3. No Sense

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nyc, nova york.
10 de junho de 2019.

a n g e l i n a p r i c e

— E então, o que você quer comer hoje? - Os olhos da pequena brilharam.

Eu estava de volta à cobertura, dessa vez já com Elizabeth. Amber passou quase uma hora me mostrando os milhões de cômodos que aquele lugar tinha e me dando diversas instruções sobre como lidar com sua filha. Eu poderia jurar que era a pior criança do mundo seguindo a descrição de Amber, mas quando a loirinha saiu de seu quarto e veio me conhecer, pude ver o quão adorável ela é.

— Mamãe não me deixa escolher. Ela sempre me dá um monte de coisa sem gosto. - Ela pareceu desanimada.

— A mamãe não está aqui, você vai comer o que você quiser. - Sussurrei sorrindo e ela riu, animada.

— Panquecas com muito mel e morango!

— Então será panquecas com muito mel e morango, Liz. - Ela havia me contado que gostava de ser chamada assim. Comecei a preparar seu café da manhã e então ouvi passos firmes pela cozinha, que só podiam ser de uma pessoa.

— Papai! - Ouvi a menina gritar eufórica e quando me virei, ela o abraçava.

— Bom dia, amor. - Ele abriu um pequeno sorriso e então a soltou, olhando para mim.

Deixei a frigideira cair.

— Merda. - Sussurrei. — Desculpe.

Me ajoelhei para pegá-la e então levantei novamente, ainda tensa.

— Não sabia que estava sendo paga para cozinhar, se é que sabe fazer isso. - Ele soou um tanto quanto grosseiro.

Era como se ser mal-educado fosse um pré-requisito para morar nesse prédio.

— Angelina me contou que trabalhava em uma cafeteria, papai. Ela sabe fazer café da manhã. - A inocência dela felizmente amenizou um pouco a tensão, no entanto, não foi o suficiente para me tranquilizar por completo.

Por que ele havia falado comigo daquele jeito?

— Marilyn ainda não chegou. Se quiser que eu prepare algo... - E então me interrompeu.

— Estou de saída. Tenha um bom dia. - Ele beijou a testa de Liza e então deixou a cozinha.

— Acho que ele ficou com inveja porque não sabe cozinhar. - Ela sussurrou e aquilo me fez rir, mas não consegui esquecer o que havia acontecido.

Ele realmente não lembrava de mim? Eu sabia que minha máscara cobria a maior parte de meu rosto e ele estava um tanto quanto bêbado, além das luzes fortes da boate, mas... Ah, droga. É claro que ele não lembrava.

— Tudo bem, vamos preparar a sua comida, tá bem?

Enquanto eu separava os ingredientes necessários, novamente ouvi passos pela casa, que pareciam ser de duas pessoas. Logo Marilyn surgiu com um sorriso, junto à outra mulher, que aparentava ter seus cinquenta anos.

— Elizabeth, meu raio de sol. - Marilyn abraçou a pequena e eu tive a impressão de que ela gostava mais da criança do que sua mãe.

— Prazer, sou Lucy. - E então a outra mulher me deu um abraço que retribuí. - Angelina, não é? Mary me falou sobre você.

— Prazer, por favor, me chame de Angel. Não sei onde minha mãe estava com a cabeça quando me deu esse nome. - Eu ri e logo as duas riram também. Cumprimentei Marilyn e então voltei minha concentração para o fogão.

Minha mãe escolheu esse nome justamente pela palavra "Angel" nele, assim como "Evangeline", que é o seu nome. No entanto, todos a chamam de Eva, que soa bem melhor.

Ouvia as duas mulheres jogarem conversa fora enquanto limpavam a casa. Me ofereceram ajuda para o café mas insisti em preparar. Assim que tudo estava pronto, coloquei o prato à frente de Liz, servindo-a com uma panqueca que fiz questão de colocar a quantidade de mel que ela quisesse, junto à alguns morangos.

— Por favor, deixe que eu limpo. - Lucy se referia as louças sujas na pia e eu assenti gentilmente.

— Ele é um gostoso, né? - Marilyn sussurrou, mesmo que Liz não fosse capaz de ouvir.

Eu engasguei.

— Como? - Perguntei incrédula.

— Ah, menina, o patrão. Que pedaço de mau caminho.

Arregalei os olhos sem saber o que dizer.

— Ah, se eu ainda tivesse a sua idade. - E quem sussurrou foi Lucy. — Pois eu laçava aquele gostos...

— Está faltando louça para lavar? - A voz de Amber ecoou pela casa e logo ela surgiu em nossa frente. Igual a um demônio invocado.

Por sorte, ela não ouviu nossa inocente conversa sobre seu marido.

— Perdão, senhora. - Marilyn disse séria e então voltou ao serviço, fazendo uma careta para mim antes de sair. Ri disfarçadamente e então olhei para Amber.

— Bom dia, a senhora quer que eu prepare al... - Imediatamente, fui interrompida.

— Por que você está comendo esse monte de porcarias? - Sua voz histérica se dirigia à Liz, que terminava de comer suas panquecas com mel. Eu gelei.

— Mamãe...

— Não, Elizabeth. Você já está gorda o suficiente, não acha? - Ela segurava as grandes bochechas da pequena com uma expressão de desaprovação. Rapidamente colocou o prato na pia e olhou para mim. Eu não podia acreditar.

— Por favor, senhora Powell, não brigue com ela. Fui eu que insisti para que ela comesse as panquecas. A culpa não foi dela.

— Não me interessa. Ela sabe que não deve comer essas coisas e eu espero não ter que lidar com isso a partir de hoje, entendeu? - Ela me olhava fixamente e apenas assenti, xingando-a por dentro.

Observei a loira deixar a cozinha subir as escadas que davam acesso ao segundo andar. Não demorou muito até que ela descesse novamente.

— Voltei apenas para pegar minha bolsa. Devo chegar no fim da tarde. - Ela se aproximou de sua filha e beijou sua testa. — Sabe que eu te amo, não é?

E então saiu, deixando a pequena ainda com um semblante triste e envergonhado.

Isso vai ser mais difícil do que eu pensei.





postei dois capítulos para compensar a demora que levei para postar o capítulo 2 haha
tô morrendo de vontade de dar um spoiler mas preciso resistir, então só vou falar que: esperem muita coisa da amber, muuuita coisa

até a próxima ;))

AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora