Vulnerável

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     — Eu tô muito vidrado nela, sério. — Patty diz terminando uma garrafa e quase gritando sua confissão.

     — Shh, o mundo não precisa saber. — Sorrio abrindo a terceira garrafa. — Mas cara, você tem que falar pra ela, vai que ela te chama pra casa dela e… — Simulo um boquete e ele ri.

     — Não sei, não acho que ela queira ficar comigo. — Ele diz sem tirar o sorriso do rosto, mas percebo sua infelicidade. — Mas você tem dicas, né? Deve pegar geral, você tem uma banda.

     — É, devemos ter uns cinco fãs. — Rio. — Mas quando eu estiver sóbrio, vou te dar umas dicas decentes. 

   Me levanto e vou até a caixa de som, ligando por bluetooth no meu celular e colocando uma música agitada que sequer sei o nome. Patty não perde tempo e se levanta fazendo passos estranhos, parecendo uma girafa com coceira. Rio e tento dançar igual, fazendo com que nós dois ríssemos. 

    Dançamos com música alta e bebemos mais uma ou duas garrafas, Gerard sequer apareceu pra dizer qualquer coisa. Patty disse que iriam pedir por pizzas hoje e então provavelmente seu pai já havia o pedido.

    — Eu gosto de pizza, mas tenho que admitir que a comida do Gerard é maravilhosa — Digo com a voz embargada comendo a pizza enquanto olho pro teto.

    

     — É verdade, e aliás, desde quando trocou “sr. Way” por Gerard? Do dia pra noite. — Ele pergunta no mesmo estado que eu e rio fraco.

    — Desde que percebi que ele não é tão velho pra esse tipo de tratamento. Ele é jovem, bonito, ele até cozinha bem. — Digo e Patrick me olha com uma sobrancelha arqueada. — E então, ele está disponível? — Pergunto em tom de brincadeira, mas já querendo saber de qualquer pretendente.

     — Credo, Frank. Não diz isso nem de brincadeira, imagina que péssimo meu melhor amigo e...  uh, nunca. — Ele balança a cabeça negativamente e ainda sorrio, mas não foi algo que eu quis escutar. — Vamos voltar a dançar, tava divertido. 

      Voltamos a dançar e consequentemente beber, resultando nos dois deitados no chão e as garrafas espalhadas pelo quarto com a música baixa. Meu cochilo dura poucos minutos, logo eu acordo ainda bêbado pra caramba e desligo a música. Patrick dorme babando no chão e puxo ele para a sua cama, pegando as garrafas e juntando embaixo da cama, cambaleio arrumando tudo e apago a luz indo ao banheiro.

     Uso o banheiro e escuto uma melodia um tanto conhecida por mim, uma canção do Toxic Dopamine. Paro raciocinando e me apoio nas paredes indo até as escadas e descendo, seguindo o som. A casa completamente apagada e apenas o abajur da sala de estar ligado.

     Noto Gerard sentado no sofá com uma taça de vinho na mão, “Love Demon” em seu rádio vintage. Me aproximo tentando ser silencioso e quase caio entrando no cômodo, o que chama a atenção dele. 

    — Frankie? — Me ajeito e tento caminhar com postura, me sentando ao seu lado. 

   — Love Demon? — Viro meu rosto pra ele e olho pra taça na sua mão e a garrafa na mesa de centro. — Toxic Dopamine? 

    — É, as vezes eu pego pra escutar no quarto do Patty. — Ele sorri tímido. — Achei perto de uma caixinha escrita “Meu melhor amigo”, deve ser alguma banda que você gosta né?

    — Na verdade eu toco e canto nessa banda. — Digo sem jeito e ele fica boquiaberto. — Mas não é grande coisa, de qualquer jeito.

    — É sim, parabéns, eu sabia que conhecia essa voz. — Ele diz animado e continuo observando sua taça, provavelmente brisando no líquido. 

   — Está bebendo vinho, por que tá bebendo vinho no escuro escutando uma música depressiva sobre amor? Você tá apaixonado e não é correspondido também? — Pergunto com as palavras arrastadas e ele sorri fraco.

   — Não, não tem nada a ver com isso. — Ele diz e deixa a taça na pequena mesa. — São só… problemas, não se preocupe.

   Seus olhos brilham mesmo que no quase escuro, consigo ver seus olhos marejarem e meu coração se parte ao ver. Gerard desvia o olhar de mim e pega a taça de volta bebendo-a com pressa, logo afasta novamente e me olha.

    — Eu acho que sou um péssimo pai. — Sua voz levemente embargada entrega sua vontade de chorar. — E-eu devo ter errado em alguma coisa e não sei o que foi.

    — Você é perfeito. — Digo me indignando com suas palavras, ele me olha, suas lágrimas molhando sua bochecha. — Em tudo, e como pai você não poderia ser melhor, nem todo mundo tem um pai que o ame, que faça de tudo pelo filho, que cozinhe pra ele, que leve ele pra escola e que se preocupe todo dia. — Gerard me fita atento. — Você é perfeito.

      Uma coragem repentina toma conta de mim e eu me inclino aproximando meu rosto do seu, ele se afasta um pouco sem tirar os olhos dos meus mas para, e eu continuo, encostando meus lábios nos seus.

     Fecho os olhos tentando aprofundar nosso beijo e quando me apoio no sofá ele se levanta com rapidez e me olha assustado, eu engulo seco e pisco algumas vezes. 

      — Desculpa, e-eu não quis… Foi um erro. — Ele diz limpando as lágrimas e pegando a taça com a garrafa e saindo da sala.

      Ok, isso sim foi passar dos limites. Gerard estava vulnerável e eu me aproveitei disso. Droga, droga, droga. Como eu vou reagir perto dele agora? Será que ele me odeia ou algo do tipo? Eu deveria ir embora agora? Acho que o Patty perguntaria sobre eu ter saído no meio da noite e eu provavelmente contaria e deixaria ele nervoso. 

    Resolvo só voltar para o quarto e fingir que nada aconteceu. Minha cabeça explodindo de felicidade, eu beijei Gerard? Meus lábios nos lábios dele, foi mágico. 

   Sorrio me lembrando, certo que não foi lá um beijão mas, porra, eu acho que ainda tô muito bêbado por estar tão feliz. Ele recuou mas não resistiu, será que ele também estava bêbado ou queria me beijar? Eu me sinto nas nuvens, eu preciso beijar ele de novo.

    

                    ...

  Acordo com Patty me chacoalhando e dizendo algo sobre ensinar a tocar, resmungo e volto a me cobrir, mas instantâneamente me recordo da noite passada. Felizmente sem ressaca, mas com as lembranças claras.

    — Já dormiu demais, acorda Frank! — Ele puxa minha perna me arrastando do colchão.

   — Me deixa em paz, eu quero dormir. — Reclamo e ele para, meu sono desaparece.

     Me sento na cama e esfrego meu rosto, emburrado, ele sorri e suspiro. Agora eu vou ter que descer e ver Gerard, como eu vou agir depois daquilo?

Handsome Father - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora