi fazer doutorado aqui. Você estuda aqui também? – Darcy demonstrou um pouco de sua superioridade intencionalmente, mas, sem saber muito bem a razão daquela atitude.

- Sim, faço Direito na Harvard Law School, estou terminando o terceiro ano

- Ah, mas, então onde conheceu Elizabeth? Até onde eu sei, ela faz algo relacionado a Literatura, não?

- Eu a conheci na época que ela trabalhava na Biblioteca

Darcy balançou a cabeça de modo afirmativo, com o que Henry dissera, mas, depois disso, o assunto morreu. Ele queria dizer algo para Henry, demonstrar que não estava certo aquele namoro dos dois, pois, sentia que Henry não era o cara certo para ela. Mas, Darcy tinha certeza que Lizzy o odiaria se falasse qualquer coisa que fosse, pois, se nem ela teve coragem de mencionar para o garoto, sobre o que eles tiveram, Darcy não deveria falar também.

- Eu sei que vai soar estranho, mas, queria agradecer ao senhor por abaixar o valor do aluguel para que a Liz pudesse vir para cá, foi algo muito generoso de sua parte – Henry tinha pensado pelo lado bom daquele cara. Se não fosse por ele, Henry nunca teria conhecido Elizabeth.

- Ah, ela disse isso a você? – Darcy sorriu, imaginando que poderia usar essa informação a seu favor mais tarde. Era uma pena deixar aquele garoto imaginar que algum dia ele iria aceitar dinheiro de Lizzy, por qualquer questão que fosse. Ela só morava ali de graça, pois, Darcy a amava, e queria que ela ficasse num local seguro, e que lembrasse ela dele....

- Sim, ela comentou

- Bom, conheço a capacidade da Srta. Bennet, sei que seria uma perda para Harvard se ela não estivesse novamente aqui... Não foi nada, na verdade

Ao terminar de dizer isso, Darcy virou seu rosto e encontrou Lizzy na escada, encarando-o. Seus olhares se cruzaram rapidamente, antes que Henry percebesse que ela estava ali. Ele sorriu para ela antes mesmo de pensar se deveria.