Yorochi: Caçar Aves

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Os pássaros que habitam os becos e vielas da cidadela iniciam um desmarcado segmento migratório para o sul do país, aparentemente inicia a chegada de uma nova estação do ano. 

Os ventos se tornam mais fortes e as folhas secas despencam na árvore dançando sobre o ar até bastar na grama. Mesmo com o clima ameno, Edgar sua enquanto dorme em seu leito.

 Até que um leve contato em seu ombro faz o príncipe despertar violentamente, segurando o punho de quem o toca e fincando sua mão bruta no pescoço do mesmo.

— Irmão... — Shaw tenta falar com o ar que lhe restara. Dando o tempo de Edgar regressar a si e desenganchar a criança.

— Shaw, me desculpe. — Edgar põe as mãos na face, limpando o suor que pinga em seus lençóis. — O que veio fazer aqui?

— Desculpa irmão. É que as folhas secas estão caindo, ia te chamar para caçar pássaros. — Shaw toca em sua garganta machucada.

— Colocarei somente uma roupa. — Edgar evita olhá-lo descaradamente, envergonhado pelo ato.

Fora do reino os irmãos caminham pelas planícies até chegarem a subida da montanha, Shawn empunha seu arco, e uma bolsa com flechas. Itens dados de presente pelo seu pai. 

Eles começam a elevar aquele terreno descaído a procura de um latíbulo aprazente para que possam repousar e perseguir alguns pássaros, uma prática demasiado utilizada para abespinhar os habitantes do poderio Halk.

Eles sobem o máximo que podem para não invadir as terras do inimigo, chegando a uma superfície rente em algum ponto do relevo. Ambos sentam nos fragmentos de rocha. A respiração ofegante e os enormes pingos de suor que caem de seus rostos expelem toda a justificação sobre a fadiga advertida pelo corpo:

— Shaw! — Edgar dá um intervalo para respirar. — Aqui! — Mais uma pausa. — É primoroso né?

— Tinha que ser tão alto? — Responde Shawn quase morrendo por falta de ar.

— Toma. — Edgar dá um cantil para ele. — Bebe.

— Obri... Obrigado. — A criança começa a ingerir descontroladamente. — Nossa, me sinto outra pessoa.

— Valeu por acabar com meu cantil. — Edgar dá uma bofetada leve na nuca de seu irmão.

— Na verdade, não deveríamos permanecer quietos?

— Para acossar pássaros? Esses habitantes das montanhas tão aqui por milênios. Por algum motivo ou porventura através do insólito afeto às aves, elas não possuem fobia dos seres humanos quando estão aqui nas serras. Por isso é mais fácil de matar. — Edgar olha ao seu redor e num rochedo remoto avista algo que faz seu corpo explodir de excitação. — Hoje é teu dia de sorte maninho. Uma águia jovem lá na pedra. — Edgar aponta para a direção da ave.

Shawn fica muito jubiloso, mas mantém a calma e a paciência, ensinadas pelo seu pai, para que jamais deixe a sua oportunidade evadir. Aos poucos se ajoelha e suavemente pega uma flecha envenenada. 

A esticou pressionando os seus dedos de maneira estável sobre a madeira. Em seguida deixou com que sua respiração diminuísse congênere o tempo, para que o balázio fosse certeiro. Em sua posição perfeita para caça, respirou fundo uma última vez, então soltou.

A potência do arco e flecha feito pelos armeiros da família Yorochi é absurdamente gritante, e a rapidez que o projétil sai do alicerce demonstra isso. Todavia, ele acerta algo que não deveria gerar o fragor de um animal prestes a perecer. 

Um objeto fino e metálico sai da escureza ligada a um homem, que com sua arma ricocheteia a flecha do moçoilo enquanto a águia confiante continua a mexer em suas penas com o bico.

— Deviam saber que aqui nas montanhas é proibida a caça de pássaros, ainda mais as aves de rapina. — Um homem nasce na escuridão das árvores.

— Irmão... — As palavras de Shaw ressoam o temor. — ... Aquele não é...

— Imperador David Halk. — Edgar recita com prazer. — Mudança de planos irmãozinho, julgo que pegamos uma ave bem superior. — O jovem bota a mão na cinta onde embainha a espada.

— Agradeço o encômio, mas para um príncipe sua sentença mostrou-se demasiado contraditória. — David aponta a arma para seu oponente. — Aquilo que nasce livre jamais pode ser pego.

— Vamos embora irmão. — Shaw treme. — Por favor!

— Não se preocupe moçoilo, não tenho a intenção de matá-los, no entanto, não permitirei que tirem a existência deste garboso animal. — David vendo o pânico do menino mais novo percebe a falta de perigo e começa a ascender a montanha.

— David. — interrompe Edgar. — Você se lembra do que fizemos naquele dia?

— Tenha fé que terminaremos num horizonte não muito longínquo — O líder Halk o dá uma última olhada — Meu velho e amado amigo.

Shaw, puxando com todas as forças consegue ir movendo aos poucos seu irmão pelas descidas da montanha. Edgar com o pouco do seu orgulho ferido se vira pegando o arco do garoto, mas se espanta posto que percebe a águia de armadura de prata que sai do abismo apanhando a ave desprotegida em suas mãos.

Seus olhares se cruzam e a agressividade do protetor de David salta a íris, portanto, o príncipe acha melhor desandar o mais vertiginoso exequível.

David vendo seu subalterno imóvel, questiona:

— O que tanto observa Silver?

— Aquele rapaz, ele ainda possui medo em seus olhos.

— Edgar? Sim, lamentavelmente tem muito a crescer, não quero um rival que tenha fobia de morrer. Vamos.

Desafiantes - A queda AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora