Halk: Dentes de leão

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— No exórdio eu lhe peguei para amestrar a herdar mais inteligência na guerra. Aos poucos fui me apegando ao seu caráter ingênuo. Eu via a sua valentia, força, determinação de existir, que qualquer distinto militar possuía, todavia, o medo percorria por completo seu torso, toda ocasião que tinha de pegar uma espada. Seu lugar nunca foi ali.

— Não podemos modificar o passado meu velho.

— Eu lhe disse que na minha juventude, lutamos pela casta Halk?

— Isso é uma piada? — Silver ironiza o fato.

— Quando era mais novo, a linhagem da mulher que eu amava disse que não aceitava não-guerreiros em sua casa. Eu era escriba, mas por ela, segurei uma espada e escudo. Desgraçadamente não era tão matraqueado quanto atualmente e fiz isso precisamente numa época em que os Halk estavam entrando em conflitos constantes. Acabei tendo que ir para o prado de batalha antes mesmo de poder rogar a mão dela novamente em casamento. Fiz o máximo para desviar das lanças e dos confrontos, fugi até a selva para me dissimular, no entanto, acabei sendo descoberto por um beligerante das planícies. Lutamos. Sempre que nossas espadas se cruzavam eu não sabia se o que fazia a minha tremelear. A força ou meu medo, por fim, ambos cansados o meu competidor tropeçou e minha lâmina atravessou seu pescoço. Mesmo aliviado, nunca me senti tão mal por te tirado uma vida. Quando voltamos da batalha, não tive pujança de me matrimoniar mais com ela, preferi limpar minha alma nesse templo.

— Então você lutou para nada. — Silver começa a rir.

— Seu inepto — Maerzo também ri. — O que quero aconselhar que você não deve se sentir preso aquilo que consideram o seu destino. Jamais se arrependa dos seus atos, para que não se torne um idoso maluco que fica dando conselhos. No fim das contas... cuidei de ti como se fosse o meu... — Em um instante repentino uma pequena faca perfura o coração. O sangue se funde ao tecido vermelho enquanto mancha a seda dourada, Silver em estado de choque, só pode mirar seu mestre. Quando o senhor não se aguenta mais assentado o seu pupilo o segura antes que batesse de bestunto na grama.

— MAERZO! — O brado da águia balança os dentes de leão suspende seus poros.

— Meu... Meu... Meu filho. — O Sábio não consegue declamar mais palavras. A sua aflição o faz falecer de boca aberta.

Silver começa a chorar descontroladamente sobre o corpo de seu mestre. O desejo de descobrir quem disparou a faca não supera a condolências da perda de seu velho amigo. 

Aos prantos ele coloca o sábio em seu colo e o carrega de regresso para o templo, lutando contra suas pernas bambas, ele chega a tropicar e se ajoelhar na presença do jardim, mas não deixa o corpo cair. Ele só tem que conduzir o seu mestre até lá, o ambiente que viveu por anos.

Desafiantes - A queda AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora