Garrancho bonito

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    Quebrado. Arrependido. Encrencado. 

    Ontem eu bebi demais e ainda levei Patty junto, o que resultou em uma noite de merda. Agora eu vou ter que abrir os olhos e levantar, não sei pelo o que esperar.

    Levanto e encontro um bilhete com uma garrafinha d’água e dois comprimidos. Eu bebo e leio o bilhete.

   

      "Precisamos conversar, desça assim que acordar e tome os remédios.    G"

     Caralho, que letra mais linda. Será que se eu guardar ele vai ficar bravo? Ah é, descer.

    Desço me sentindo meio tonto e enjoado e paro no meio da escada, o que será que Gerard vai conversar comigo? Volto a caminhar até a cozinha e encontro os dois, Patty sentado observando a bancada e seu pai encostado em um dos armários de braços cruzados.

    — Bom dia? — Minha saudação sai mais como uma pergunta e os dois me olham com cara de funeral.

    — Só se for pra você, Frank. — Patty sussurra e me aproximo mais me sentando em outra cadeira.

    — Agora que os dois estão aqui, quero saber o que aconteceu ontem. — Gerard pergunta, uma expressão nunca vista antes por mim.

    — Não foi nada demais. — Meu amigo responde, seus ombros encolhidos enquanto ele olha diretamente para o chão.

    — Então você me pede pra dormir na casa do Frank, o Frank afirma que seus pais estão de acordo, você sai de casa e volta as duas e meia da manhã carregado pelo seu amigo não muito melhor que você. — Seu tom de voz se eleva e a cada palavra dita me sinto mais culpado. — Agora me responde uma coisa, eu por acaso tenho cara de palhaço?

     Acho que nunca vi Gerard desse jeito antes, sua expressão angelical desapareceu completamente, ele tá muito bravo. Eu não deveria ter mentido, eu não deveria ter feito a identidade para o Patty também.

      — Eu chamei o Patty pra ir beber comigo, fiz identidades falsas e não cuidei nem de mim e muito menos dele. — Digo de cabeça baixa, não consigo olhar em seus olhos.

     A ressaca me ajuda a esclarecer as coisas e me livrar de mais qualquer mentira que possa ser dita, vou tentar não mentir por um bom tempo.

   — Quero que saibam que o que fizeram não foi legal, pois eu confiei em vocês dois e me desapontaram. Por esse motivo, você, mocinho. — Ele se dirige ao Patty. — Está de castigo sem jogos ou sair por um mês, e sem visitas do Frank também. Vocês deveriam estar na escola, mas graças a terem tido a ideia de me enganar, não estão nela.— Ele me olha. — Alguma objeção?

     — Justo. — Patty suspira arrependido.

    — Eu devo desculpas aos dois, já que isso não teria acontecido se eu não tivesse agido dessa maneira. — Digo arrependido.

    — Ninguém é perfeito, Frank. — Gerard suspira e olha para nós dois. — Espero que aprendam a lição porque eu gosto da amizade de vocês, tudo bem? — Nós dois assentimos. — Agora me passem as identidades falsas e Frank, me dê o número da sua mãe.

     — M-mas…-

     — Mas nada, ela precisa saber o que aconteceu. — Ele diz sério e suspiro pegando meu celular e colocando no contato dela.

     Então ele liga pra minha mãe dizendo o que aconteceu e subo com Patty, não vou mais poder visitar ele e nem ele a mim, ótimo. Gerard é um pai responsável, as vezes isso é um pouco ruim para os meus planos, mas não vou reclamar, ele se importa.

     Logo a minha mãe me liga me falando mil coisas e me fazendo me sentir mais culpado ainda, porra, eu sou quase um adulto, pra que tudo isso?

    Gerard me deixa em casa e escuto mais da minha mãe, ela chora me dizendo sobre como o álcool acabou com o meu pai e com a nossa família, tudo isso é verdade. Meu pai beber não me incentivou, na verdade eu odeio o álcool, eu odeio o jeito que ele manipula nosso corpo e nos faz querer desfrutar dele.

    A verdade é que às vezes as coisas pesam um pouco demais e eu só quero desaparecer, ou só quero me sentir bêbado e esquecer o que pode ou não acontecer. As vezes eu só quero ter coragem e ter o controle de tudo, fazer o que me der na telha e não ficar me lamentando por isso.

      — Desculpa, mãe. — Eu digo me sentindo cansado, não quero fazer mais nada por hoje. — Eu posso ir pro quarto?

      — Pode sim Frank, mas saiba que eu estou muito triste com você. — Ela diz balançando a cabeça em negação e vai para a cozinha.

     Suspiro e subo, me deito e recebo uma nova mensagem. Abro esperando que seja pelo menos uma boa notícia e é Ray.

    “O cara da gravadora disse que precisa falar a sós com você, o Dan, sabe?”

      Parece que não é só a vida que quer me foder, que legal.

     Desligo o celular e enfio a cara no travesseiro, quem sabe eu acorde e esteja no país das maravilhas fumando com Absolem e tomando um chá eterno com o Chapeleiro e a lebre. Morrer também seria bom.

     Fecho os olhos e durmo.

        ...

       Bela terça-feira, minha mãe diz que hoje não vai ter ensaio pra mim, ótimo. Não posso fazer nada e ainda vou ter que ficar em casa pelo resto da minha juventude, por que eu faço coisas tão idiotas mesmo?

      Vou pra escola a pé, do jeito que a minha vida anda até a minha bike pode sofrer com isso, melhor prevenir. Não vejo Patty e seu pai, sigo pra dentro da escola e passo as aulas com tédio, não consigo prestar atenção em droga nenhuma, nem os peitos da professora de história ganham a minha atenção.

      O intervalo chega, Patty me encontra próximo a sala de artes e parece ofegante, ele correu até aqui?

     — Frank, por que está se escondendo? — Ele se senta ao meu lado. 

      — Não estou me escondendo. — Respondo e volta a olhar a rachadura na parede. — E então, como vai o seu castigo?

     — Bom, na verdade ontem a noite um amigo do meu pai convenceu ele a me deixar jogar e sair, mesmo sendo só para passear com o cachorro. — Ele diz e levo a minha atenção a ele.

     — Um cara? 

     — Sim, ele é muito legal. — Patty encosta na parede sorrindo. — Meu pai e eu adoramos sua piadas ruins, aliás, acho que ele vai lá em casa hoje de noite.

     — E se eu dissesse que fui buscar uma coisa na sua casa e talvez enrolasse um pouco? — Digo e ele arqueia a sobrancelha. — Em casa tá um tédio. — Digo e ele volta a sorrir.

    — Você é um gênio, Frank!

      

Handsome Father - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora